A lição inesperada do Clubhouse para o mundo do branding
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A lição inesperada do Clubhouse para o mundo do branding

Se você ainda não percebeu, o Clubhouse não tem uma logo ou um ícone, diferente da maioria dos apps. Nesse texto, vou discorrer sobre as implicações, conceitos e possibilidades por trás dessa fantástica ideia. Gostou? Então vem comigo!

Raphael Rosa
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Se você ainda não percebeu, o Clubhouse não tem uma logo ou um ícone, diferente da maioria dos apps. Nesse texto, vou discorrer sobre as implicações, conceitos e possibilidades por trás dessa fantástica ideia. Gostou? Então vem comigo!


Nas últimas semanas, o mundo digital entrou em fervorosa com a propagação de um app de bate-papo via audio chamado Clubhouse. O app permite a entrada, por enquanto, apenas por convites e por usuários que tenham o sistema iOS, da Apple. O resultado?

Milhões de usuários em semanas, veja o gráfico abaixo:

Crescimento do Clubhouse ao longo do tempo.
Crescimento do Clubhouse ao longo do tempo.

Esse crescimento já era esperado pelos criadores, que usaram táticas de Growth que estimulam o FOMO (Fear of Missing Out - Medo De Ficar de Fora) das pessoas. Elas querem se sentir exclusivas e importantes: por isso, serem convidadas por uma pessoa que tem apenas 2 convites disponíveis... bom, isso é sinal de que você é querido mesmo por alguém. 

Bom, mas que o App já é um sucesso nós já sabemos. Mas o mais importante nisso tudo é: eles fizeram tudo isso sem uma logo; a não ser que você considere isso aqui abaixo uma logo:

"Logo" da Clubhouse quando se inicia o app.
"Logo" da Clubhouse quando se inicia o app.

Essa imagem acima nos mostra duas coisas importantes: 1) o símbolo para referenciar o App é um emoji animado e 2) a tipografia utilizada foi uma super comum, chamada "Nunito", disponível na Google Fonts. Tempo gasto para fazer a "marca" do Clubhouse: 2 minutos.

Fonte/Tipografia do App Clubhouse.
Fonte/Tipografia do App Clubhouse.

Em segundo lugar: ninguém falou do fato de não terem uma logo. Isso não pareceu importante pra ninguém. Zero. None. 

Ok, pra mim foi...

Mas de qualquer forma, isso me fez relembrar todos os conceitos mais importantes de branding. Bom, idealmente, o branding é composto por uma série de fatores e experiências. É o composto das estratégias de negócio, marca e comunicação. Em negócio, o objetivo é resolver uma dor ou potencializar oportunidades, lucrando com isso; em marca, o objetivo é ter essência e ser reconhecido; em comunicação, é ser ouvido com atenção.

Note que o Clubhouse se garante nos pontos de vista de comunicação: todos estão falando dele. Em negócio, muita gente ainda tem dúvida de como vão monetizar - porém estão atraindo investidores reconhecidos, com certeza há um plano pra isso. Mas em Marca, alguns poderiam dizer: qual sua essência? Como reconhecer uma marca que tem como ícone um emoji e uma fonte tão barata assim...? 

Bom, é aí que entra o fator-chave desse processo: diferenciação.

Vou agora listar 6 motivos para você não negligenciar a estratégia de branding do Clubhouse.

1. 🧙🏻Sair do clichê.

Todo app tem um ícone bonitinho que salta na tela do celular. O Clubhouse tem uma foto, que muda toda vez que o app atualiza. Qual dos ícones abaixo você enxerga primeiro? Em um mundo cheio de estímulos e cores, o Clubhouse se destaca pela simplicidade e realidade.

Email image

2. 🤝 Coerência

Se o que importa é a voz, porque se importar com uma logo? A plataforma inteira dá menos importância geral à figuras, grafismos e imagens. Tudo que é incluído de texto ou imagem é simplesmente o básico necessário para algo funcionar - ou melhor, brilhar.

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3. 🔤 Naming como Marca

Talvez surpreenda vocês, mas a Apple não usa tipografia em seu logo principal. É só a maçã.

A Apple aposentou a tipografia em 1977. Depois disso, criou um espaço único pra si. A única (até onde eu sei) marca grande do mundo que é usada sozinha, sem tipografia. 
A Apple aposentou a tipografia em 1977. Depois disso, criou um espaço único pra si. A única (até onde eu sei) marca grande do mundo que é usada sozinha, sem tipografia. 

A tipografia ainda é usada nas marcas de produto e submarcas da Apple, em uma fina estratégia de branding.

Talvez o Clubhouse tenha iniciado um movimento similar: o de marcas sem logo. Porém, a estratégia da Apple considerou a estatística, existem mais surdos no mundo do que cegos; no caso do Clubhouse, os surdos passam a ser excluídos (pelo menos, ainda) da jogada.

4. 🖖 Linguagem da internet 

O app usa emojis em praticamente tudo, inclusive para representar a si próprio, vagas disponíveis na empresa, ações dentro do aplicativo... tudo fica cool com emojis. O que inclusive estimula os usuários a criarem salas usando emojis e assim por diante.

Estilo "Emoji" em tudo, até em ícones criados pela própria Clubhouse, como cadeado e o mundo.
Estilo "Emoji" em tudo, até em ícones criados pela própria Clubhouse, como cadeado e o mundo.

5. 🖌 Identidade visual proprietária.

Mesmo sem marca, o app consegue ter suas características únicas. O formato das fotos, ligeiramente arredondado e as cores em tons pastéis, muito diferentes dos apps cheios de estímulos hoje. Além disso, o app usa sua experiência de uso baseada em personalização para que os emojis, textos e clubes cumpram o restante do papel.

6. 👨‍🎤 O showman é você.

Quando a marca não tem logo, ela quer dizer que o foco é em você. Por isso, Clubhouse se escreve com uma fonte simples e um emoji. Isso basta! O que importa é como você usa e como você agrega valor pra plataforma. 

No final do dia, o Clubhouse não é uma marca comum. É uma marca que se apropria de cada um, fazendo com que as pessoas (com suas fotos, vozes e emojis) também sejam parte da construção do seu significado.


Sinceramente, não sei se o Clubhouse irá manter essa estratégia pra sempre. Mas é um bom e sólido caminho. Diferente de todos os demais e relevante para o mundo que vivemos hoje - cheio de estímulos e distrações. 

Me diz aí, o que você achou dessa estratégia?

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