HAUSSMANN. O HOMEM QUE TRANSFORMOU PARIS E O URBANISMO.
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HAUSSMANN. O HOMEM QUE TRANSFORMOU PARIS E O URBANISMO.

Em uma cidade de traçado medieval, que constantemente sofria com doenças que dificilmente conseguia controlar, rebeliões e distúrbios sociais que a polícia tinha igual dificuldade de combater, eram realidades na velha Paris. Atualmente, senta...

Amilton J. Silva 05/11/2022
5 min
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Em uma cidade de traçado medieval, que constantemente sofria com doenças que dificilmente conseguia controlar, rebeliões e distúrbios sociais que a polícia tinha igual dificuldade de combater, eram realidades na velha Paris. Atualmente, sentar-se nas mesas dos cafés, visitar museus e galerias ou transitar pelas ruas mais estreitas, nem imaginamos que no século XIX, aqueles lugares fediam e era considerada como algo hostil, por isso o imperador Napoleão III nomeou em 1853, o chefe de departamento da cidade, George-Eugène Haussmann para fazer uma transformação na cidade.

Haussmann não tinha nenhum estudo ou conhecimento em urbanismo, ou arquitetura. Ele era apenas um administrador e mesmo assim, fez da cidade um enorme canteiro de obras por quase 20 anos. Em 1870, foi obrigado a deixar o cargo devido à cobrança pelo aumento dos gastos públicos que o imperador sofria por parte dos seus súditos e políticos, seu projeto continuou sendo executado até sua conclusão em meados de 1920. Concebido e executado em três fases, o plano incluía a demolição de 19.730 prédios históricos e a construção de 34 mil novos. Antigas ruas deram lugar para grandes e amplas avenidas, com edifícios neoclássicos proporcionais e alinhados de cor clara. Além das grandes avenidas, Haussmann construiu grandes quarteirões, parques inspirados no Hyde Park, de Londres, um sistema de esgoto abrangente, aqueduto para a distribuição de água doce pela cidade, novas redes de gás instaladas no subsolo de Paris destinadas à iluminação pública e residencial, fontes, banheiros públicos e arvores plantadas em linha nas novas avenidas.

O principal objetivo da grande reforma urbana para a Cidade de Paris, era melhorar o tecido urbano facilitando que os militares pudessem conter as constantes revoltas com mais facilidade. Essa transformação ocorreu em praticamente um terço do tecido urbano de Paris sobre a ideia da grande expansão. A reforma de Haussmann reformou o traçado da Ìlle de la Cité transformando-a em uma área militar. Para isso, as edificações existentes na ilha foram demolidas. De acordo com Haussmann, “a arquitetura é um problema administrativo”, portanto, só deveria obedecer e estar alinhada aos interesses do estado, no caso em questão, do imperador Napoleão III, que governava a França naquele período. Logo, esses interesses eram oriundos dos militares e, seguindo esse interesse acabou criando um urbanismo extremamente racionalista, onde à técnica dominava o desenho, ignorando a história.

O foco principal é a melhoria da circulação, o acesso rápido a toda a cidade como visão estratégica, desse forma, criou-se visão de uma cidade moderna. Esta visão também contemplou as questões sanitárias. Sendo assim, bairros foram eliminados por terem sidos considerados degradados, sujos ou que eram focos de doenças e nas novas ruas e avenidas receberam arborização e um novo sistema de iluminação. A Paris medieval que possuía uma malha viária orgânica com ruas estreitas, foi cortada por grandes avenidas, recebeu uma espécie de anel viário (Boulevard Périphérique) para a distribuição do tráfego. Junto as novas avenidas, aparecem novas praças com a inserção de monumentos dando ao lugar aspectos cenográficos, são implantados também os boulevards e por fim, surge um elemento inédito no urbanismo, os CARREFOUR. Não, não é o mercado. Carrefour em francês significa ROTATÓRIA. Essas intervenções desfiguraram o traçado viário de Paris, ignorando completamente o existente.

Intencionalmente, essas novas avenidas, ruas e boulevards, conectavam os pontos importantes da cidade. É possível sair do Museu do Louvre e seguir em linha reta até a Opera Garnier pela Avenue de l’Opéra, ou até o Arc de Triomphe. Ou então, é possível chegar a Paris pela Gare d’Lest e seguir até a Ille de lá Cité por um grande e arborizado Boulevard. É possível notar a cidade pré Haussmann e a pós Haussmann. Ruas largas, arborizadas e predominantemente retas convergem com ruas estreitas, praticamente sem calçadas e de traçado sinuoso. Curiosamente o romance de Vitor Hugo, Os Miseráveis é ambientado nesse período, onde expõe a desigualdade social, o conflito em relação ao estado. E no musical de mesmo nome, lançado em 2012, a partir da canção, “Do You Hear the People Sing?” em diante, é possível ver o início das transformações Haussmanianas na cidade e a dificuldade de conter rebeliões pelos militares, por conta do traçado urbano existente.

Para concluir, as reformas que Haussmann implementou em Paris, transformaram a cidade para sempre e serviu de inspiração para reformulações urbanas para outras cidades no mundo inclusive no Brasil, inspirando até Le Corbusier anos depois com um novo projeto urbanístico, o Ville Radiuese, que previa a demolição de grande parte da cidade para a construção de grandes edifícios, onde pedestres e veículos não “convivem”. Toda essa influência influenciou outros planos como o Cerdá, em Barcelona e até o Plano Agache, no Rio de Janeiro, que embora não tenha sido totalmente implementado e apesar da gentrificação causada quando na implantação de parte do plano, transformou a região central da cidade de forma significativa.

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