Os homens e a fé
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Os homens e a fé

Cada frase dita por Santo Agostinho em Confissões induz à reflexão, tamanha profundidade têm tais escritos. Poucos homens foram capazes de fazer um exame de consciência tão elaborado e sério.

João Neto
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"Então, Tu, ó Senhor, pouco a pouco, com mão suave e cheia de misericóridia, tocando e preparando o meu coração, persuadiu-me a considerar as inúmeras coisas em que acreditei mesmo sem ver, sem estar presente quando aconteceram, como tantos eventos da história secular, tantos relatos de lugares e cidades que nunca vi, ou minha relação com tantos amigos, tantos médicos, tantos inúmeros outros homens, nos quais, a menos que acreditássemos, não faríamos nada nessa vida." 

Cada frase dita por Santo Agostinho em Confissões induz à reflexão, tamanha profundidade têm tais escritos. Poucos homens foram capazes de fazer um exame de consciência tão elaborado e sério.

A passagem acima é de quando o Santo de Hipona havia abandonado o maniqueísmo - muito influenciado pelos discursos de Santo Ambrósio - e já era até mesmo catecúmeno da Igreja Católica. No entanto, Santo Agostinho ainda tinha dúvidas. Nas palavras do próprio, ainda não tinha alcançado a Verdade, mas sido resgatado da mentira. Estava, por assim dizer, preso em um limbo agoniante.

Tal citação evidencia a dificuldade que nós, pecadores, temos em confiar na palavra e na doutrina que Deus nos deixou. Inconscientemente, confia-se no próprio homem em detrimento de Deus, o Criador de tudo que existe. o Homem acredita em variadas coisas, mesmo sem as ver, mas tem dificuldade em acreditar que existe fé porque ele deseja enxergá-la. Em quantas coisas nós acreditamos, sem exigir maiores provas? Abrem os olhos para as criaturas, enquanto os fecham para o Criador.

Basta que sejam apresentadas apenas algumas vezes, que o homem - como um boneco - reconhece com facilidade as leis da física e as fórmulas matemáticas. O mesmo homem, porém, continua teimoso, insistindo que não exsite pecado e purgatório. Em vez disso, prefere acreditar em vãs teorias que reduzem a existência ao materialismo ou ao mero "desenvolvimento pessoal", que nada mais é do que uma máscara bonita para o monstro do egoísmo e da soberba.

Os símbolos linguísticos universais - as línguas - são faladas por todos os habitantes de seus respectivos países ainda quando são crianças. Quando crescem, regras e mais regras gramaticais são ensinadas e retidas para todo sempre na cognição de quem as aprende. Não há preocupações. Todavia, questionam a veracidade das Escrituras.

De olhos fechados, homens acreditam que podem atingir a perfeição física e realizarem feitos outrora questionáveis e ditos impossíveis por muitos. Treinam seus corpos e de fato o fazem, chocando a todos, inclusive eles mesmos, impressionando-se com o que seus músculos são capazes de fazer com precisão quase robótica. Os mesmos têm dificuldade de acreditar - e escarnecem de quem acredita - que é possível imitar a Deus, sacrificando os próprios prazeres para chegar um pouco mais próximo Dele. Quando morrem e recebem a coroa dos santos pela Igreja, os homens zombam e questionam o próprio Jesus Cristo, que disse para que todos busquem a santidade em vida.

Santo Agostinho diz que tais questionamentos não devem ser levados em consideração, pois nada pode arrancar de um cristão a percepção de que Deus existe. Em outras palavras, até hoje ninguém nunca refutou a fé. Se estão longe dela, não conseguem refutá-la porque não a conhecem; e, se chegam perto demais, ela os converte.