Capítulo 18 - Vida OnLife
0
0

Capítulo 18 - Vida OnLife

“Minha cachorra, não sei o que vou fazer. Sei que com esse pessoal que comprou o petshop não vou deixar. Entrei no Instagram da outra loja deles e vi um monte de reclamação. Tem gente falando que eles não cuidam direito, que o cachorro voltou...

BeeJM
6 min
0
0

“Minha cachorra, não sei o que vou fazer. Sei que com esse pessoal que comprou o pet shop não vou deixar. Entrei no Instagram da outra loja deles e vi um monte de reclamação. Tem gente falando que eles não cuidam direito, que o cachorro voltou do banho ainda com cheiro ruim. Vi um monte de gente falando mal deles lá e….. Quero dizer. Eu não, a Joana, minha amiga aqui da rua, ela que viu e me falou. Você sabe que eu não entro em Instagram, né?”, disse Taysa. Tentei segurar o riso, mas ele escapou pelo canto da boca.

“Sei sim, não entra. Sei”, disse em tom irônico.

“Do que você está rindo, João? Não entende a gravidade disso?”, falou ela.

“Não, não entendo. Acho que é uma coisa superficial. Procura aí no Instagram outro pet shop, isso não é um problema”, respondi rindo ainda daquele teatro que ela tinha armado para fingir que não entrava no Instagram para parecer ser uma pessoa descolada.

“Você tá bobo. Rindo a toa. Você não é assim. O que está acontecendo?”, insistiu Taysa.

Quando começamos a conversar Taysa havia me dito que não entrava no Instagram e que odiava essa vida em redes sociais. Quando a adicionei vi que de fato havia alguns poucos meses que ela não postava nada, mas essa mudança era recente. Antes Taysa tinha mais de mil publicações e mais de três mil seguidores. Ela ostentava na sua conta uma vida de quem vivia viajando para exterior, todas suas postagens eram de fotos fora do Brasil. Essas viagens eram 90% a trabalho, mas isso ela não falava nas postagens. Além da sua conta pessoal, Taysa tinha uma outra conta da sua cachorra. 

“Entro só para ver as coisas do trabalho”, dizia ela. Não havia porque mentir. Seria absolutamente normal uma pesquisa para ver qual é a reputação do local aonde seu cachorro será cuidado. Todo mundo faz isso hoje em dia e ninguém é menor por fazer, pelo contrário. Mas ali não estava em jogo para ela a sua preocupação, o importante era manter o seu personagem de uma pessoa diferente da maioria e esconder que ela vivia uma vida dupla de quem falava que não tinha vida online e que se importava com a o mundo real, sendo que ela entrava sim e se importava com as redes sociais. Seu online era escondido, como se fosse um crime.

“Taysa, por que você não fala que foi você que entrou no Instagram? Por que mentir sobre isso? Tá ridiculamente hilário esse papel, cara. Só para”, disse eu gargalhando. 

“Não entrei. Foi a Joana, a Joana que não sai do Instagram. Fica futucando tudo o dia todo. Não faz nada da vida Eu não entro”, repetiu ela contando a tentar disfarçar o seu deslize na hora do desabafo. Eu ri mais. “Você bebeu, João?”, perguntou.

“Bebi… bebi e fumei. Combo todo. Acho que é por isso que estou achando graça. Se estivesse de cara estaria era puto com essa sua cena, mas estou me divertindo”, respondi.

“Fumou? Fumou o que?”, perguntou ela em tom julgador de incredibilidade.

“Maconha, erva, a verdinha, o cigarrinho natural. Sabe o que é?”, respondi ironicamente.

“Você está chapado?”, berrou ela.

“Ih, calma. To de boa. E você?”, disse. Pronto. Taysa desligou o telefone na minha cara. Ela havia arrumado um álibi para encobrir a queda da sua máscara. A mulher descolada, de boa e sem preconceitos havia ficado para trás. Pena que eu de fato estava muito chapado, feliz e bêbado para entender aquilo. Havia tido uma tarde maravilhosa. Nada me estressava. 

“Eita, tá estressadinha”, disse para mim mesmo. Ri da situação. Peguei a metade de um baseado que Maria havia deixado na minha e fui fumar na varanda. Havia alguns meses que não fumava e aquela maconha estava especialmente boa. 

“Que porra de maconha é essa?”, mandei para Maria.

“Purple Kush. É boa, né?”, respondeu ela. A onda era diferente e ia aumentando com o tempo. Não era uma onda que te deixava para baixo, largado, muito pelo contrário. Depois do baque quando a onda bate, ela me deixou ativo e aquilo era bom. 

“Tô ligado, ela me deixou produtivo, com vontade de fazer alguma coisa”, respondi.

“Vai fazer o que?”, perguntou.

“Esse é o problema. Não tenho nada para fazer”, disse.

“Que pena. Eu vou dormir”, se despediu Maria. Não me sobrou outra coisa a fazer se não terminar de fumar a bagana até a última ponta e laricar vendo Two and a Half Man para gastar minha boa onda. Não que eu não quis gastar a vibe positiva pensando nas mentirinhas da Taysa, não foi isso. Na real isso nem me passou pela cabeça. No dia seguinte eu nem se quer lembrava direito, mas ela fez questão de dar sermão por causa da maconha. Já de cara, minha tolerância não foi tão grande.

“Pior do que fumar é mentir e você mentiu por besteira”, disse. Taysa continuou sustentando a sua versão. "Será que ela não pode ter trocado de fato as palavras ali na hora?”, pensei. Mas não, cara, não foi isso. De fato existem drogas que te fazem perder o senso da realidade, existem até alguns tipos de maconha mais fortes que te fazem ter algo perto disso por um curto espaço de tempo, mas no geral, não é essa a reação que a erva causa. Pelo contrário. A sua visão do mundo, do que e de quem está ao seu redor fica muito mais aguçada. Coisas que normalmente passam despercebidas, não passam. Naquele momento me perguntei se já havia acontecido algum outro fato com Taysa que eu não tinha percebido porque não estava atento aos detalhes. Não aprofundei muito o pensamento. Ela me ligou por vídeo. Taysa estava em um parque passeando com a sua cachorra. Eu estava deitado comendo morangos. 

“Nossa, o jeito que você esta chupando esse morango está me deixando com tesão”, disse ela. 

“Você está imaginando o quê? Eu chupando você é?”, respondi chupando bem devagar a ponta da fruta. Taysa levantou rapidamente.

“Calma, assim eu não aguento. Não faz mais. Tô indo para casa. Tô com muito tesão”, disse ela apressada enquanto eu a provocava ainda mais com o morango e a minha língua. Taysa foi dirigindo até em casa com câmera ligada, em certo momento ela parou em um sinal e tenho certeza que colocou a mão dentro da calça, ela ficou sem graça e disse que não, mas colocou. Taysa entrou em casa e se jogou no sofá já tirando a roupa. Botou o celular do lado. Era dia claro, diferente do comum. Costumávamos fazer isso a noite. O sol entrava pela janela e iluminava bem o seu corpo. 

“Me chupa, vai, até eu gozar”, disse Taysa já se tocando e a me deixando ver completamente nua pela primeira vez. 

Tá vendo, de cara não me atento nos detalhes do jogo. De pau duro então, sem chance.