Evangélicos e a política: “a vantagem de ser pequeno”
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Evangélicos e a política: “a vantagem de ser pequeno”

A frase entre aspas usada no subtítulo desse texto foi retirada de uma entrevista concedida por Hugo Zattera, presidente da Agrale, à IstoÉ em 2012, na qual ressalta a vantagem da empresa em ser pequena, se comparar com VW, Ford e demais, mas...

federalismo brasileiro
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A frase entre aspas usada no subtítulo desse texto foi retirada de uma entrevista concedida por Hugo Zattera, presidente da Agrale, à IstoÉ em 2012, na qual ressalta a vantagem da empresa em ser pequena, se comparar com VW, Ford e demais, mas compacta, o que resulta em uma maximização do uso dos melhores atributos.

Imagem: Revista Comunhão
Imagem: Revista Comunhão

Gosto dessa frase pois demonstra que não precisa ser maioria para ser dominante, e faço essa analogia aos evangélicos na política brasileira, grupo no qual tem ganhado poder, recursos e alcance político sem comparação desde meados dos anos 1990, ainda que em menor número.

A população brasileira sempre foi de maioria católica, mas esse número está reduzindo, só que de forma lenta, enquanto os evangélicos crescem a cada década com taxas entre 5% e 9%, como no mapa abaixo está exposto. Mas isso não impõe uma obvia ascensão política como estamos presenciando, a questão é a organização.

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Os católicos são há quase seis séculos maioria da população cristã, mas jamais houve uma iniciativa partidária disso, até porque parte da igreja proíbe isso, embora tenha ocorrido em outros países como Espanha e França, movimentos católicos-partidários.

E como o catolicismo foi imposto na colonização e se tornou religião de Estado na constituição de 1824, se consolidou na sociedade. Embora seja justamente nesse período de 1820 que há os relatos das primeiras ações sociais evangélicas, nas quais começaram a se expandir na década de 1830, por influência dos Estados Unidos, que à época usava igrejas protestantes a fim de expandir sua influência regional, afinal, quase toda a América Latina é de maioria católica, com exceção de algumas ex-colônias inglesas e neerlandesas.

Entre 1835 e 1836 o líder da igreja metodista dos EUA, Foutain Elliot Pitts, veio ao Brasil para estabelecer postos da igreja protestante no país, ação que seria constantemente executada nas décadas seguintes, principalmente no Rio de Janeiro, onde foi fundada a Igreja Evangélica Fluminense, a primeira igreja protestante com o culto ministrado em português, já que em outras regiões do Brasil eram cultuados em inglês ou alemão.

Tal ascensão evangélica começou a ser notado nos anos 1990 quando, ainda como uma minoria absoluta, passaram a se organizar de uma maneira que a Igreja Católica jamais conseguiu no Brasil.

Diferente da Igreja Católica que possui presença em quase todos os municípios do interior, os evangélicos se concentram nas capitais, somente nas últimas duas décadas que passaram a fazer incursões pelos interiores, especialmente do sudeste e sul.

Mas a que se deve essa organização? Primeiramente, mídia. Há diversos canais evangélicos, a maioria na TV aberta, o que proporciona maior alcance social, exemplos do canais são as Boas Novas, CNT - TV Universal, Fonte TV, Rede 21 - TV Universal, Rede Família - TV Universal, Rede Gênesis, Rede Gospel, TV Novo Tempo, TV Universal, além de claro da Tv Record, comprada pelo líder da Igreja Universal, Edir Macedo, em 1989 e que se tornou um dos maiores meios de comunicação do mundo, visto que a presença da Igreja Universal se dá em mais de 120 países.

Além disso, há a questão dos partidos, embora Edir Macedo e sua igreja tenha um partido com laços bem formados, Republicanos, há um considerável número de partidos cristãos, com praticamente todos voltados aos evangélicos, sendo eles o PTC, PSC e o DC, sem esquecer dos partidos com forte base evangélica como PATRIOTA, PSL, PRTB e o PTB, partidos que possuem basicamente toda a base conjunta dos evangélicos, sem contar os que possuem uma minoria evangélica entre os parlamentares, como MDB, DEM, PSDB e PSD.

Com isso, partidos, políticos-pastores nos quais formam a bancada evangélica, que representa em torno de 80 deputados em Brasília, veículos de comunicação e com um governo que possui uma base eleitoral de maioria evangélica como é a do presidente Jair Bolsonaro, era de se esperar que ganhassem mais espaço na política, como foi observado na ida do vice-presidente, Hamilton Mourão, à Angola, tentar resolver uma crise política social privada da Igreja Universal.

Além disso, inclui-se os laços econômicos com empresários de diversos ramos formados por dentro das igrejas evangélicas, basta observar a riqueza pessoal de pastores como Edir Macedo, Valdemiro Santiago, Silas Malafaia, R.R. Soares e Estevam Filho, líderes que comandam cinco igrejas com alcance internacional de milhões de fiéis, nos quais financiam um sistema político-religioso cada vez mais maduro na política brasileira.

O aumento do número de evangélicos e a interiorização, rumo as regiões mais distantes das capitais são fatores que irão proporcionar maior domínio desse grupo que se tornou uma frente parlamentar indispensável na articulação política, vide seu peso social, econômico e político, seja como situação ou oposição.

Enquanto os católicos não se organizaram politicamente mesmo sendo maioria, o que até concordo pela situação cômoda de ter uma ampla vantagem, mas agora que está reduzindo, dificilmente será revertida.

Os evangélicos serão maioria em alguns anos, sua unidade política os favorecem, já que colocam as pautas religiosas à frente das demais, diferente dos católicos que raramente fazem isso, afinal, não há uma militância católica como há na parte evangélica.

Dessa forma, o fenômeno do evangelismo político no Brasil é um dos mais organizados do país.

Como estão ganhando cada vez mais filiados (partidos), seguidores (popularidade) e fiéis (igreja), resta para a maioria aguardar o resultado desse fenômeno, de uma minoria que aproveitou a vantagem de ser pequena e se tornou grande, e está levando este país cada vez mais à Direita.

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