A Política no Futebol
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A Política no Futebol

Os grandes clubes do futebol brasileiro funcionam exatamente como uma cidade, um estado ou um país politicamente. Uma parte dos clubes ainda não tem uma votação direta, ou seja, os torcedores não tem direito a escolher o presidente de seu clu...

Gustavo Machado
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Os grandes clubes do futebol brasileiro funcionam exatamente como uma cidade, um estado ou um país politicamente. Uma parte dos clubes ainda não tem uma votação direta, ou seja, os torcedores não tem direito a escolher o presidente de seu clube. Os clubes fazem campanhas para angariar novos sócios que vão engordar a arrecadação, mas não dão o direito deste sócio escolher quem vai gerir os recursos por ele entregue. Esse problema já está sendo resolvido por alguns dos grandes do futebol brasileiro e já foi resolvido por outros, ou seja, em alguns casos hoje no futebol brasileiro, o sócio torcedor do clube, com determinado tempo de associado já pode votar e escolher o presidente que vai gerir seu clube do coração. 

Assim como na política comum, os clubes de futebol também não podem ter candidaturas avulsas, você precisa se associar a alguma facção que está dentro do clube, ter respaldo de alguns caciques que comandam essas facções, para só assim, conseguir lançar uma candidatura que vai concorrer com outros dos demais grupos políticos do clube. Se você ganhar essa prévia dentro do clube, você vai para a votação dos sócios, para neste momento os torcedores escolherem o presidente que vai gerir este clube de futebol. 

Como na política comum, quando você vai fazendo sua candidatura e agrupando grupos políticos a seu lado, você faz uma série de acordos e promessas caso consiga a tão sonhada eleição. Quando você é eleito, essa conta chega na mesma hora, e os grupos políticos que lhe apoiaram, agora vão querer uma fatia do poder que você conseguiu e lhes prometeu. Assim como na política usual, esses acordos podem ser feitos com base em princípios ou com base apenas em poder e influência. 

Em um governo, a pasta de economia talvez seja a mais importante e aquela que normalmente o político eleito não abre mão, ou seja, ali ele vai colocar alguém profissional, que irá cuidar das contas de seu governo com responsabilidade e não irá deixar faltar recursos para que seu governo não afunde. Outras pastas como educação, saúde e segurança também são de extrema importância, mas dependendo do nível de acordo que esse político fez, talvez essas pastas sejam entregues para outros grupos políticos. Em um clube de futebol isso não é diferente, mas aqui o presidente eleito normalmente coloca dois departamentos como prioritários, são eles o departamento de futebol e o departamento de finanças, nestes departamentos são colocadas pessoas profissionais para gerir os recursos que o clube arrecada e para cuidar do maior ativo do clube que é o futebol profissional. Em outros departamentos como o departamento médico, categoria de base e departamento de marketing que também tem muita importância, são colocados os indicados pelos grupos políticos da coalisão. 

Não é atoa que vemos muitos políticos que já geriram grandes clubes do futebol brasileiro se aventurando na política comum, usando da popularidade que conseguiram durante anos dando entrevistas na grande imprensa para conseguir cargos públicos, os dois tipos de gestão são muito parecidos. 

Todos esses esquemas que são feitos dentro da política comum e da política de clube de futebol faz com que a guerra pelo poder tenha um fim em si mesma, não existe uma preocupação com o bem do clube, nos anos em que o Palmeiras vivia uma grave crise, existiam conselheiros que torciam contra o time em alguns jogos porque isso iria enfraquecer os políticos da situação do clube, isso foi normalizado pelos dirigentes palmeirenses na época, mas não duvido que isso aconteça até hoje em todos os clubes do futebol brasileiro. 

Além de perder possíveis investimentos com brigas mesquinhas de dirigentes e políticos, os clubes de futebol e a política partidária são campos férteis para quem quer poder, mas sem responsabilidade. Existe um termo em inglês chamado “accountability” que não existe tradução para o português, esse termo tem um vetor em responsabilidade e outro vetor em poder, ou seja, quando alguém em um alto cargo comete algum malfeito, é necessário trazer accountability para esse indivíduo, o que parece não existir no Brasil, nem o termo e nem a punição para os dirigentes e políticos. 

Talvez o maior exemplo de falta de  accountability hoje no futebol brasileiro seja o Grêmio, o tricolor gaúcho foi esfolado pela atual diretoria colocando pessoas em cargos de chefia de departamentos importantes do clube que eram apadrinhados políticos do atual presidente, essas pessoas ostentavam em seus currículos os cargos de alto escalão em um dos maiores clubes do Brasil, mas não tinham responsabilidade sobre as coisas que aconteciam dentro de seus departamentos. Para finalizar, esse presidente atual do clube foi consagrado por aclamação para seu terceiro mandato há alguns anos pelos mesmos que hoje brigam por uma vaga na presidência do clube, ou seja, falta accountability para os conselheiros que consagraram o atual presidente e também para o próprio presidente. 

O torcedor apaixonado, assim como o eleitor entusiasmado é vítima, ele tem um ideal de clube em sua mente, ele tem nos atletas os seus ídolos, nenhum torcedor tem em políticos os seus ídolos, ele precisa então abrir os olhos para a sujeira que existe, mas nunca perder o lúdico que o futebol pode nos proporcionar.