Este texto reflete sobre a busca constante pela felicidade e como muitas vezes projetamos nossa felicidade em objetivos externos, que, quando alcançados, ainda deixam um vazio interior.
Há fábula antiga intitulada "A parte que falta". Conta-se que havia um círculo que, desafortunadamente, lhe faltava um pedaço, o qual o levava a percorrer incansavelmente em busca da parte ausente. Durante sua jornada, deparou-se com vários fragmentos que não se ajustavam adequadamente, até que, enfim, encontrou um pedaço que se encaixava perfeitamente. Contudo, após juntar a parte que lhe faltava, percebeu que estar completo não era tão satisfatório assim. Desapegou-se, então, daquela peça, voltando a sua busca incessante por outra parte que pudesse saciar-lhe. | ||
Tal fábula ilustra que muitas vezes, ansiamos por sentir falta de algo, projetando nossa felicidade em algo que não possuímos. No entanto, ao alcançar tal objetivo, percebemos que ainda algo nos falta, e que fomos impulsionados pela busca incessante. Encontramos o que tanto desejamos, mas o desconforto e o vazio interior ainda persistem. Por vezes, projetamos a felicidade em objetivos, nas coisas que nos faltam, e ansiamos em chegar lá. Contudo, quando chegamos, descobrimos que não há um fim definitivo. | ||
Assim como a borboleta que já é dotada de uma beleza sublime, muitas vezes, choramos o que já não somos. A lagarta, por exemplo, podia sonhar em ser uma borboleta, com uma beleza superior àquela que alcançou. A realidade nem sempre é semelhante à fantasia, e o sonho realizado nem sempre é tão prazeroso quanto o imaginado. Imaginamos que seremos felizes quando alcançarmos a maturidade, riquezas, casamento, casa própria, viagens a lugares exóticos, fama ou reconhecimento. Sempre projetamos a felicidade um passo adiante, mas a cada passo, ela parece ainda mais distante. | ||
À medida que envelhecemos, não há mais o que sonhar, não há mais vida pela frente. Por isso, ansiamos pelo tempo da infância, onde podíamos sonhar com o futuro que desejávamos. No fim, somos como cachorros correndo atrás de carros. Se alcançarmos, não saberemos o que fazer. Automaticamente, nossas fantasias precisam ser irrealistas, pois, no momento em que alcançarmos, desistiremos, e não quereremos mais aquilo que buscamos. | ||
Para que possamos existir, nosso desejo deve ter um objeto eternamente ausente, pois, no fim das contas, não é o objeto que desejamos, mas a fantasia que o envolve. O desejo sustenta fantasias impossíveis. Dizemos que caçar é melhor que matar, ou "cuidado com o que deseja", não porque não conseguiremos, mas porque fatalmente, não quereremos quando conseguirmos. |