Lamúrias de um soberbo
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Lamúrias de um soberbo

Apenas lamentações de um sonhador que se recusa a aceitar a realidade.

Gustavo Guedes Araújo
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A incapacidade que sinto é resultado do meu modo irreal de ver a vida.

Quem foi o primeiro ser humano a inserir na minha cabeça, essa estúpida ideia de que eu sou alguém especial? Ou será que eu mesmo aceitei essa ilusão, apenas para ter alguma razão para viver.

O objetivo de ser diferente se tornou minha grande obsessão, a crença de que estou destinado a algo grande é quase um mandamento para mim, o sonho de ser importante, um artista, um gênio, de mudar a minha vida, mudar a vida daqueles que eu amo. O sonho de mudar o mundo inteiro...

A dor de descobrir que eu sou comum, depois de toda uma vida acreditando que eu fosse algo a mais, é imensurável. A realidade é que sou somente uma formiga em uma terra de gigantes e que devo voltar logo para o meu formigueiro, caso eu queira continuar vivo. No entanto, isso é praticamente impossível.

Como fazer parte de um sistema que é alvo de todas as suas críticas? Como agir igual a todos os robôs alienados e cômodos com o caos? Como sobreviver? Como aceitar que eu não sou especial, sendo que eu não me sinto normal? Eu não sei nenhuma dessas respostas.

Alguns dizem que a vida é assim mesmo, que a felicidade está nas coisas mais simples, que é bom deixar as coisas acontecerem e ter fé. Outros me dizem que a vida é assim mesmo, que a felicidade é uma mentira, a tristeza é a única possibilidade e que a esperança é irrelevante. Passei a aceitar isso.

Minha vida não é a pior de todas, meus medos não são piores, meus sonhos não são melhores, assim como meus propósitos, assim como eu. Eu não sou melhor, do que ninguém, embora seja pior que muita gente.

Lamento deitado na minha cama, enquanto muitos sorriem sem ter sequer onde dormir. Reclamo da minha simples vida, enquanto muitos são gratos apenas por viver. Eu sou fútil, podre, a escória da terra. Nem especial, nem normal, nem bom, nem mal. Alguém esquecível, um figurante. Um Sr. Ninguém...

Crio problemas apenas para sentir o alívio das soluções. É o quão contraditório eu sou.