15 anos de "Modern Times": heart burnin', still yearnin' in the last outback at the world's end
0
0

15 anos de "Modern Times": heart burnin', still yearnin' in the last outback at the world's end

Este seria o disco de encerramento da trilogia iniciada em Time Out of Mind (1997), desenvolvida em "Love And Theft" (2001), culminando nas dez canções de Modern Times (2006). 

Gab Piumbato
4 min
0
0

Este seria o disco de encerramento da trilogia iniciada em Time Out of Mind (1997), desenvolvida em "Love And Theft" (2001), culminando nas dez canções de Modern Times (2006). 

Email image

Estamos no mesmo terreno do disco anterior, mas o tom aqui é mais sóbrio. A mistura de blues, rockabilly, country e empréstimos continua. Bob Dylan disse que adora cantar melodias alheias na cabeça, enquanto dirige ou conversa, adaptando e mudando as letras, até que tenha algo novo (como ele canta numa música deste álbum, “I keep recycling the same old thoughts”).

Este “novo” é objeto de muito debate, tal como em “Love And Theft”: o que é de Dylan, o que não é de Dylan? Os autores roubados parecem velhos demais até para reclamar, supondo que ainda exista algum vivo para abrir a boca. Folclore irlandês, standards, baladas dos anos 30 e 40 são o terreno deste jogo.

“Thunder On The Mountain” é um dos melhores começos de disco de Bob Dylan: a guitarra entra solando e a bateria nervosa dá o tom desse country levado pelo piano, com direito a citação ao poeta Ovídio e à cantora Alicia Keys.

“Spirit On The Water” e “Beyond The Horizon” estão entre as canções de amor mais felizes de Bob, com a segunda nos remetendo ao nosso inevitável Rei Roberto Carlos. Porém, é em “When The Deal Goes Down” – cujo clipe tem ninguém menos do que Scarlet Johanson de maiô – que Dylan afirma o amor incondicional: “I owe my heart to you, and that’s sayin’ it true, and I’ll be with you when the deal goes down”.

Dos blues, “Rollin’ And Tumblin’”, “The Levee’s Gonna Break” e “Someday Baby”, este é o melhor, num casamento infernal de letra (“I don’t care what you do, I don’t care what you say, I don’t care where you go or how long you stay, someday baby, you ain’t gonna worry po’me any more”) e música (a pegada quente dos riffs e os solos de guitarra).

Duas canções se sobressaem aqui. A primeira é “Workingman’s Blues #2”, apoiada num belo trabalho de cordas, sobre trabalhadores em tempos econômicos difíceis. Soa tão antiga que poderia ter sido cantada durante a Grande Depressão, mas guarda versos atuais: “Some people never worked a day in their life, don’t know what work ever means”.

A outra é a faixa de encerramento, “Ain’t Talkin’”, um passeio de um sujeito devastado num mundo violento. Praticamente uma versão fúnebre de “Things Have Changed”, se esta tivesse sido gravada durante Time Out Of Mind: “The sufferin’ is unending, every nook and cranny has its tears, I’m not playing, I’m not pretending, I’m not nursin’ any superfluous fears, ain’t talkin’, just walkin’”.

---

Você pode ler textos como este na discografia comentada que escrevi.

---

Agora, para comemorar a data, deixo aqui algumas canções que se relacionam com a sombria "Ain't Talkin'", um estudo de quão corrupto o coração humano pode se tornar, nas palavras de Chris Gregory (autor do magnífico estudo Determined To Stand). O sentimento de ameça constante e tensão na harmonia desta canção é aumentado pelos versos que puxam para o imaginário apocalíptico bíblico (além de Shakespeare e Ovídio). Antes, uma interpretação ao vivo:

Enfim, começando o passeio pelas canções que têm alguma ligação com esta. Primeiro, o dueto com Joan Baez nesta balada tradicional:

O banjo caipira dos Stanley Brothers também marca presença:

Assim como a interpretação de Martin McCarthy, outra das influências britânicas de Dylan:

Considerando a influência do Great American Songbook na fase mais recente de Dylan, também não podemos esquecer deste hino cristão:

E retornando para o terreno country, ainda nesta veia religiosa: 

---

Não se esqueça de se inscrever na newsletter. Basta clicar no primeiro ícone que está a sua esquerda para receber as próximas edições diretamente no seu email.