Capítulo 2 - Refração
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Capítulo 2 - Refração

Ninguém quer ficar sozinho. Ninguém nasceu para morrer sozinho. A vida é complicada. As vezes a gente se agarra a coisas e pessoas que achamos que nos completam, mas na verdade nos destroem mais. Se livrar de coisas e pessoas tóxicas ou encar...

BeeJM
6 min
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Ninguém quer ficar sozinho. Ninguém nasceu para morrer sozinho. A vida é complicada. As vezes a gente se agarra a coisas e pessoas que achamos que nos completam, mas na verdade nos destroem mais. Se livrar de coisas e pessoas tóxicas ou encarar a solidão? Esse é o grande paradoxo de uma pessoa que não se vê completa.

Refração. No dicionário: "Ação ou efeito de refratar, de desviar a luz de sua direção normal." Refração. Na arte: "Nem tudo na vida é o que aparenta, inclusive pessoas. É preciso sempre um olhar mais atento porque um desvio pode ser uma ilusão.", descreve o artista plástico Gerrard Laurence. Entre as duas descrições, acredito que a visão da arte se encaixa melhor na vida do ser humano.

Pessoas são cruéis quando detém o poder. Vemos isso muito no mercado financeiro e no mercado de trabalho. Pois isso também é muito comum dentro de lares, dentro de relacionamentos. Pessoas se disfarçam, criam personagens, escondem seus defeitos, promovem a escuridão alegando ser luz. Covardes. Não tem coragem de assumir quem são, vivem uma fantasia e atraem os outros para o seu mundo de faz de conta usando a arma que tem na mão. Antes de seguir preciso deixar uma coisa bem clara. Quem escreve aqui é um homem heterossexual, me relaciono com mulheres por pura opção. Minhas experiências em relacionamentos amorosos ao longo da vida foram 100% com pessoas do sexo feminino. São elas que atingem meu libido. Quando estou feliz, vou simplesmente aproveitar a vida e não ficar trancado em um quarto escrevendo ou pintando. É das dores que não cabem em mim que brotam minhas artes. Com esses pontos bem claros espero que você tenha a inteligência de entender que não há aqui pregação de superioridade de qualquer gênero sobre o outro. As minhas dores amorosas foram causadas por mulheres. Então é delas que isso aqui se trata. Se tivesse atração por homens, a arte seria em função deles. É uma simples questão de você entender que descrevo o que vivi. Se você já previamente acredita que aqui encontrará qualquer referência ou pregação a superioridade masculina sobre a mulher, esquece. Você tem duas escolhas, ou abre a sua cabeça e tenta entender que nem toda mulher é vítima pelo simples fato de ser mulher e tenta enxergar um outro ponto de vista, ou te convido, gentilmente, a parar a leitura por aqui.

Taysa é uma mulher bem sucedida profissionalmente. É uma mulher bonita. É uma mulher sensual. É uma mulher que se esconde. Tive um relacionamento de 9 meses com ela e falo aqui com toda certeza que não tenho nenhuma certeza sobre quem ela é. Nossa relação foi durante muito tempo no campo virtual. Nos conhecemos no Tinder. Ela morando no Brasil e eu na Inglaterra. Pandemia. Eu não queria me sentir sozinho. Ela não queria se sentir sozinha. Nossa conversa fluiu desde o primeiro dia. Tínhamos em comum, além de fugir da solidão durante um período de insegurança global, o apreço pelo sexo. Logo notei isso nela, logo ela notou isso em mim. A primeira vez que conversamos até perder a hora madrugada a dentro foi falando sobre bonecos infláveis para mulheres. Isso diz muito sobre o que queríamos um do outro. Eu aceitei isso. Se você acha que há julgamento negativo contra mulheres que não escondem gostar de sexo, pare. Caso eu tivesse esse tipo de pensamento, não conversaria com ela e provavelmente com mais nenhuma outra mulher. Seria um eunuco. Não há hipocrisia. Gosto e preciso de sexo. Para tê-lo, preciso de mulheres que gostem também. É simples.

Não demorou muito para encaixarmos nossa sexualidade. Mas antes de isso acontecer, houve um fato que preciso contar agora que voltará a tona lá na frente, quando nossa relação já era presencial. Um fim de semana Tay me falou que um amigo passaria o fim de semana na sua casa. Volto a dizer para ficar bem claro, até então conversamos como amigos que tinham interesse um no outro, não havia tido qualquer movimento explicito de nenhuma das duas partes. Naquela altura eu já tinha um sentimento por ela. Parecia que tínhamos muito em comum sobre visão de mundo, visão de vida. Não sei dizer direito o que era, mas já havia uma paixão se desenvolvendo dentro de mim mesmo sem nunca ter estado com ela. Tanto é que já tinha deletado minha conta no Tinder. Não precisava de mais ninguém, ela só não era perfeita porque estava muito longe. Fiquei com ciúmes, lógico. O que um homem vai fazer na casa de uma mulher durante uma pandemia? Somos todos adultos. Comentei que tive esse sentimento depois que ela me procurou dizendo que o amigo já tinha ido embora. Ela, gentilmente, negou que tenha tido qualquer coisa. Eu faria o mesmo. Você faria o mesmo. Todo mundo faria o mesmo. Não havia nada que me fizesse cobrar nada dela naquela altura. Porém um fato em especial me chamou a atenção durante esses dias. Em um dado momento recebi uma mensagem de áudio da Tay. 

"Vim aqui me esconder no banheiro só para te mandar um oi".

Na hora vi que tinha algo estranho nesse comportamento, mas não liguei. Não estava muito atento a essa mina naqueles dias. Mas pensa comigo. Se você não tem nenhum tipo de relação amorosa com quem está na sua casa, por que raios você precisa se esconder no banheiro para mandar um simples "oi" para uma pessoa que está flertando com você? A matemática não bate. Mas enfim, em dado momento tive que escolher se aceitava aquilo ou não, aceitei. Não tínhamos nada mesmo além de flerte. Mas esse assunto vai voltar lá na frente. Por ora podemos chamá-lo de caso número 1. 

Nos dias seguintes outro fato me chamou a atenção. 

"Deixa eu te perguntar uma coisa. Por que vocês homem quando conseguem o WhatsApp deletam o Match no Tinder?", me perguntou Tay. 

Expliquei que tinha deletado a minha conta. Mas não tive como não perceber que ela ainda estava buscando alguma coisa por lá. Perguntei isso. Ela disse que tinha entrado para rever minhas fotos. Ok, pode ser. Essa passagem também podemos chamá-la igualmente de número 1.  Um mais um é igual a dois. Ai a matemática bate. 

"Tem algo de errado nessa mina. Ela esconde alguma coisa", pensei. O que começa errado, termina errado. Devia ter saído fora ali. Meu problema é ser curioso demais. Se eu te conhecer, ver suas aparências nunca irão bastar. Só vou parar quando ver a sua alma. Refração. Dá mais trabalho.