Imperiano de fé, samba e bola

Futebol e samba são pilares da identidade brasileira. Caminham juntos não apenas no imaginário coletivo, mas também em suas próprias trajetórias. Com mais de 70 anos de história no carnaval, o Império Serrano estreou um time de futebol profissional no Campeonato Carioca da Série C, a quinta divisão do Rio de Janeiro. O empreendimento imperiano dá fé a esta união de dois componentes importantíssimos da nossa construção. E não está só. Os diretores da Inocentes de Belford Roxo, que disputa o Grupo de Acesso do carnaval, criaram um novo clube de futebol na cidade. A equipe também está na Série C.

A relação entre futebol e samba, especialmente das agremiações carnavalescas, é quase intrínseca. Algumas escolas foram formadas a partir de times de peladas dos bairros. Outras já tiveram o esporte e seus craques como enredos dos desfiles. A tradicional Mocidade Independente de Padre Miguel surgiu da empolgação de um grupo de amigos do Independente FC, time amador da Zona Oeste. Os pés que corriam e chutavam, ficaram ainda mais quentes quando sambavam, ao final das partidas. As confraternizações sempre acabavam em samba e foram o começo da trajetória de uma das mais conhecidas escolas de samba do Rio de Janeiro.

Pegando o trem e metrô, da Zona Oeste para a Zona Sul, conhecemos um caso parecido. A São Clemente foi criada a partir do time de futebol de praia homônimo, que segue em atividade. A influência da bola está presente até nas cores da bandeira da São Clemente, inspiradas no Peñarol, do Uruguai. A escola veio, sacudiu a poeira e mexeu na geografia do carnaval carioca.

A União da Ilha do Governador é mais uma agremiação que teve origem no futebol. O União Futebol Clube representava o bairro do Cacuia nos campeonatos insulanos. A escola foi idealizada para disputar os desfiles das escolas de samba da própria Ilha. Sem saber como seria o amanhã, os fundadores acabaram dando vida a uma das mais queridas escolas de samba da cidade.

Além da formação, já com as escolas de samba consolidadas na cultura do Rio de Janeiro, há registros de jogos amistosos e até torneios amadores envolvendo integrantes das agremiações. Alguns patronos como Castor de Andrade e Luizinho Drummond circularam pelos dois mundos. Castor na conhecida relação com Bangu e Mocidade. E Drummond que chegou a ser dirigente de Bonsucesso e Botafogo enquanto também comandava a Imperatriz Leopoldinense. Nenhuma iniciativa, porém, parecida com a do Império Serrano e, indiretamente, o Belford Roxo.

Estima-se que a filiação de um clube novo junto à Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro atinja a faixa dos R$ 200 mil. O futebol imperiano prevê ainda ações de integração com o sócio-torcedor da escola e projetos sociais, inclusive abrindo espaço para jovens do Morro da Serrinha que sonham com uma carreira no futebol. Os jogos do Império Serrano, quando mandante, serão realizados no Estádio Aniceto Moscoso, do Madureira. As partidas em casa contam com transmissão pelo canal do Império no YouTube. Além do quase companheiro carnavalesco Belford Roxo, o Reizinho de Madureira terá pela frente Barcelona e Juventus. Não os famosos, mas sim homônimos dos gigantes europeus. Nove vezes campeão do carnaval, o Menino de 47 agora quer pisar forte no asfalto e nos gramados.