Depoimento de uma alma perdida

Um caminho cheio de obstáculos é tudo o que temos. Poderíamos enfrentá-los, se ao menos estivéssemos enxergando, mas não apenas estamos cegos, a escuridão que nos cerca só torna tudo mais difícil.

Às vezes a faísca que pode reacender minhas esperanças dá um sinal, mas a tempestade que acompanha a escuridão a apaga em questão de segundos, impossibilitando qualquer mísero raio de luz.

São tempos difíceis. Não posso comparar com outras épocas, essa foi a que nasci, é essa a que eu vivo, e por todas as vozes que o forte vento dessa tempestade leva e traz, tudo indica que essa também será a época em que eu morrerei. Queria poder pensar o contrário, queria acordar pela manhã e ficar feliz ao ver o sol nascendo, queria dormir à noite e não sentir medo do amanhã, porém nada disso é possível.

Sou uma presa em um mundo que fabricam predadores. Sou uma pena que está caindo lentamente em um mar de fogo. Sou a lágrima da tragédia da terça, que ao sábado ninguém mais se recorda. Sou a alma perdida, não enxergo, não sinto, não ouço e nem tenho voz. Sou a dor silenciosa, a futilidade, o inútil, o sonhador no meio dos que não dormem, o oitavo pecado capital. Eu sou irrelevante.

By Gustavo Guedes Araújo on May 11, 2021.