“Os filósofos até agora se limitaram a interpretar o mundo de diversas maneiras; mas o que importa é transformá-lo.”
“Os filósofos até agora se limitaram a interpretar o mundo de diversas maneiras; mas o que importa é transformá-lo.” | ||
Leia mais em: https://guiadoestudante.abril.com.br/especiais/karl-marx/ | ||
Neste texto explicarei como a inversão de valores é utilizada como método de transformação e de que se trata tal transformação. | ||
Pois bem, começarei por um exemplo histórico: a Segunda Guerra Mundial. Durante este conflito, as forças ocidentais capitalistas democráticas (Aliados) e orientais comunistas ditatoriais (União Soviética) travaram uma sangrenta luta contra um inimigo em comum: as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) comumente representadas pelo nazismo, que foi o "fenômeno" político social mais violento e extremo, pelo menos em termos teóricos e ideológicos, quero dizer, chama muito mais a atenção uma ideologia que mata, extermina e escraviza por motivos étnicos raciais e preconceituosos do que o velho e há muito conhecido, até para época, imperialismo japonês, que apesar de não compactuar necessariamente com o nazismo, teve efeitos destrutivos similares. | ||
Durante toda guerra, dois aspectos muito importantes e sempre presentes são a guerra de informações e a propaganda. A propaganda antinazista foi amplamente utilizada tanto pela União Soviética quanto pelos Aliados. Tendo a população em massa fixado a ideia de que os nazistas eram os vilões, por indução os Aliados e os comunistas soviéticos se tornaram os heróis, fundamentados numa visão dualística já muito bem consolidada em toda a cultura mundial. | ||
Tendo consolidada essa ideia de "bem x mal", os símbolos de cada um dos lados absorveram por tabela todas qualidades de bom e ruim quase que automaticamente. Usarei de uma analogia para exemplificar: | ||
Quem conhece um pouco sobre cultura pop/nerd sabe que o Superman é um herói. Logo, é do bem. O Superman se torna assim, um símbolo do bem. Porém, para se tornar esse símbolo de heroísmo e bondade, ele precisa de toda uma fundamentação moral. O Superman não é herói porque usa uma capa vermelha, uma roupa azul e aquele símbolo em forma de "S". Ele é herói porque suas atitudes são todas baseadas em um código moral de aceitação geral. Ele faz coisas moralmente aprovadas pelo público, que inconscientemente associa toda essa retaguarda moral ao símbolo. | ||
Sabendo disto, o que acontece: todo grupo político, indivíduo ou Estado, busca vestir um símbolo pré-concebido como símbolos morais e do bem, de maneira que sua fundamentação e retaguarda moral passam despercebidos por um público já muito acostumado a julgar automaticamente pelos símbolos imediatos. É por isso que Stálin não é um símbolo do mal tanto quanto Hitler, mesmo tendo matado ainda mais pessoas, mesmo tendo utilizado de métodos tão cruéis quanto, mesmo tendo mentido tanto quanto e tendo adotado postura e ideologias tão criminosas quanto as do ditador da Alemanha. | ||
Nós observamos esse fenômeno atualmente em várias esferas da realidade. Por exemplo, empresas que adotem os discursos ambientalistas e de inclusão social em suas políticas de marketing tendem a ser vistas pelo público como empresas sérias e preocupadas com as ditas causas, sem que este público julgue moralmente as fundamentações, as atitudes e os impactos reais das ações dessas empresas. O mesmo acontece com políticos: terroristas, assassinos, ladrões e corruptos usam discursos e vestem camisas moralmente aprovadas pelo público, que não se dá conta de que se trata apenas do uso de símbolos desconectados com a experiência real. | ||
Em última análise, uma elite dominante pode, e de fato faz, mudar de discurso dando a entender que se preocupam com o meio ambiente, com o bem estar animal, com a qualidade de vida das pessoas, que por conta dos símbolos apresentados por essa elite, acreditam e aprovam, sem se dar conta de que estes símbolos não condizem com a realidade, e acreditando que essa elite é o grupo que mudará o mundo para melhor, acabam apoiando aqueles que sempre estiveram no topo da pirâmide social e que nunca ligaram para suas mazelas e até mesmo são a causa delas. | ||
Notem: quem financia os grupos de esquerda? Quem financia as ONGs? Quem financia o MST? São os velhos e bons (maus) capitalistas. Capitalista não gasta dinheiro. Investe. Mas como agora vestem a roupinha do comunismo, previamente aprovado pelos cidadãos, passam despercebidos, longe de qualquer julgamento crítico e moral do povo. | ||
Quando damos mais importância à mudança do que ao resultado que esta mudança trará na prática, aprovamos sem perceber uma mudança simbólica e de discurso, sem nos darmos conta de que são os mesmos de sempre, de que são os vilões, mas dessa vez vestidos com a capa dos heróis. |