Os Fascistas Antifascistas
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Os Fascistas Antifascistas

As manifestações realizadas pela esquerda no último domingo (03/07/2021), além de mostrar a hipocrisia que lhe é habitual, revelou (mais uma vez) pontos de reflexão interessantes acerca da relação entre esse espectro político e o (verdadeiro)...

Gustavo Wakil
3 min
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As manifestações realizadas pela esquerda no último domingo (03/07/2021), além de mostrarem a hipocrisia que lhe é habitual, revelaram (mais uma vez) pontos de reflexão interessantes acerca da relação entre esse espectro político e o (verdadeiro) fascismo. 

Se voltarmos no tempo, para além da (falsa) dicotomia entre nazifascismo e comunismo, há de se destacar os pontos em comum entre essas nefastas ideologias totalitárias. Ambas compartilham de partido único; culto à personalidade; estímulos à delação, com a frequente ocorrência de expurgos; retórica anticapitalista e antiliberal; coletivismo; autarquia econômica; exaltação e uso da violência contra opositores; e expansionismo. Historiadores marxistas geralmente diferenciam as duas ideologias pelo suposto “salvamento” do capitalismo, atribuído aos nazifascistas. Segundo tal argumento, apesar da retórica anticapitalista dos nazifascistas, eles teriam controlado o mercado de modo a permitir a continuidade do capitalismo como sistema econômico, ao passo que o socialismo soviético, por exemplo, teria efetivamente rompido com o capitalismo, adotando o socialismo como sistema. Seria, então, a China de hoje fascista? A pergunta é meramente retórica. Como se pode perceber, há muito mais semelhanças do que diferenças entre o comunismo (ou socialismo, já que o comunismo seria a última etapa, nunca alcançada) e o nazifascismo. A principal diferença ideológica diz respeito à forma de divisão da sociedade: em classes sociais no socialismo e por meio das corporações no nazifascismo (além da óbvia hierarquização das raças). O próprio termo “nazismo” é a abreviação, em alemão, de nacional socialismo. Além disso, Benito Mussolini fora, antes de ascender ao poder na Itália, membro do Partido Socialista Italiano e editor do jornal desse partido, o Avanti!. Ressalta-se, ainda, que a URSS e a Alemanha foram aliadas, com o intento comum de dominar e dividir a Polônia, por meio do Pacto Ribbentrop-Molotov, assinado em agosto de 1939, até o início da Segunda Guerra Mundial. A situação só mudou quando Hitler e o Eixo invadiram a URSS, em 1941, na chamada Operação Barbarossa. A rivalidade, portanto, entre comunistas e nazifascistas está ligada muito mais a questões de poder (potencializadas pela desmedida ambição de Hitler) do que a razões meramente ideológicas (ainda que os comunistas tenham, eventualmente, sido, também, alvos dos expurgos nazifascistas).

Voltando à manifestação de domingo, a esquerda, inequivocamente, implementou táticas fascistas (como é de costume), promovendo atos de vandalismo, violência e depredação de bens públicos e privados. O mais interessante, no entanto, foi a defesa, em um ato contra o suposto fascismo de Bolsonaro, de uma figura como Getúlio Vargas. O aclamado “pai dos pobres” foi, esse sim, uma figura autoritária e cujo governo, principalmente no Estado Novo, entre 1937 e 1945, apresentava traços incontestavelmente fascistas. Vargas, assim como Mussolini, se inspirava na Doutrina Social da Igreja; fechou as instâncias legislativas, implementando um governo de partido único; fez uso do culto à personalidade; realizou expurgos; torturou; assassinou opositores; e se inspirou na Carta del Lavoro do duce para implementar a famigerada CLT. Getúlio Vargas foi o mais próximo que o Brasil conheceu de um governante fascista. Sua política externa, pautada pela equidistância pragmática, fazia acenos a ambos os lados no contexto da Segunda Guerra Mundial, ainda que, em parte, por razões comerciais. Em discurso a bordo do encouraçado Minas Gerais, em junho de 1940, Vargas chegou a declarar que “passou a época dos liberalismos imprevidentes...”, em aceno claro aos regimes autoritários vigentes nos países que integravam o Eixo. Vargas, em situação similar à da URSS, só se alinhou definitivamente aos aliados após pressão da opinião pública em decorrência do torpedeamento de navios brasileiros por parte dos alemães. Exaltar Vargas em um suposto ato antifascista é, no mínimo, o ápice da incoerência.

Depreende-se, portanto, que a esquerda segue à risca os ensinamentos de Vladimir Lênin: “acuse-os do que você faz, chame-os do que você é”. Na era dos jornalistas antifascistas, artistas antifascistas e professores antifascistas, criou-se uma nova categoria: os fascistas antifascistas.         

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