Deserto Particular, um filme necessário
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Deserto Particular, um filme necessário

Cheguei atrasado, confesso. Mas, “antes tarde do que nunca”, como dizem todos os retardatários. Quero fazer um acréscimo substancial à decadente lista de “melhores filmes do ano”, ainda acerca de 2021. “Deserto Particular” foi o escolhido pel...

Jefferson Silva de Santana
3 min
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Cheguei atrasado, confesso. Mas, “antes tarde do que nunca”, como dizem todos os retardatários. Quero fazer um acréscimo substancial à decadente lista de “melhores filmes do ano”, ainda acerca de 2021. “Deserto Particular” foi o escolhido pela academia brasileira de cinema para nos representar no polêmico Oscar do ano passado, acredito que a palavra “polêmico” faça cada vez mais sentido com o passar do tempo… O que realmente faz bastante sentido é Deserto Particular ser o ápice da sétima arte brasileira em 2021. É a mais concreta ironia objetificada em um contexto dissonante, em que a ficção diz mais acerca da realidade do que o próprio real.

Maravilhoso, esta é a palavra-chave. Deserto Particular conta a conturbada historia de Daniel, um instrutor da polícia (obviamente Militar, mas ocultada pelo diretor, por questões bem nítidas), que através de um erro seu, acaba colocando em risco a vida de um de seus comandados e consequentemente a sua carreira. Desolado, Daniel acha abrigo em Sara, mulher que encontra na internet e acaba nutrindo e depositante um sentimento cada vez mais intenso e verdadeiro. Sara se torna um subterfúgio de processos de negação que Daniel presenciou em todos os dias da sua vida. Em determinado momento de desespero, Daniel sai de Curitiba para Sobradinho na Bahia em busca do seu grande amor. Aqui, gostaria de pedir licença e dar um spoiler necessário, se você tiver algum problema com spolers recomendo que o engula e leia até o filme, este vai dizer muito sobre o principal motivo para se assistir Deserto Particular. Sara nunca foi APENAS Sara, Sara também era Robson, que também é um tapa com luva de pelica em tempos de canalhas como Bolsonaro. Sim, Deserto Particular é um ROMANCE que se apresenta enquanto GAY no decorrer de um enredo belamente esmiuçado pelo fantástico diretor Aly Muritiba, que diferentemente dos dramalhões hollywoodianos, não nos entrega um filme escandaloso sobre a inferiorização da condição homossexual, como doentia e decante. Aly nos entrega uma bonita e triste historia de amor e descobertas em um mundo ditado pelo preconceito, pela religiosidade imposta e por um governo putrefato. Deserto particular é um filme político, porque amar nestas condições é um ato de posicionamento politico, é impor a sua existência acima do status quo repressivo, preconceituoso, criminoso e covarde.

Por fim, recomendo mais do que nunca Deserto Particular. Assista e se emocione tanto quanto eu com o amor de Sara (Pedro Fasano) e Daniel (Antonio Saboia). Meus parênteses, grifos e acréscimos infinitamente positivos a estes dois atores fenomenais, Pedro e Antonio que me presentearam com as lagrimas mais necessárias em um romance que nunca imaginei que precisasse tanto assistir. Deserto Particular não ganhou o Oscar, nem mesmo chegou entre os principais indicados (azar o deles), mas ganhou o meu afeto de todos que acreditam que nós vamos vencer, afinal, essa é a única opção.

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