O velho e o mar é mais que uma história
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O velho e o mar é mais que uma história

Santiago é um velho pescador que, embora seja muito respeitado pelos mais velhos e por seu aprendiz, perdeu a sorte e já não pesca um…

Gustavo Guedes Araújo
4 min
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Photo by sasan rashtipour on Unsplash

Santiago é um velho pescador que, embora seja muito respeitado pelos mais velhos e por seu aprendiz, perdeu a sorte e já não pesca um peixe há 84 dias. Pronto, isso é o suficiente para sabermos que a situação não está nada fácil para o velho, que depois de um tempo acabou perdendo seu aprendiz, o que só tornava tudo mais complicado. Porém, mesmo com tantas dificuldades, o fator que mais fisga a atenção neste livro escrito há 59 anos, pelo autor americano, Ernest Hemingway, é a determinação que o protagonista tem; ele nunca desiste, por mais que todas as chances estejam contra ele, por mais que nada pareça que vá dar certo, ele está sempre tendo fé e seguindo em busca do seu objetivo, que é pescar um peixe maior do que o seu bote.

Santiago tem uma vida bem humilde, no entanto, não se importa muito com isso, é bem difícil que alguma coisa o faça reclamar, e isso é algo admirável (não a pobreza, sim o jeito que ele leva a vida), nem a fome o afeta, e ele só pretende comer, para no próximo dia ter força suficiente para uma nova tentativa de pescaria. A solidão também é algo que o circula; tendo perdido sua mulher, a única companhia que Santiago tinha era a de seu aprendiz, que, por ser menor de idade, foi obrigado pelos pais a deixar o barco do velho, por conta da má sorte, contudo, mesmo não pescando junto ao velho, o garoto Manolin manteve firme a sua admiração e continuava o ajudando todos os dias, ao sair e ao chegar, buscando alimentos, e principalmente, dando atenção e espaço para o velho conversar com alguém.

No 85° dia, Santiago sai confiante de que irá conseguir pescar, não apenas um peixe comum, mas sim um peixe grande, muito grande. Por isso, ele sai do lugar que estava habituado a pescar e vai para um mar mais aberto. É evidente o conhecimento de Santiago, que mesmo sozinho, mantém diversas varas no mar, ao mesmo tempo, sempre tendo noção da quantidade, tipo de peixes, corrente marítima, possíveis mudanças de clima, e até mesmo um conhecimento fora do comum em relação à geografia, pois mesmo sem uma bússola, ele sabe onde está a todo momento.

Apesar da história ser basicamente um velho homem em busca de um peixe, não é um livro sobre pescar, é bem mais profundo que isso. A todo instante vemos o quanto o velho é solitário, pois ele fala sozinho, não porque é louco, e sim porque está em alto mar, e se sente sozinho, repete sempre que sente falta do rapaz, que se ele estivesse lá tudo seria diferente, conversa com os peixes e aves, e mesmo quando encontra um peixe e decide fisgá-lo, sente empatia pela criatura. A busca da tão sonhada pesca, acaba se tornando uma obsessão, que faz com que o bote seja conduzido por dias e noites pelo peixe, enquanto Santiago, com muita dificuldade, segura a linha firmemente. Mesmo com dores, mesmo com cãibra, mesmo com fome e sede, o velho não desiste jamais; o objetivo dele estava ali na sua frente, aquele peixe imenso poderia o tirar da pobreza extrema, poderia alimentar várias pessoas, não, melhor ainda, poderia trazer de volta o seu grande renome que tivera em outras épocas, Santiago, o campeão. Depois de muito sofrimento e quase não aguentar mais fisicamente, e psicologicamente, o velho consegue matar o peixe com um arpão e o amarra em seu bote. Porém, enquanto volta para a vila que morava, é atacado por tubarões, que vinham intermitentemente e levavam sempre alguns quilos de carne do imenso peixe, até não sobrar mais nada. Santiago matou alguns, perdeu seu arpão, perdeu sua faca, perdeu seu martelo, perdeu até mesmo o seu remo, mas de nada adiantou, dias e noites lutando com um só objetivo em mente, para perdê-lo totalmente em questão de algumas horas.

Não foi um final bom para o nosso velho Santiago, eu gostaria de vê-lo feliz, gostaria que ele vendesse o peixe, que tivesse mais comida em casa, que pudesse descansar mais e que pudesse acompanhar as notícias do baseball, que ele tanto gostava. Todavia, O velho e o mar é uma demonstração de que, assim como os pescadores traem os peixes, a vida pode nos trair, nos dando tudo, e em pouco tempo, levando tudo de volta.

Mesmo não tendo o final feliz, a mensagem que Hemingway tentou passar, está na força de vontade do velho Santiago, que mesmo com tantas dificuldades, sejam físicas, psicológicas, financeiras, e mesmo com os obstáculos da natureza, não desistiu em nenhum momento, sempre lutando com orgulho e mantendo-se forte.

É sem dúvidas um livro muito mais motivacional que o muitos desses livros de autoajuda que fazem sucesso hoje em dia (nada contra). Pessoalmente, me motivou a aprender mais sobre literatura, filosofia e sobre a vida; me motivou a continuar vivendo e enfrentar de cabeça erguida todos os problemas que tenho e que terei; me ensinou que eu posso até não vencer a batalha, ou a guerra, mas devo manter-me firme e forte; e principalmente, me motivou a continuar escrevendo, mesmo que seja um caminho doloroso e solitário.

Escrever não é nada demais. Só que eu faço é me sentar à máquina de escrever e sangrar.

  • Ernest Hemingway

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By Gustavo Guedes Araújo on February 25, 2021.