A propósito
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A propósito

Você sabe o que veio fazer neste mundo? Que bom, pois eu não.

Estevão Barros
4 min
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Qual é o propósito disso tudo? Existe um propósito nisso tudo?

Se a resposta for sim, então onde ele está? Por que não conseguimos vê-lo claramente? O que nos impede de enxergar esse propósito? 

Se a resposta for não, então por que estamos aqui? Por que fazemos o que fazemos? Por que passamos pelo que passamos, se no final tudo será em vão?

Sei que muitos tentaram responder essas perguntas. Delas, originaram-se grandes músicas, filmes, livros e outras diversas grandes obras, mas hoje eu faço essas perguntas não com o intuito de escrever um texto memorável, faço essas perguntas com o simples intuito de encontrar uma razão para continuar vivendo.

Seja na completa falta de propósito ou em sua total abundância, busco apenas saber pra onde dar o próximo passo, ou se é que devo dá-lo. “Hoje tenho mais perguntas do que respostas. É por isso que vim tão longe: para achar clareza. Para achar a sabedoria (...), para que eu possa melhor entender o propósito de nossa luta” (Ezio Auditore, Assassin’s Creed Revelations, 2008).

Esse é um dos melhores jogos que já joguei, ele sempre me cativou desde o seu lançamento até o presente momento em que escrevo esse texto e nunca soube explicar direito o porquê. Para além da sua jogabilidade, gráficos e história, percebo que o que sempre me cativou foi a motivação e a busca do personagem Ezio Auditore, que após anos de batalhas e guerras, se via sem rumo, sem propósito. 

Ezio então, decide ir até o castelo de Masyaf, antigo lar dos assassinos na história do jogo, onde ele espera encontrar uma biblioteca que continha a sabedoria de Altair Ibn-La’Ahad, antigo grão mestre dos assassinos. É com esse pano de fundo que a história do jogo se desenrola e acompanhamos Auditore na sua última aventura como assassino.

Não sou um assassino e espero que minha jornada ainda esteja longe do fim, mas compartilho dessa mesma busca de Ezio. Infelizmente, não posso sair de casa rumo a um castelo no meio da Síria, enfrentar templários e ajudar um príncipe Otomano a acabar com a corrupção de seu império, simplesmente para descobrir o meu propósito e se é que ele existe. Porém, eu ainda preciso descobrir, mas como fazer isso? E melhor, como fazer isso no meio da rotina cotidiana?

Hoje estou longe de ter a resposta para essa pergunta e a cada segundo parece que fico mais distante, enquanto vou sendo empurrado pela vida. Problemas que antes eram simples se tornaram difíceis, os difíceis se tornaram impossíveis e cada vez mais me vejo afundando em um mar de incertezas e dúvidas que inundam a minha mente.

Há alguns meses em uma gincana das reuniões motivacionais do trabalho, cujo objetivo era escrever o que você gostaria de realizar até o final do ano, escrevi tomado pela raiva “calçar o meu sapato 37”, em uma alusão a música Sapato 36 de Raul Seixas. A música de maneira metafórica, fala sobre liberdade, o que não poderia ser diferente, já que foi composta em 1977, no auge da Ditadura Militar no Brasil e era mais uma entre tantas outras canções que criticavam o regime ditatorial brasileiro.

Quarenta e quatro anos depois, eu estou aqui ansiando pela mesma liberdade, mas não de um governo, mas sim de mim mesmo e das minhas inúmeras falhas. Ao mesmo tempo busco liberdade dos outros, já que venho tendo a sensação de que nunca vivi minha vida. Não digo isso no sentido de curtir e aproveitar, mas sim no de que sempre deixei a vida e as pessoas me levarem e nunca tive a coragem de enfrentá-las. Agora, me paralisado no caminho, sem forças para me mexer, pois nunca fui capaz disso, covarde demais até mesmo para errar.  

Ao ler isso, não quero que você sinta pena de mim, não sou digno de sua preocupação muito menos do seu lamento e se estou aqui hoje foi porque eu escolhi, ou fui conivente com toda situação. Isso não é um pedido de socorro, é apenas um desabafo de um jovem em dos seus dias mais melancólicos.

Não escrevi essas palavras para fazer disso um texto memorável, escrevi porque é o que sei fazer, escrevi porque não sei falar. Se alguém perguntar se estou bem, mostrarei esse texto e deixá-la decidir, quem sabe ela não tenha a resposta que procuro?

Vivi minha vida da melhor maneira que pude, sem saber seu propósito, mas atraída para a frente como uma mariposa para uma lua distante. E aqui, finalmente, descubro uma estranha verdade. Que sou apenas um canal para uma mensagem que foge ao meu entendimento. Talvez você responda a todas as perguntas que fiz. Talvez você faça todo esse sofrimento valer a pena no final

Podia encerrar com Sapato 36, mas a essa música a música é muito animada e como você pôde ler, animo é o que me falta. Mas, prometo que essa é boa.