Bolsonaro e Centrão, juntos e shallow now!
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Bolsonaro e Centrão, juntos e shallow now!

Se gritar pega centrão, vai pegar o Bolsonaro junto!

Guga Noblat
4 min
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Se gritar pega centrão, vai pegar o Bolsonaro junto!

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O governo antisistema do Bolsonaro acabou sem nem ter começado.

Era para combater a corrupção e nada, aparelhou a PF, a ABIN, parte do judiciário, a Procuradoria-Geral, as Forças Armadas, está de olho no STF e se rendeu ao fisiologismo político.

Falou que faria todo tipo de reforma liberal, conversa para boi, gado e faria limers terem uma desculpa na hora de eleger um notório fascista. Nada fez e ainda surfou numa Reforma da Previdência chupada do governo anterior e aprovada por deputados que o viam como um entrave.

Ia mandar o Centrão para escanteio. Papinho furado! Trouxe o Centrão para o meio de campo. O grupo político que serviu a todos os presidentes avança seu domínio na Casa Civil e vira o camisa 10 do governo.

Com Bolsonaro, a lógica se inverteu, ele é que serve ao Centrão e arreganha o ministério mais importante do governo a um senador que num passado remoto o chamou de “fascista”. E, pasmem, apontou Lula como melhor presidente da história. Ainda assim virará o dono do pedaço no atual governo.

E a tal tecnocracia? Também era só promessa de campanha. Bolsonaro lotou ministérios ou com gente maluca e nada beleza, estilo Ernesto Araújo e Weintraub, ou encheu de militares pouco capacitados para cargos civis. Eduardo Pazuello com seu saldo de mais de 500 mil mortos à frente do Ministério da Saúde é o exemplo mais conhecido.  

A jogada de indicar um senador do Centrão traz ganhos políticos para o presidente, mas enterra de vez qualquer chance de posar como a nova política. Aliás, nada mais velho e putrificado que os esquemas do Bolsonaro. De tão irrelevante no chamado baixo clero da Câmara, ele sequer era convidado para participar de esquemas de corrupção, mas se virava nos 30.

Para encher os cofres da família, pesa a suspeita de ter se metido com o que resta de mais tacanho entre as modalidades de furto de dinheiro público. Bolsonaro e filhos teriam contratado centenas de parentes e funcionários laranjas para tomar parte do salário deles, a tal rachadinha.

Despreparado, desonesto, indeciso, incompetente, falso, pouco inteligente e autoritário, segundo a maioria dos brasileiros em pesquisa Datafolha, Bolsonaro levou o Brasil a um negacionismo da pandemia que resultou em mortes e atraso da retomada econômica.

Passou a ver a popularidade despencar e como uma criança birrenta dona da bola, ameaçou não concorrer na próxima eleição se não tiver voto impresso, uma óbvia desculpinha de perdedor.

Se render a Ciro Nogueira e entregar-lhe o ministério mais cobiçado do Planalto é o atestado de que Bolsonaro acredita nos institutos de pesquisa de votos, por mais que finja não acreditar. Ele sabe que sua popularidade está derretendo, como apontam Datafolha, CNT, o antigo Ibope e outras simulações sobre 2022.

Por mais que não tenha sido muito chegado do Ciro nos tempos que frequentava o Congresso Nacional e o veja com a desconfiança, Bolsonaro se sentiu obrigado a agradar o Centrão e a amarrar ainda mais o PP ao seu lado antes que o casamento com essa turma termine em litígio.

Quatro ministérios estavam nas mãos de deputados e os senadores ainda não tinham um representante na Esplanada. Ciro mandou sinais de que estava no limite com o governo ao quase abandoná-lo na CPI da Covid.

Bolsonaro não pode se dar ao luxo de perder Ciro e o PP, o que levaria à ruptura com o Centrão. E sem eles, o impeachment fica mais próximo e os programas do governo que ainda podem dar um suspiro de vida a Bolsonaro na eleição ficam mais longe, como o aumento do valor do Bolsa-Família ou a reforma tributaria, única com remotas chances de passar.  

Ao dividir poder com o Centrão, Bolsonaro se aproxima mais dos políticos e abre caminho para os militares se descolarem desse governo, se é que isso ainda é possível. O espaço da chamada ala ideológica também se estreitou. E o ministro da Economia, Paulo Guedes, ganhará mais um rival já que o Centrão é desenvolvimentista, assim como o Bolosonaro raiz.

Por isso mesmo fica a dúvida, qual Bolsonaro estará na eleição do ano que vem, se ele não desistir antes para evitar o fiasco de ser derrotado de lavada? O liberal nunca existiu. De anticorrupção passou à coveiro da lava-jato. Ia contratar apenas nomes técnicos, na prática premiou os puxa-sacos e militares cumpridores de ordem. 

Restará um terço de fanáticos, saudosistas do regime militar, simpatizantes do integralismo e fundamentalistas religiosos que seguirão com Bolsonaro em 2022, sugerem as pesquisas. Mesmo com ele abraçado à velha política e longe da imagem do antisistema de outrora. Qual será a fantasia que o presidente vestirá para seguir como líder, como mito, como palhaço no circo que ele arma para o próximo ano?


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