Edward Younkins• Le Québécois Libre
Edward Younkins• Le Québécois Libre | ||
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Nesta série de textos traduzidos pela Free, Edward Younkins apresenta uma análise sobre o relativismo cultural, sua evolução teórica ao longo do tempo e suas consequências. | ||
Younkins também demonstra como os descendentes intelectuais dessa corrente contribuem para a fragmentação dos princípios que permitiram o desenvolvimento da razão científica, da ética e de sociedades mais livres no Ocidente e ao redor do mundo. | ||
Capítulo IV - Politicamente Correto | ||
O multiculturalismo, conceito explicado no capítulo anterior deste artigo, leva à uma linguagem politicamente correta. Esta linguagem deve ser sempre consistente com os princípios multiculturalistas. Isso significa que os códigos de determinado discurso não devem: | ||
(1) Favorecer um grupo minoritário em detrimento de outro; | ||
(2) Infringir o direito de qualquer grupo à soberania; | ||
(3) Interferir no relacionamento pacífico de qualquer grupo minoritário com os demais grupos; | ||
(4) Questionar a sociedade, ou seja, o Estado, em suas tentativas de proteger ou priorizar grupos culturais (sejam sociais, econômicos ou minorias étnicas) cujas perspectivas subjetivas serão declaradas igualmente válidas e que possuirão "direito" à uma igualdade de resultados; | ||
(5) Promover estereótipos de qualquer tipo (salvo aqueles que o próprio multiculturalismo perpetua). | ||
Esta obsessão provém de uma elite que se enxerga moralmente superior, sensível e visivelmente compassiva com os sentimentos subjetivos das pessoas. Ela faz parte da visão terapêutica do homem predominante atualmente. | ||
Uma paixão pela sensibilidade se espalhou pela mídia e pela academia, levando à criação de eufemismos de bem-estar que rompem com a objetividade e a compreensibilidade em troca do sentimento e da simpatia. Infelizmente, tais “botões linguísticos de alegria” simplesmente camuflam a realidade, ao invés de mudá-la. | ||
Os defensores do politicamente correto tentam homogeneizar nossa linguagem e pensamento não apenas para "aumentar a autoestima" das minorias e beneficiários do Estado assistencialista, mas também para preservar a sua imagem moral e a do próprio Estado assistencialista. | ||
Uma abordagem para se atingir esse objetivo é eliminar palavras entendidas como depreciativas, discriminatórias ou ofensivas. Realiza-se então substituições de vocabulário inofensivas em detrimento da clareza e da lógica. Outra abordagem é desconstruir uma palavra ou frase em suas partes componentes, tratar as partes componentes como todos e focar nos significados secundários das partes componentes. Por exemplo, o termo "MANKIND" pode ser considerado exclusivo, enganoso e tendencioso quando empregado para se referir a homens e mulheres ("MANKIND" = Humanidade /"MAN" = Homem). | ||
O politicamente correto não consegue entender que a linguagem é o resultado de um processo social evolutivo que resulta em uma ordem alcançada sem o uso de um plano geral deliberado. A linguagem simplesmente surge de acidentes, experiências e empréstimos e corrupções históricas de outras línguas. Ninguém pretendia excluir as mulheres quando termos genéricos como "MANKIND" fossem usados. Com relação aos seres humanos, o gênero masculino foi utilizado para denotar a espécie, principalmente em línguas latinas e anglo-saxônicas. | ||
Alterar o uso das palavras e dos pronomes apenas confunde a linguagem e não transmite mais informações. No entanto, para o politicamente correto um determinado uso implica que aqueles que usam os termos masculinos têm pensamentos hostis ou excludentes em relação a mulheres, por exemplo. | ||
Isso tudo leva as pessoas a acreditarem que todo uso de termos masculinos genéricos é evidência do antagonismo masculino em relação às mulheres quando, na verdade, tal uso apenas evita frases anormais e uma linguagem confusa. | ||
"Aqueles mais sensíveis acerca da terminologia politicamente correta não são o morador negro médio do gueto, o imigrante asiático, a mulher abusada ou a pessoa com deficiência, mas uma minoria de ativistas, muitos dos quais nem mesmo pertencem a nenhum grupo 'oprimido', mas vêm de camadas privilegiadas da sociedade. O politicamente correto na realidade tem sua fortaleza entre professores universitários, que possuem emprego assegurado e salários confortáveis." - Theodore Kaczynski | ||
O politicamente correto fornece uma linguagem pela qual é fácil ser uma vítima e sempre haver alguém ou algo que pode ser responsabilizado. Pense em termos como "apropriação cultural", "discurso de ódio", etc. | ||
Ele também acaba envolvendo uma grande quantidade de grupos tentando explicar as razões pela sua falta de sucesso. Essas explicações de vitimização geralmente incluem a ideia de que uma pessoa está tendo dificuldades particularmente devido à sua raça ou sexo, e não à uma complexidade de fatores (educação, cultura familiar, hábitos pessoais, características biológicas). | ||
Essencialmente, o politicamente correto é uma forma de racionalizar quem você seria e afirmar o porquê de você não ser melhor do que aquilo que você é. As pessoas denominadas vítimas dentro de uma visão sistêmica aprendem que seus fracassos e sofrimentos são invariavelmente o resultado de alguma condição injusta e retificável que engenheiros sociais poderiam remediar se os insensíveis simplesmente permitissem. Isso reforça as visões errôneas de que a vida humana é sempre modelável e que todo sofrimento é um desvio proposital que pode ser corrigido. | ||
As pessoas são levadas a acreditar que o mundo deve ser um lugar onde nunca sofram decepções ou fracassos. Claro, a verdade trágica é que as pessoas podem falhar e que os indivíduos são desiguais em talentos e realizações. | ||
Em alguns campi universitários, a busca por padrões mais elevados de realizações humanas já foi substituída pela valorização do pensamento politicamente correto. A liberdade acadêmica e a liberdade de expressão sofrem altos custos sociais nos campi, onde a verdade e os fatos científicos são vistos como nada mais do que diferentes perspectivas oferecidas por diferentes grupos a fim de promoverem seus próprios interesses. | ||
A própria matriz curricular acabou comprometida em muitas instituições e os preconceitos impostos por este tipo de educação restringiram o pensamento dos alunos com currículos desenvolvidos para serem "não-sexistas", "reconciliadores" ou "anti-racistas". | ||
- Em resumo | ||
Tanto o politicamente correto quanto o multiculturalismo ameaçam a liberdade individual e o pensamento racional em esferas acadêmicas e não-acadêmicas, locais de trabalho e, em última análise, na própria fundação da sociedade americana. | ||
A liberdade de expressão já foi extinta em grande parte do ambiente corporativo, apesar de ainda sobreviver no ambiente educacional por ser um bem econômico para professores, por meio do qual eles ganham a vida. | ||
Amplamente concebidas, as ideologias proeminentes na visão politicamente correta resultam em uma série de iniciativas: | ||
(1) Alteração de vocabulários para não ofender grupos específicos; | ||
(2) Ação afirmativa em admissões e contratações; | ||
(3) Educação multicultural e ampliação do escopo de textos clássicos para incluir aqueles escritos por minorias; | ||
(4) Oficinas em que as pessoas são ensinadas por “especialistas” como estar em sintonia com os sentimentos dos outros e como evitar serem consideradas culpadas de “assédio moral”, “insensibilidade racial” e assim por diante. | ||
Edward Younkins é professor de filosofia política e economia na Wheeling University e autor de obras como "Champions of Free Society" e "Flourishing and Happiness in a Free Society". | ||
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