Rendez-vous
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Rendez-vous

Era um dia muito frio, e lá estavam os dois olhares: ansiosamente sentados em um banco de jardim. Porém, não era um jardim qualquer. Era um…

Guilherme dos Santos
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Photo by Annie Spratt on Unsplash

Rendez-vous

Era um dia muito frio, e lá estavam os dois olhares: ansiosamente sentados em um banco de jardim. Porém, não era um jardim qualquer. Era um jardim escolhido a dedo, um jardim onde os poucos minutos combinados seriam guardados como um belo vislumbre do que é eterno.

Era um jardim planejado, assim como, era um encontro planejado. Ela batia suas botas castanhas devido ao frio, e ele à aquecia, enquanto deleitavam-se no olhar um do outro. Das árvores caíam folhas amareladas, casais passeavam por aquela passarela de folhas caídas, pais brincavam com seus filhos, cachorrinhos eram amados por seus donos e, em frente, um senhor sentado com seu livro à esplanada de um café, davam o tom daquele rendez-vous. Era como ouvir “B Minor Waltz” de Bill Evans. Mas ao fundo, era possível ouvir uma dissonância, que de certa forma, causava um certo desconforto. Diante de tamanha beleza, ouviam-se os ecos da dúvida e da angústia que eram confrontados pela confiança no olhar. Os ecos desordenados pareciam encerrar aquele momento, pareciam querer acabar com aquela bela melodia. Por alguma razão, não eram o suficientes para destruir toda a beleza da peça, os olhares mantinham-se fixos um no outro. Era possível ler aqueles olhares como um livro aberto, que causa assombro e deleite. O momento parecia durar mais que os minutos combinados, parecia uma eternidade. Uma eternidade onde tudo ao redor passava, menos o encontrar dos olhares.

Não era um mero jardim, talvez seria muito mais que isso para aqueles olhares. A história escrita em um banco de jardim vislumbrava um outro jardim, um jardim eterno que é cuidado pelo Criador de toda a beleza. Nesse jardim…não há dissonâncias.

By Guilherme dos Santos on March 10, 2020.