O tempo fechado naquele fim de tarde de inverno atraía poucas pessoas para a praia, não a nós. Eu e Gabriel estávamos lá disputando nossa final de Copa do Mundo nos pênaltis. Um gol, uma defesa, uma comemoração. Havia mais alguém. Um mergulh...
O tempo fechado naquele fim de tarde de inverno atraía poucas pessoas para a praia. Eu e Gabriel estávamos lá disputando nossa final de Copa do Mundo nos pênaltis. Um gol, uma defesa, uma comemoração. Havia mais alguém. Um mergulho depois de encerrado o jogo. O frio retardava a secagem do corpo. Não éramos mais crianças. Dois adolescentes olhando para ela saindo do mar. |
“De onde ela surgiu?”, me perguntou Gabriel. “Ela não é do bairro, não é da sua escola… onde você arrumou essa garota?”, continuou ele. |
“Da vida”, respondi. |
“Como?”, insistiu ele se virando para mim. Nessa hora percebi que Gabriel estava saudável, com o corpo mais forte do que eu poderia imaginar. Não consigo lembrar do seu rosto. |
“Não sei ao certo, cara. Ela simplesmente apareceu. Não temos ninguém em comum”, disse eu sem saber direito o que falava. |
“Isso é estranho, cara. Mas pode ser bom. Vocês não tem laços, não tem histórias. Nada prende vocês a não ser vocês próprios, o que vocês sentem. Você só vai ser quem você quer ser, se você colocar isso em prática. Você está com alguém que não te lembra nada. Isso é perfeito para enterrar todo passado, toda dor, toda pressão e influências. Quem sabe assim você finalmente se encontre com o seu verdadeiro ser, meu amigo”, me disse ele com os olhos fitando o mar. |