O futuro do profissional de tax, reforma tributária e tecnologia
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O futuro do profissional de tax, reforma tributária e tecnologia

Tive a oportunidade de participar de um encontro bastante produtivo promovido pela Thomson Reuters para debater os principais temas da área tributária do momento: tecnologia, futuro do profissional de tax e reforma tributária. Neste artigo vo...

#Finanças #Gestão #Carreira
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Tive a oportunidade de participar de um encontro bastante produtivo promovido pela Thomson Reuters para debater os principais temas da área tributária do momento: tecnologia, futuro do profissional de tax e reforma tributária. Neste artigo vou transcrever abaixo os principais pontos que abordei no evento:

A importância da tecnologia

Minha tese de mestrado "Lean Tax Management: Modelo Aplicado de Gestão Tributária" apresentada na Universidade Mackenzie em 2017 surgiu da constatação da quase inexistência de trabalhos acadêmicos recentes abordando a gestão tributária, uma área cada vez mais importante nas organizações privadas no Brasil. Principalmente se considerarmos que possuímos a política tributária mais complexa entre as 100 principais economias do mundo, segundo o Global Tax Complexity Project.

São 92 impostos e contribuições, 1 união, 27 estados e 5.570 municípios produzindo regras tributárias todos os dias, unindo-se ainda as regras para os 3 regimes (simples, lucro presumido e lucro real). Então no Brasil eu realmente não vejo como podemos atender as obrigações (principal e acessórias) sem o apoio da tecnologia. Se os impostos representam 33,5% do PIB, as multas já representam mais de 3% (dados de 2018).

À complexidade dos impostos somam-se às dificuldades em organizar, gerenciar e fiscalizar internamente o pagamento dos tributos corretos e necessários, de acordo com a burocracia requerida, e dentro do prazo. Em minha experiência já vivenciei situações de obrigações entregues em branco, dados inconsistentes e pagamentos divergentes, principalmente em obrigações acessórias.

Minha tese de dissertação buscou justamente propor um modelo Lean Tax Management, um modelo de "linha de produção tributária" para garantir o controle das obrigações acessórias. A utilização de ferramentas de tecnologia especializadas em tributação, associadas a plataformas de organização e controle se mostraram essenciais para o desenvolvimento de um passo a passo para preparação, revisão, aprovação e arquivamento de documentos. Além de facilitar o processo, reduzir erros, poupar recursos e evitar multas por atrasos ou inconsistências, o modelo lean também trouxe ganhos ao agilizar o atendimento das auditorias externas e do governo.

Futuro do profissional de Tax

O profissional de Tax vai precisar se preparar cada vez mais para adequar o modelo tributário aos novos canais de vendas e meios de pagamentos. Já sabemos que o omnichannel do varejo é uma realidade, mas a pandemia forçou empresas a se abrirem e se adequarem para novos modelos, como por exemplo as vendas por WhatsApp. Adaptar essa nova realidade ao modelo tributário de maneira consistente e eficiente será sem dúvida um diferencial cada vez mais disputado por empresas em busca de competitividade.

Assim como em outras áreas, a automação é um caminho sem volta para o tributário por trazer mais eficiência e acabar com os erros manuais. O profissional de tax precisa manter-se atualizado sobre as tendências de tecnologia para avaliar os recursos mais adequados ao perfil de sua empresa. Construir indicadores e adotar ferramentas de BI, por exemplo, permitem melhor qualidade de análise e foco no que realmente vai trazer resultados.

Reforma tributária

Tenho acompanhando o projeto de reforma tributária através do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF) e do professor da FVG, Eurico di Santi. Eu penso que aqui estamos falando das empresas abrirem mão dos incentivos fiscais em troca de um sistema tributário mais seguro e objetivo, em que os recursos arrecadados e revertidos à população em forma de serviços sejam feitos com o máximo de transparência. O risco é realmente garantirmos uma boa implantação e repasse deste novo modelo, pois vários setores serão impactados – no de educação, por exemplo, estamos falando da eliminação da isenção de material didático.

O ponto de desconforto das empresas e cidadãos é como iremos garantir isso de maneira eficiente, visto que hoje vemos a precariedade dos serviços públicos. Mas eu não consigo ver como o Brasil pode se tornar competitivo mantendo esse modelo atual. Um sistema simplificado e mais transparente também reduziria a máquina de fiscalização, reduzindo os próprios custos do Estado.

Alessandra Segatelli é CFO da Pearson Education Latam, professora convidada da Universidade Mackenzie e uma das fundadoras do W-CFO Brazil

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