Meridiano de Sangue, Cormac McCarthy
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Meridiano de Sangue, Cormac McCarthy

Não espere de Meridiano de Sangue um livro fácil. Mastigado. Bonito. Dinâmico. Se a sua predileção por leitura demanda a existência destas características, sugiro de antemão que não o leia. Mas se quiser se desafiar, este é o momento.

Fábio José Oliveira de Souza
2 min
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Não espere de Meridiano de Sangue um livro fácil. Mastigado. Bonito. Dinâmico. Se a sua predileção por leitura demanda a existência destas características, sugiro de antemão que não o leia. Mas se quiser se desafiar, este é o momento.

O roteiro. Ambientado no sudoeste dos Estados Unidos nos anos 1840, um rapaz sem nome, conhecido apenas como “kid”, é recrutado por um grupo paramilitar a serviço de governantes locais (mexicanos e americanos). O objetivo: assassinar índios (apaches na sua maioria), para, em seguida, retira-lhes os escalpos (que serão vendidos às mesmas autoridades). Os mercenários são liderados pelo sanguinário capitão John Joel Glanton e pelo sobrenatural Juiz Holden (um dos personagens mais incríveis da literatura contemporânea) que, sedentos por sangue e dinheiro, passam a matar e escalpelar quaisquer pessoas (incluindo crianças).

A prosa. Quem ainda não leu Cormac talvez estranhe a escrita direta. Vírgulas quase não são utilizadas. Diálogos são introduzidos e retirados sem que sejam precedidos de travessão e sem a indicação do interlocutor. Paisagens e cenas de violência são descritas minuciosamente a ponto de palavras parecerem imagens em três dimensões. Sangue é jorrado ao longo de 341 páginas. Os personagens estão em constante movimento, ora cavalgando, ora marchando, ora matando, ora morrendo. Você é apenas um passivo e indiferente expectador deste brutal cenário.

Um clássico. Clássicos são atemporais e inesgotáveis. Cada leitura te propicia uma reflexão. Meridiano é genial porque, a partir de um episódio histórico (o expansionismo americano ao oeste) e de personagens reais (Glanton, Holden e o bando realmente existiram), propõe uma reflexão sobre o papel da violência na construção humana. Sua inevitável necessidade. Sua implacável indiferença. Sua caótica onipotência e onipresença. Sua mítica presença.

Recomendo vivamente.