Porque os Pontos Corridos são uma Violência contra o Futebol Nordestino
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Porque os Pontos Corridos são uma Violência contra o Futebol Nordestino

O campeonato brasileiro de futebol disputado em pontos corridos completou em 2022 a sua vigésima edição. As vinte edições dividiram-se para oito dos principais clubes do futebol brasileiro, o que seria um fator de comemoração se compararmos c...

Gustavo Machado
4 min
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O campeonato brasileiro de futebol disputado em pontos corridos completou em 2022 a sua vigésima edição. As vinte edições dividiram-se para oito dos principais clubes do futebol brasileiro, o que seria um fator de comemoração se compararmos com alguns dos demais principais campeonatos europeus que tem o mesmo formato do Brasileirão, mas o que chama atenção é que todos os oito times que conseguiram ser campeões do Brasileirão disputado em pontos corridos são da mesma região do país. Podemos dizer que existe uma vantagem geográfica para estas equipes? Como o futebol de outras partes do país pode sonhar com um título nacional com essa fórmula de disputa? O futebol nordestino deveria tomar a frente para a mudança desta fórmula de disputa da competição? É o que vamos tentar desvendar neste artigo. 

Em um campeonato de longa duração que premia a regularidade, a equipe com mais investimento irá ter uma vantagem em relação às demais, mesmo que elas também tenham um investimento considerável. Na Premier League por exemplo, a equipe do Manchester City venceu quatro das últimas cinco disputas do campeonato inglês, na Bundesliga, o Bayern de Munique também soma incontáveis conquistas nas últimas temporadas. Durante as competições conseguimos ver alguns tropeços destas equipes, mas como a competição é longa essas equipes conseguem se recuperar para conseguir vencer a competição muitas vezes com uma larga vantagem. Aqui no Brasil, além desta vantagem financeira das equipes com maior poder aquisitivo, ainda temos um tipo de vantagem geográfica que não é considerada na Europa. No Brasil, conseguimos ter duas ou três equipes do nordeste na competição de elite do futebol brasileiro, isso faz com que essas equipes percorram um caminho muito maior do que as equipes que estão localizadas no sudeste. Por exemplo, em 2022 o Fortaleza enfrentou o Avai em Florianópolis no dia 16/06, no dia 19/06 enfrentou o América-MG em Fortaleza e depois foi a Belo Horizonte para enfrentar o Galo no dia 25/06. Em 10 dias a equipe do Fortaleza enfrentou três equipes em jogos difíceis do Brasileirão tendo que viajar por todo um país de dimensões continentais, enfrentando também todos os problemas de transporte aéreo que o Brasil possui. No mesmo período, o Flamengo enfrentou o Cuiabá no Maracanã, logo depois foi a Belo Horizonte enfrentar o Galo e retornou ao Maracanã para medir forças contra o América-MG. O Flamengo terminou a competição com a quinta colocação, enquanto o Fortaleza ficou com o oitavo lugar, será que se tivéssemos um campeonato com uma distribuição maior pelo país o Fortaleza poderia conseguir uma colocação melhor que a do gigante carioca? Ou podemos ir além, o Ceará cairia se tivéssemos alguns clubes nordestinos a mais na competição para o mesmo não precisasse se desgastar tanto viajando pelo país? Nunca poderemos saber as respostas destas questões, mas o que vale é a reflexão.

Durante todas as vezes que o Brasileirão foi disputado em pontos corridos, em nenhuma vez um clube do nordeste vislumbrou a conquista do título, em nenhuma das vinte edições um clube nordestino liderou a competição por mais de dez rodadas, o que nos leva a pensar que esta fórmula de disputa elitiza cada vez mais o futebol brasileiro e exclui da competição uma região apaixonada pelo futebol. O futebol nordestino entra na competição normalmente almejando uma manutenção na elite do futebol, e no máximo uma vaga na Libertadores, que é uma competição de mata-mata muitas vezes muito mais difícil que o próprio Brasileirão. A tendência para os clubes nordestinos caso o Brasileirão continue com a fórmula de pontos corridos é sonhar apenas com a Copa do Brasil para conseguir um título nacional, o que ao meu ver é muito pouco para uma região tão tradicional e apaixonada pelo futebol. 

Uma saída para esse problema é a torcida dos clubes do nordeste e também os próprios clubes tomarem a frente para uma mudança na fórmula de disputa do Brasileirão. Uma competição em pontos corridos, em um país de dimensões continentais exclui uma região grande e tradicional desta disputa pelo título, os clubes do nordeste precisam ter o direito de ao menos sonhar com um título brasileiro. Uma mudança na fórmula de disputa acarretaria um efeito cascata que poderia alavancar todo o futebol do nordeste a um patamar hoje não se vislumbra, mas caso não haja articulação política e nem reação por parte dos torcedores o futebol brasileiro tende a continuar elitizado e excluindo da disputa pelo título brasileiro o futebol nordestino.