Um dos segredos na construção de personagens
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Um dos segredos na construção de personagens

Para construir uma boa história é necessário ser muito profundo no desenvolvimento de seus protagonistas

Marcelo Andrighetti
3 min
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Existem diversas camadas de aprofundamento quando o assunto é desenvolver um personagem! Escrever uma história requer um bom domínio desse quebra-cabeça que costumo chamar de "desenho de representações". Este é um tema profundo que envolve uma construção bastante complexa.

No entanto, hoje eu quero lhe falar sobre algo um pouco mais específico: a importância do domínio completo do protagonista e do universo que ele habita. Vamos nessa?

>>> Se você deseja se aprofundar na construção de uma história clique aqui.

o escritor Josué Guimarães ao lado de sua fiel companheira, a máquina de escrever
o escritor Josué Guimarães ao lado de sua fiel companheira, a máquina de escrever

Há poucos dias terminei a leitura do livro Camilo Mortágua, de Josué Guimarães. Lançado em 1980, meu primeiro contato com o livro havia sido em 2006 quando prestei vestibular pra jornalismo.

Por algum motivo qualquer, ano passado me debrucei por outros títulos do autor gaúcho. E então decidi reler a saga da família Mortágua, que explora a decadência ruralista e questiona as bases do capitalismo citadino.

Existem estudos incríveis sobre a obra deste escritor gaúcho.

E se você tiver interesse em se aprofundar, mesmo que nos primeiros metros do iceberg narrativo, a conversa abaixo, entre o jornalista Juremir Machado e o escritor Luís Augusto Fischer, pode ser um belo ponto de partida.

Camilo Mortágua é uma história centrada no conteúdo. Ele possui uma forma tradicional, sem uma construção singular em sua linguagem. Mas, quero lhe dizer, isso não reduz em nada o "tamanho" da obra.

Ao contrário: com a sua escrita simples (e não simplória, veja bem) o autor nos possibilita enxergar alguns pontos cruciais, como por exemplo, o ambiente em que a trama se desenrola, o período histórico em que os conflitos se dão, a verossimilhança com fatos reais e, o mais interessante, o conhecimento biográfico do personagem principal.

Personagens não podem ser OCOS!

O livro de Josué Guimarães narra cerca de 60 anos do protagonista. O escritor gaúcho tem um domínio completo do que ocorre com todos que fazem parte da história. Não há ninguém perdido no universo criado. E isso é muito difícil de desenvolver.

A dificuldade não está no fazer, mas sim no acreditar. Vejo muitos alunos com escrita precoce: cheios de tesão pra colocar tudo no papel, mas sem sustentação. As ideias ficam vazias. As linhas engordam de tanto que o autor deseja se mostrar. A gordura faz mal e entope o fluxo. Ou teremos narrativas cheias de ego ou páginas guardadas na gaveta.

Pra que isso não ocorra é necessário ter em mente duas palavras.

Resiliência e método.

  • Resiliência... força de vontade pra testar, testar e testar. Acreditar que a escrita em paralelo à história é o que faz a própria história crescer. O bom autor conhece cada pedaço invisível da sua criação e utiliza esse saber nas entrelinhas.
  • Método é essencial. É assim que o escritor cresce. Um bom método permite que cada palavra seja vista como um aprendizado e uma evolução. Se você não possui uma base de repetição criativa, a cada nova página em branco vai precisar tentar e tentar e tentar novamente.
O livro está disponível na Amazon (físico ou e-book)
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Recomendo a leitura de Camilo Mortágua...

Recomendo que os seus personagens sejam construídos com tempo de maturação, sem pressa – que você entenda cada vez mais a importância disso.

Cada vírgula ao seu tempo. Cada parágrafo no seu momento.

Se você deseja construir boas histórias, pode contar comigo.

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Até breve.