No bar da eternidade
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No bar da eternidade

Depois de 40 miseráveis anos continuo no mesmo lugar, segurando o mesmo copo de cachaça velha que mais parecia água de esgoto, porque eu bebia aquilo afinal? O gosto amargo misturado com a minha baba grossa me lembravam o quanto aquele lugar ...

Gleyce Andrade
2 min
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Depois de 40 miseráveis anos continuo no mesmo lugar, segurando o mesmo copo de cachaça velha que mais parecia água de esgoto, porque eu bebia aquilo afinal? O gosto amargo misturado com a minha baba grossa me lembravam o quanto aquele lugar era conhecido para mim. A nostalgia de lá já havia deixado de ser nostalgia para se tornar minha própria vida. Procrastinei tanto meus sonhos e acabei aqui, bem onde não queria estar. Seria alguma trama do destino? - Talvez. Onde foi que errei mesmo? - Não me lembro. Me pego refletindo sempre aqui, com pessoas me encarando. No fundo... gostava da minha barba por fazer e de como parecia intelectual da forma como a coçava para pensar, fingindo ser algo que eu não era... mas no final sempre concluía que continuava pobre, com a prestação do carro atrasada, fracassado e me odiava por não ter lutado mais por mim, eu merecia mais.

Acordei na minha cama desesperado por ter visto meu futuro lamentável como um velho moribundo que eu, por alma, já era. Confesso que a vontade de mudar se tornou grande e eu olhei para minhas três camisas surradas no guarda-roupa e quis levantar para ir tornar alguma coisa melhor, mas estava tão cansado, já havia dormido 16 horas aquele dia e a única coisa que consegui fazer mesmo foi encarar o guarda-roupa e voltar para o que me era costume, meus lençóis. Talvez eu não mereça mais, eu era eternizado na minha própria realidade.