MDB no Congresso: uma interdependente independência
0
0

MDB no Congresso: uma interdependente independência

Nessa semana o senador Alexandre Luiz Giordano, de São Paulo, deixou o PSL e se filiou ao MDB. Giordano assumiu o cargo em 31 de março após a morte do senador titular, Major Olímpio. Com isso, Giordano que nunca havia exercido um cargo políti...

federalismo brasileiro
4 min
0
0
Imagem: mdb.org.br
Imagem: mdb.org.br

Nessa semana o senador Alexandre Luiz Giordano, de São Paulo, deixou o PSL e se filiou ao MDB. Giordano assumiu o cargo em 31 de março após a morte do senador titular, Major Olímpio. Com isso, Giordano que nunca havia exercido um cargo político, assumiu a vaga no senado, mas se manteve discreto em relação ao PSL, até que optou pela ida ao MDB, maior partido do país.

Sua filiação contou com a presença de caciques como o senador amazonense Eduardo Braga, o presidente nacional Baleia Rossi e o ex-presidente da república, Michel Temer. Um dos objetivos do novo senador emedebista será de aumentar a base de apoio do prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes, também do MDB e que conta com pouco capital político.

No entanto, o que chamou atenção no evento foi a abordagem em relação ao governo do presidente Jair Bolsonaro. As lideranças do MDB têm entrado em consenso de que o partido é independente, isto é, nem governista e nem oposição. Pois bem, na prática não é isso que acontece.

Segundo o  infográfico do congressoemfoco.com, os deputados (com média de 91% de governismo) e senadores do MDB (com a mesma média) estão entre os mais alinhados com o governo. Além disso, o líder do governo no congresso é Eduardo Gomes (MDB), senador por Tocantins, enquanto o líder do governo no senado é Fernando Bezerra Coelho (MDB), de Pernambuco.

Em postos estratégico o MDB também marca presença, com Carlos Marun (ministro no governo Temer) ocupando vaga no conselho de Itaipu, Jenner Rêgo no conselho da CHESF (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) além do ex-ministro da Cidadania, Osmar Terra. Cargos de alto escalão que não contabilizam outros cargos menores, no qual o MDB possui mais de 200, gerando uma enorme máquina política governista.

No entanto, o partido atua de forma independente, incluindo lançando um candidato próprio à presidência da câmara dos deputados, sem apoio de Bolsonaro, além de ter deixado o bloco do centrão em julho de 2020, junto com o DEM, a fim de obter maior atuação e protagonismo no congresso. O que de certa forma ocorreu, principalmente com a CPI onde o senador Renan Calheiros (MDB-AL) é o relator, bem como o senador Eduardo Braga (MDB-AM) atua, ora a favor do “G-7”, ora contra, destacando sua independência, bem como do partido.

Dessa forma, é óbvio compreender que o MDB não é um partido de oposição, no entanto, o porquê dessa aclamação de independência? Segundo Sérgio Abranches, em sua obra Presidencialismo de coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro, o MDB foi, e ainda é, a espinha dorsal de todos os governos, a base de governabilidade e, como já dissemos em outros textos, o centro do centrão. Não à toa, nas duas vezes que o MDB rompeu com o presidente, houve impeachment (Collor e Dilma), sendo que na votação de Collor em setembro de 1992, todos os 99 deputados federais do MDB votaram a favor, enquanto no de Dilma, em 2016, o partido teve 59 votos a favor e 7 contra o impeachment. Ironicamente, ambos os presidentes foram sucedidos por vices do MDB.

Com isso, se nota que o partido, embora esteja encolhido possuindo atualmente possui 34 deputados federais e 16 senadores, demanda maior influência se afastando do núcleo do governo, bem diferente dos governos FHC, Lula e Dilma, quando o MDB era a base de sustentação do poder, afinal, possuía as maiores bancadas, com mais de 100 deputados. Dessa forma, com uma queda na representação em Brasília, o partido busca usar outro elemento, a cobertura partidária.

Por possuir mais de 700 prefeitos em todo o Brasil, incluindo São Paulo, é primordial uma aliança pragmática com o MDB para ter alcance em municípios distantes, mas geograficamente, e eleitoralmente, estratégicos. No entanto, por não possuir um peso tanto quanto no passado, o apoio ao atual presidente se dar de forma indireta, isto é, o partido não é oposição, mas como está encolhido no congresso, apoia por meios municipais/locais com o intuito de dar sustentação ao governo federal e obter recursos (emendas), mas mantendo um distanciamento para evitar que os excessos do presidente alcance o núcleo do partido.

E por excessos, digo aos projetos que não trariam ganhos eleitorais aos congressistas do MDB, inclui-se aqui as legislações sobre armas, o não congelamento de salários de servidores das polícias militares, transferência do Coaf para o Banco Central...entre outros, já que essa é a lógica do centrão, nem um extremista impopular e nem um popular extremista.

Enfim, embora seja o presidente que mais gastou com emendas (principalmente após a ascensão de Arthur Lira à presidência da Câmara dos Deputados), acumula muitas derrotas, embora isso esteja mais relacionado com a deficiência do governo de articular com o congresso, o que explica uma tentativa de, mais uma vez, se aproximar do MDB com lideranças do partido no congresso, especialmente no senado.

Desse modo, o MDB não é leviano em admitir independência, o partido está na coluna da política brasileira, negociando com todos, nos mais variados lugares e situações,  como por exemplo no Pará, onde o governador Helder Barbalho (MDB) constrói uma aliança com o prefeito Edmilson (PSOL) da capital Belém, ao mesmo tempo que o MDB de São Paulo se alinha com o PSL, e outros exemplos ao redor do Brasil. Mas isso é uma característica do partido, a localidade. Poucos partidos possuem diretórios tão independentes quanto ao MDB, isso é uma vantagem grande, mas tem o problema de que o partido jamais conseguiu construir uma figura nacional desde Ulysses.

Nos siga no Instagram: @federalismobrasileiro