De que vale o arrependimento de um estorvo?
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De que vale o arrependimento de um estorvo?

Poesia e desabafo de quem já não tem mais nada para se apegar.

Gustavo Guedes Araújo
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Desalinhado e envolto em uma instável esperança, sorvo lamuriosamente mais uma dose dessa ruidosa solidão, cujo conteúdo não parece ter fim.

Veja como a vida é indecifrável e como esta debilidade que batizamos ingenuamente de sentimentos é inconstante. Há não muito tempo eu regozijava do amor e me encontrava aturdido por cada pequeno ato esplendoroso do ser angelical que amava. Na vida nada me importunava, exceto os contratempos que me impedia de estar amando-a todo o tempo. Estava tão certo de que já a tinha para sempre, de que seu amor por mim era intacto e ilimitado, que me conformei a conquistá-la mensalmente, não diariamente. 

A certeza é ilusória e ao contrário da incerteza, suas angústias são silenciosas e travestidas em uma pseudo-segurança. Quem dera eu tivesse escolhido me alimentar da incerteza naquele banquete de opções que tive, se fosse assim eu ainda me embebedaria do prazer que é ser amado pelo mais sublime ser já criado por Deus. 

O amor era a ultima ponte entre eu e esse mundo comum, frívolo, superficial e materialista em que sou nada além de um forasteiro; era o ultimo centelho de sociabilidade que havia em mim; e aquilo que domava a minha ignomínia natureza bestial. Agora só me resta o exílio eterno, só me resta definhar por completo,até que eu me torne apenas um ornamento carnal deste mundo e viva exclusivamente em minhas próprias fantasias psíquicas e espirituais.