O futebol e o "problema psicológico" do Flamengo
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O futebol e o "problema psicológico" do Flamengo

Meu pai foi jornalista de futebol e costumava contar uma história sobre o folclórico Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians. Numa ocasião, o lateral Zé Maria, ídolo da equipe, atravessava uma fase ruim, muitos jogos rendendo pouco e is...

Fernando Escobar
6 min
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Meu pai foi jornalista de futebol e costumava contar uma história sobre o folclórico Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians. Numa ocasião, o lateral Zé Maria, ídolo da equipe, atravessava uma fase ruim, muitos jogos rendendo pouco e isso rendia notas nos jornais. De uma hora para outra, Zé Maria volta a render bem. Curioso, um repórter vai buscar a história e, entrevistando o presidente ouve o seguinte: "Ah, o Zé Maria não vinha jogando bem e os jornais diziam: Zé Maria, com problema psicológico, Zé Maria, com problema psicológico. Aquilo me irritou e eu fui falar com ele para saber qual era o problema. Ele me falou que bateu com  o 'Arfa' [Alfa Romeu] dele. Pô, eu fui lá, comprei um 'Arfa' novo para ele ficou tudo bem". 

O futebol é muito mais do que o que acontece "dentro das quatro linhas" e em clubes como o Flamengo e o Corinthians, muitas vezes, os fatores externos se sobrepõem aos internos (não só das quatro linhas, mas internos "do clube") e derrubam grandes equipes.

Eu diviso três grandes aspectos da preparação de um time que são responsáveis em partes (talvez) iguais, pelo desempenho em campo, durante os jogos, todos os três sob as asas do Departamento de Futebol e de sua estrutura hierárquica. 

- A preparação técnica e tática: obviamente,  de responsabilidade total do Técnico, sua comissão, e dos jogadores.

- A preparação física: para mim, não é responsabilidade do Técnico, mas o técnico tem o dever de "ficar em cima", de cobrar e, em sua comissão, pode haver um ou mais profissionais que atuem diretamente nessa área.

- A preparação psicológica: para mim, outra vez, a responsabilidade é da Comissão Técnica, se não do técnico em si, possivelmente de algum profissional componente do grupo. (O "super Jorge Jesus" tinha um coach entre os membros da equipe).

Neste artigo, pretendo dar um pitaco sobre este último aspecto, em relação à equipe do Clube de Regatas Flamengo, popular, "Oh, meu Mengão".

O elenco que brilhou em 2019, hoje não rende sequer uma fração daquilo que rendeu. Um time que parece desencontrado, e, o que quero destacar aqui, extremamente fraco psicologicamente. O time pode estar jogando muito bem, contra qualquer adversário, mas basta tomar 1 gol e o time "desaba". Mesmo quando o time parece entrar motivado e "mordendo" o adversário, a entrega se esvai rapidamente e, como dito, se o adversário marca, some totalmente. 

O que eu penso sobre este ponto: Após 2019, os jogadores foram alçados a uma condição de ídolos como há muito não se via no clube. Afinal, demorou 40 anos para que o time fosse novamente campeão da América e, com efeito, a principal estrela desse time, Gabriel Barbosa,  comparou-se à principal estrela do time de 1981, ninguém mais, ninguém menos do que o maior jogador da história do Clube (e um dos maiores da história do país!), Zico, Arthur Antunes de Coimbra, o galinho de Quintino. O sucesso subiu demais à cabeça dos jogadores.

Durante 2020 e 2021, os jogadores foram totalmente blindados pela torcida e, especialmente pela diretoria, de críticas e de responsabilidade pela decadência no desempenho do time. Três técnicos chegaram e não tiveram "estofo" para implementar novamente o rigor disciplinar que implementara Jorge Jesus. A geração de 85 (vale outro post) dominava o vestiário e o time, à duras penas, foi bi campeão nacional, com um técnico jovem e promissor, que arrumou "um jeito" de colocar em campo todos os medalhões e deu certo!

Este técnico, Rogério Ceni,  campeão nacional, campeão da Supercopa, campeão estadual, caiu por pressão política e por pressão dos jogadores, porque não era simpático e comunicativo,  e do Departamento Médico (também vale outro post). Aqui cabe uma observação: O Brasil, de um modo geral, não sabe o que é jogo posicional e o suposto melhor técnico do mundo é adepto do jogo posicional. Eu confesso que não saberia explicar para minha vó, ou para meu filho de 4 anos, o que é jogo posicional. Mas os brasileiros, em regra, imprensa incluída, torcem o nariz para o conceito, como se só fosse possível na Europa. Dome e Rogério Ceni, tentaram implantar um estilo posicional no Flamengo e os jogadores "não aceitaram". 

Veio 2022 e o Flamengo foi à Europa buscar um novo técnico. Dentre todos os possíveis e todos os com quem conversaram, aí incluído o mítico Jorge Jesus (que não quis retornar ao clube!), os dirigentes acabaram por trazer aquele que tinha o "menor currículo", todavia, o mais motivado para treinar o clube. Paulo Sousa pagou do próprio bolso a multa para deixar a seleção da Polônia (e de quebra deixou de ir à Copa do Mundo) para vir dirigir o Flamengo. Sua missão (de PS), reformular o enfraquecido departamento de futebol do time. 

(Aqui cabe um longo parêntese. Um dos grandes méritos de Jorge Jesus foi tomar conta do Departamento de Futebol. Trouxe engenheiros agrônomos para avaliar os gramados do CT, um coach, profissionais do DM e fechou o Ninho do Urubu (como se chama o CT) para visitas de dirigentes, parentes e curiosos. Com isso, a diretoria, que não tem competência para fazer isso, desde a saída do português, procura alguém capaz de fazer isso). 

Paulo Sousa parecia ter essa capacidade, mas, tentou implantar o estilo posicional, mexeu nas posições das "estrelas", implantou disputas por posições, afastou os caciques da geração 85 e começou a ser fritado, até pelo DM. Aí, veio o que ninguém esperava. A torcida caiu em si e dividiu a culpa pelos maus resultados entre o técnico e os jogadores (até então intocáveis).

Ao perceberem que os créditos das conquistas de 2019 e 2020 esgotavam-se rapidamente, os jogadores se abalaram. Hoje, vê-se que eles se esforçam para se enquadrar no estilo posicional, para aplicar os direcionamentos do técnico, mas o componente físico também pesa e o time oscila muito, fazendo, em geral, excelentes primeiros tempos e pífios segundos tempos. 

Sobre o DM, escreverei em outro post, sobre a parte tática e técnica também, sobre o psicológico, é minha opinião de que os jogadores precisam de alguém muito capaz, para mostrar que apesar de não serem mais as estrelas de 2019, não há nada que os impeça de voltar a ser. 

Se vai ser com um coach ou "comprando um Arfa novo", os jogadores do Flamengo precisam desse apoio. 

Fique bem.