O que é o Conservadorismo?
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O que é o Conservadorismo?

Vemos, frequentemente, muita confusão (muitas vezes propositadamente causada) para se definir o que é o conservadorismo. Na semana passada, deparei-me com uma chamada em um jornal classificando o presidente eleito do Peru, Pedro Castillo, com...

Gustavo Wakil
3 min
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Vemos, frequentemente, muita confusão (muitas vezes propositadamente causada) para se definir o que é o conservadorismo. Na semana passada, deparei-me com uma chamada em um jornal classificando o presidente eleito do Peru, Pedro Castillo, como “marxista e conservador”. Essa combinação simplesmente não existe. Como veremos abaixo, o conservadorismo é a antítese do marxismo, qualquer que seja a perspectiva a ser analisada. Afinal, então, o que é o conservadorismo?

Bruno Garschagen, autor dos best-sellers “Pare de Acreditar no Governo” e “Direitos Máximos, Deveres Mínimos”, define o conservadorismo como “disposição, ação política prudente, cética, destemida, ordeira, construtora, pragmática, honesta, antirrevolucionária, antiutópica, popular, restauradora, reformadora das coisas negativas, preservadora das coisas positivas que sobreviveram aos testes do tempo.” Essa é a melhor definição que já li sobre conservadorismo, e sintetiza, em poucas palavras, todo o legado intelectual de grandes autores conservadores, como Roger Scruton, Russell Kirk e Edmund Burke. Conservadorismo não é ideologia e, o mais importante, conservadorismo não é reacionarismo. 

Chamadas de jornal como aquela a que me referi acima, ou posições de personalidades como o ministro do STF Luís Roberto Barroso, criticando um tal “conservadorismo radical” demonstram uma de duas possibilidades: total ignorância sobre o tema ou má-fé. O conservadorismo, em essência, não pode ser radical, e, conforme demonstra a definição de Bruno Garschagen, repudia os métodos revolucionários e utópicos das ideologias políticas, em especial do marxismo. Do mesmo modo, um erro bastante frequente é classificar alguém como “liberal em economia, conservador nos costumes”. O conservador, por definição, tende a ter uma visão liberal sobre a economia. Portanto, não há como ser liberal em economia e conservador nos costumes, na medida em que o que diferencia os liberais dos conservadores são justamente as posições sobre os tais costumes. Ambos têm uma visão liberal sobre a economia. Sobre esse último ponto, Roberto Motta, um dos fundadores e, posteriormente, dissidente do Partido Novo, argumenta, com muita propriedade, que o conservadorismo tem como um de seus princípios básicos “não se intrometer na vida dos outros”, o que é o oposto do estatismo e patrulhamento progressista, muitas vezes confundido com o “ser liberal nos costumes”. 

Certa vez, em conversa bastante enriquecedora com um amigo sobre conservadorismo e liberalismo, ele disse que, na visão dele, conservadorismo estaria excessivamente ligado à religião. Meu primeiro impulso foi negar tal relação, afirmando que conservadorismo não depende e não se relaciona aos dogmas religiosos. De fato, ainda que o conservadorismo tenha como uma de suas bases de apoio grupos religiosos, as posições conservadoras não se relacionam aos mandamentos de qualquer religião. Entretanto, como argumenta Ben Shapiro em sua obra “O Lado Certo da História: Como a razão e o propósito moral tornaram o ocidente grande”, o conservadorismo do mundo ocidental é fundado sob dois importantes pilares: a razão e a moral judaico-cristã. Talvez tenha sido essa a relação a que meu amigo se referia. Partindo dessa premissa, a principal diferença entre o conservadorismo e o liberalismo é que o último tem como principal valor a liberdade individual (o que é diferente da “liberdade” defendida pelo progressismo), enquanto, para o primeiro, a liberdade também é, certamente, um valor importante, mas também o são a moralidade, a ordem e, portanto, a manutenção das instituições sociais tradicionais, como a família e a comunidade local. 

Em suma, o conservador não quer conservar tudo a qualquer custo. Ele defende a preservação daquilo que se mostrou resistente aos testes do tempo e defende que as mudanças sejam feitas de maneira prudente, sem rupturas ou revoluções. Ele se pauta pelo respeito ao próximo, aos costumes e às tradições que fizeram do Ocidente a civilização evoluída que é hoje, ainda que os tempos atuais estejam sugerindo certo retrocesso, causado justamente por políticas progressistas contrárias aos valores defendidos pelo conservadorismo.

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