Feliz Dia das Mães!

Esse foi o último presente de Dia das Mães que comprei. Já faz tempo.

Tal qual hoje, era 8 de maio. O ano era 2011. Dia das Mães.

Os dias àquela época andavam turbulentos e entristecidos.

Em que pese a tensão dos últimos dias, que pairavam sobre o ambiente daquele domingo, para mim, era um Dias das Mães de muita esperança.

Acordei bem cedo, levantei e tomei um café.

Estava ansioso para fazer uma surpresa para a minha mãe.

No silêncio da sala, sentado no sofá, olhava fixo em direção ao aparelho de TV à cabo que informava a hora.

Assim que o relógio, pontualmente, marcou 8h, me levantei, peguei o molho de chaves, abri a porta de alumínio com o maior cuidado. Não queria atrapalhar o sono de ninguém. Principalmente, o de minha mãe, já exaurida pelo tratamento médico recente.

Desci até a garagem e abri o portão. Liguei o carro e aguardei pouco mais de um minuto ali. Talvez, menos. Saí com o veículo da garagem, estacionei sobre a calçada e fechei o portão.

De fato, eu não tinha a menor ideia do que comprar de presente para minha mãe.

Dirigi até a avenida mais próxima na intenção de comprar o melhor presente que já havia dado até aquela data.

Poucas lojas tinham aberto suas portas e nenhuma delas me chamou à atenção.

Não obtive êxito na primeira etapa da missão de comprar um presente para minha mãe.

Segui meu caminho em direção à um hipermercado próximo, crente que não sairia dali de mãos abanando. E, não saí.

Ao entrar, me deparei com uma famosa loja de cosméticos e logo fui abordado: “Já comprou o presente de Dia das Mães, moço?”. Respondi não de forma pouco firme, pois, não era minha intenção comprar “perfume”. Mas, seduzido pela simpatia da atendente entrei na loja.

Antes que ela me mostrasse qualquer coisa, saltou-me os olhos uma caixa verde, reluzente, bonita e chamativa.

Agora sim, apontei firme e disse seco: “vou levar”, ao passo que ela falava para paredes, pois minha atenção era toda daquela caixa.

Ela pegou o presente, guardou tudo com o maior cuidado, enquanto eu o pagava no caixa.

Paguei, agradeci e saí.

Corri para casa, pois queria fazer uma surpresa à minha mãe.

Já em casa, fui direto para meu quarto guardar o presente em cima da minha cama.

Encontrei meu pai na cozinha tomando café, enquanto minha avó lavava a louça.

Desejei-lhes um bom dia que mal saiu de minha boca. Tudo era meio tenso.

Minha avó, que era alcunhada de “mãe” por todos, já estava há alguns dias cuidando de sua filha acamada por uma doença terminal. Minha tensão era tanta que, mesmo chamando minha avó de minha mãe, eu não lhe comprei um presente esse dia. Uma ingratidão que carrego comigo até hoje.

Enfim, era chegada hora. Peguei o presente e fui até o quarto onde minha mãe dormia. O silêncio daquele quarto me deixaria surdo em poucos minutos.

Minha mãe estava coberta dos pés à cabeça e com o carinho de um pai que coloca seu filho recém-nascido no berço, coloquei o presente ao lado dela e o cobri com o pesado edredom. Finalmente, faria minha surpresa.

Saí do quarto com os olhos marejados sem entender o motivo.

Pouco tempo depois, escuto uma voz fraca, quase falhando, gritar meu nome. Era minha avó. Minha mãe teve um AVC. Saiu numa ambulância e não retornou mais. Todo o desenrolar da estória pouco importa agora.

A surpresa que planejei fazer, nunca fiz. O presente que eu mais quis entregar, nunca entreguei.

Desde então, o Dia das Mães, para mim, perdeu seu charme e alegria.

Revivi essa estória por todo esse tempo não só no Dia das Mães, mas todos os dias.

Trazer isso à tona não é o fim. Mas, é o registro. É o reforço. O reforço de que, quando se aprende a perder, você nunca mais perde. Só aprende. Demorei, sim, a aprender, mas aprendi. Pois, no fim das contas, todo aquele que escreve é um parasita de seus sofrimentos.

À minha saudosa mãe, já não posso mais desejar um Feliz Dia das Mães e dar-lhe um abraço.

Para todas as outras, Feliz Dia das Mães.

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