Sociedade Anônima do Futebol (SAF), a nova fronteira do capitalismo no futebol brasileiro
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Sociedade Anônima do Futebol (SAF), a nova fronteira do capitalismo no futebol brasileiro

A aprovação da lei regulamentado a Sociedade Anônima do Futebol, a SAF, em agosto de 2021, criou a possibilidade de uma nova natureza jurídica para clubes de futebol. Foi a consequência do avanço do capital sobre o mercado brasileiro e a sua ...

Hugo Müller
3 min
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A aprovação da lei regulamentado a Sociedade Anônima do Futebol, a SAF, em agosto de 2021, criou a possibilidade de uma nova natureza jurídica para clubes brasileiros de futebol. Foi a consequência do avanço do capital sobre o mercado brasileiro e a sua economia do futebol. Quando digo avanço do capital me refiro diretamente ao controle e a mercantilização dos meios de produção do futebol: os clubes de futebol. Em outras palavras: transformar o futebol em mercadoria. Mas não em qualquer mercadoria, pois a antiga economia do futebol brasileiro sempre operou a transformação do trabalho – jogadores e profissionais do esporte - em mercadoria. A onda das SAFs pretende transformar o trabalho esportivo em uma mercadoria ainda mais vendável e com maior valor.  

A caquética economia do futebol brasileiro é burocrática e disfuncional. Ruiu a (minha) utopia de clubes enquanto associações, sem donos, aliando a gestão esportiva moderna com um sistema político democrático e plural para os sócios e torcedores. Veja o caso do São Paulo Futebol Clube, há pouco tempo tentou aprovar um novo estatuto concentrando ainda mais poderes políticos. As ações dos “cartolas” não indicam nada de novo.  Essa velha economia do futebol brasileiro não acompanha mais os anseios cada vez mais poderosos das corporações de gestão esportiva. A venda do Cruzeiro Esporte Clube para um grupo de gestão esportiva capitaneada pelo ex-jogador Ronaldo Nazário, a compra do Botafogo Futebol e Regatas pelo empresário estadunidense John Textor, o já consolidado caso do Bragantino comprado pelo grupo Red Bull e os atuais interesses do City Football Group no Esporte Clube Bahia indicam que o Brasil é um mercado propício para a expansão de um capitalismo capaz de gerar mais capital. Uma nova e promissora fronteira para os grupos multinacionais de gestão esportiva.

Tais grupos obtém investimentos de diversas formas, desde investidores procurando novas áreas para ganhar dinheiro, caso do John Textor que começou na área da produção audiovisual e transmissões de streaming, até investimentos estatais por interesses geopolíticos, caso do grupo QSI ligados ao governo do Qatar e atual dono do Paris Saint- Germain. Na área esportiva, as SAFs devem trazer uma evolução aos departamentos técnicos renovando velhas e engessadas concepções táticas e de treinamento do futebol brasileiro. No âmbito político dos clubes é inegável uma concentração de poderes para os donos que os compraram. Na questão social, o avanço das SAFs preocupa visto que a visão estritamente ligada ao lucro deve ser incompatível com o acesso dos mais pobres aos estádios.

O momento para o avanço dessa fronteira não podia ser melhor para as empresas de gestão esportiva: moeda brasileira desvalorizada, clubes brasileiros com dívidas crescentes, insuficiência do Profut enquanto programa de responsabilidade fiscal etc. As SAFs estão chegando aonde há uma mão-de obra, ou pé-de-obra, qualificada e em grande quantidade. É inequívoco que terá impactos para o futebol mundial. Quem resistirá ao avanço dessa fronteira no Brasil? Corinthians? Flamengo? São clubes com capilaridade social e com força econômica e política. Serão estes capazes e interessados de manter viva a utopia de um futebol democrático e ao mesmo tempo com as práticas administrativas e esportivas eficientes?