“Autocuidado não é só vaidade, mas também não é coisa de gente de idade” Dispara senhor com câncer de próstata
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“Autocuidado não é só vaidade, mas também não é coisa de gente de idade” Dispara senhor com câncer de próstata

Linha Fina: Agências de saúde contaram com o apoio de psicólogos para propagandas que dizem sobre “masculinidade tóxica” e “machismo enraizado” direcionadas ao público da terceira idade; terceiro tipo de exame de próstata vem se popularizando...

Junior Medeiros12/15/2022
11 min
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Linha Fina: Agências de saúde contaram com o apoio de psicólogos para propagandas que dizem sobre “masculinidade tóxica” e “machismo enraizado” direcionadas ao público da terceira idade; terceiro tipo de exame de próstata vem se popularizando.

O morador de Valentim Gentil, casado e com três filhos, José Maria, diagnosticado com câncer de próstata aos 63 anos, disse em uma entrevista que não se arrepende de não ter feito exames da próstata enquanto era tempo. Sua justificativa é “Cedo ou Tarde, todos vamos morrer”

José, hoje, com 66 anos, conta que segue o tratamento, em suas palavras “contra sua vontade”. O homem desenvolveu um câncer de próstata não tratado por anos, descoberto um bom tempo depois, quando os sintomas começaram a chamar a atenção de seus familiares. Depois de não poder mais resistir, o tumor foi identificado já em fase avançada;  duas semanas depois,  em junho de 2019, seu filho do meio teve de viajar para cuidar do pai, e autorizar a intervenção médica para dar andamento no tratamento.

Hoje, José Maria segue o tratamento urológico e luta contra o câncer de próstata há três anos, mas diz que o faz só por pressão da família, e que se arrepende de ter permitido o exame de toque em seus testes.

“Se eu escolhi por não receber o toque na hora certa, como dizem, porque agora que já foi eu tenho que aceitar tomar a dedada nos exames!?” - Diz José.

“O seu discurso me choca... não por ser absurdo, mas pela convicção que o senhor  tem disso.” - Eu, o redator e pesquisador da entrevista disse a José, que me respondeu com - “Todo mundo se choca quando digo... e eu entendo, mas é meu direito!”

Não é à toa que existe uma preocupação sobre o assunto das secretarias de saúde sobre o mau entendimento da diferença entre: masculinidade, vaidade, e o mínimo de cuidado com a saúde; mas José parece ser consciente dessa diferença, e mesmo assim resiste.

Há no câncer de próstata uma probabilidade de 90% de cura, mesmo assim, em 2021, o Brasil registrou 44 mortes de câncer de próstata por dia, isso significa mais de 16.000 homens por ano. Diante disso, os dados se mostram preocupantes, e indicam que os altos números não sejam da estrutura de saúde nacional, ma sim de um fenômeno social

A estudante de psicologia e estagiária, Geovana  Lima, explica essa resistência com possíveis conceitos... Pulsão de morte e Viés de confirmação como exemplos de um resumo da negação na saúde mental, mas afirma, e com certeza, a influência da MASCULINIDADE TÓXICA e SEXISMO HOSTIL E BENEVOLENTE

Esse conteúdo geralmente faz parte de uma parte mais avançada do curso, mas como a faculdade (FEF) viu no assunto, uma questão de urgência, estão todos os semestres aprendendo conteúdos para fazer parte da campanha de novembro azul.”

(...)

“Masculinidade tóxica é tudo aquilo que é ensinado para os homens, de geração para a geração, para garantir no seu comportamento uma virtude de testosterona e de heterossexualidade, que nada tem a ver com para qual sexo o homem se atrai....

Isso vem através de mitos completamente infundados como “Homem não chora” que faz com que muitos homens aprendam a reprimir, em vez de tratar os seus problemas; muitas vezes, descontando em outros, isso se reflete na violência doméstica.

Ou “Bullying forma caráter” “meninos vestem azul, meninas vestem rosa” “homem tem que gostar de cerveja”... e além disso, uma falsa ideia de que a masculinidade pode “ser perdida” de que “sexualidade é uma escolha”

Mas às vezes essas afirmações visivelmente duras, vem acompanhadas de uma narrativa romântica, ampliadas culturalmente por filmes de Hollywood, como o Cavalheirismo, fruto do sexismo benevolente. - Explica Geovana.

Mas o que é sexismo benevolente?

Na visão de José Maria “uma invenção dessa geração moderna e hipócrita”. Ele afirma que toda mulher gosta de ser bajulada, de que abram para ela a porta do carro, que o cara pague o jantar no encontro... as modernas também!” - E em seguida, lembrou do caso recente do Caio Castro.

Geovana diz que ele está certo, mas que apesar das mulheres, vítimas do sexismo hostil, serem convencidas a aceitá-lo, por não querer abrir mão dos supostos “privilégios”, esses privilégios são “migalhas” comparadas às imposições, o tal do sexismo benevolente.

A coexistência desses dois é o sexismo ambivalente.   

“O sexismo é quando as diferenças de como você trata cada gênero são baseadas em preconceito e estereótipos, e a sua função principal é justificar os papéis tradicionais de gênero, e esse sexismo pode ser definido em dois tipos, hostil e benevolente. Resumindo, o sexismo hostil é abertamente negativo sobre as mulheres, as rotulando como: incapazes, emotivas demais, manipuladoras ou interesseiras como os papeis de “lugar de mulher é em casa, na cozinha” e o sexismo benevolente serve pra recompensar quem se conforma com os papeis tradicionais impostos pelo outro sexismo, como: abrir a porta do carro, por exemplo. Ele ainda mantém a mesma impressão estereotipada das mulheres, mas de forma mais positiva, como: puras, delicadas, frágeis e que, portanto, necessitam da proteção de um homem.”

(...)

“Esses papeis que prejudicam as mulheres, no entanto, também prejudicam os homens, ordenando que eles sejam fortes, protetores, que sejam  trancafiados emocionalmente, que saibam mexer com ferramentas , e que reforcem a sua masculinidade com afixação por armas e carros (Freud Explica) e abra mão as vezes, da própria vida, em nome do quão fácil é “deixar de ser homem” “deixar de ser hétero”  se você não seguir esses dogmas. O sexismo prejudica tanto as mulheres, quanto os homens.” - Explica Geovana.

Resumindo mais ainda, sexismo hostil é o que garante a diferença salarial entre homens e mulheres, mas recompensa essa diferença com o homem tendo que pagar a conta do encontro.

Baseada principalmente, nessa última afirmação, é que gerações de homens acima da meia idade, baseada nesse medo de perder a sua masculinidade, que perdem sua vida. Masculinidade não se perde... orientação sexual não se escolhe” Geovana conclui.

Geovana é estagiária no posto de saúde de Valentim Gentil, e acompanha, junto com a secretária de saúde, Camila Livramento, a atuação de psicólogos nas campanhas de saúde da cidade.

“É frustrante fazer campanhas de novembro azul todos os anos, e ver quase sempre elas não surtirem nenhum resultado” - Conta Camila, secretária de saúde. - “Todo ano a gente tenta fazer algo que seja o menos quadrado o possível, e acaba não tendo liberdade... é muita burocracia...” - Ela justifica - “mas esse ano, tivemos um pouco mais de liberdade para sair da caixinha”

“Apesar do foco das campanhas ser o câncer de próstata, as discussões nelas em torno do exame de toque meio que ficam para escanteio... Não algo tão corajoso quanto no Outubro Rosa, que incentiva as mulheres a fazerem a mamografia  e o autoexame; isso acontece, porque no caso das mulheres, é mais uma falta de interesse, do que uma barreira psicológica a ser atravessada.” - Argumenta Geovana.

Nas campanhas desse ano de Valentim Gentil, a proposta será “tocar na ferida”, mas sobretudo, ter o foque publicitário no público acima de 60 anos. Quem explica o motivo disso é Camila, representando a secretaria de saúde de Valentim Gentil.

“Não há uma resistência muito grande dos homens de 40, 45, em fazerem o exame, nosso problema, e alvo das nossas campanhas, sempre foram os idosos...”

 Visto isso, Camila conta que  toda a equipe de psicólogos do Posto de Saúde de  Valentim Gentil, em parceria com a Secretaria de Comunicação de Valentim Gentil, (que possui dois jornalistas, um estagiário e uma jornalista-publicitária) terão em suas campanhas, a função de  conscientizar os idosos sobre as questões de masculinidade, fazer palestras públicas sobre “Tabu” e “masculinidade tóxica” trazer a importância de se cuidar, e a gravidade de não fazê-lo, e falar em suas notas e comunicados abertamente sobre o exame do toque, e lembrar do exame de sangue

“É óbvio que cuidar da saúde também é coisa de homem, nosso papel, vai ser convencer os homens do óbvio” - Dispara Camila

Esses conceitos morais fazem com que homens percam a sua vida, para não perder a sua masculinidade, mesmo alguns sabendo que não perderiam - Como José - mas para quem não consegue se desfazer desse medo, há uma outra solução.

EXAME DE SANGUE

- O meu medo de fazer o exame não era de perder minha masculinidade... mas de sentir dor. - Afirma Neto, contador e advogado de quarenta anos que fez o exame de próstata de sangue.

- Eu confesso que quando foi chegando os meus trinta e oito, trinta e nove... foi me dando medo. Parte de mim queria simplesmente arriscar não fazer, mas eu sabia que se fosse necessário, não tem jeito. Minha esperança foi quando meu médico me disse sobre o exame de sangue, mas ele disse para eu não contar vitória antes da hora...

No fim, deu certo para Neto, ele testou negativo para câncer de próstata através do exame de sangue, mas havia grandes chances de o exame ser inconclusivo, e então, necessário o exame do toque. Mas mesmo, por muitas vezes, o exame de toque ser o único infalível, ele é, ao mesmo tempo, o mais inconclusivo.

Proctologistas e Urologistas sempre orientam os pacientes homens de que é preferível o exame de sangue, mas que nem sempre é útil, e isso deixa uma confusão nos homens. Se o exame de sangue é melhor, porque eu tenho que fazer o de toque?  Afinal... qual é a diferença entre o exame de toque e o de sangue?

TOQUE X SANGUE.

Segundo a ONG de Conscientização de saúde e Câncer de Próstata, Oncoguia, o exame de toque retal é menos eficaz que o exame do PSA no sangue para a detecção do câncer de próstata, mas às vezes pode sugerir a possibilidade de câncer em homens com níveis normais de PSA. Por essa razão, pode ser incluído como parte do rastreamento do câncer de próstata.

Resumindo, quando o câncer de próstata já está em processo inicial, ou quase, é porque há um nível incomum de PSA no sangue, e nesse caso, o exame de sangue leva a melhor. Mas se caso, mesmo com os níveis de PSA normal, o paciente tiver apresentando sintomas, ou o médico desconfiar, é necessário o exame de toque para rastrear a possibilidade de um câncer de próstata se desenvolver.

Quando perguntado para José Maria, porque ele não fez o exame de sangue, ele alegou, a princípio ser Adventista. Depois de confrontado pelo seu filho, também presente no dia da entrevista, que o confrontou dizendo que adventista não é proibido de tirar sangue, e sim de aceitar transfusão, e dizer que ele sabia disso, José revelou-

- Eu tenho medo de agulha... - e terminou irritado com - e daí? Todo mundo tem medo de alguma coisa!

O medo de José Maria de agulhas é tão grande, que mesmo orgulhoso e resistente a se desfazer do seus costumes de masculinidade frágil, ainda o preferiu a ter de fazer o exame de sangue.  Também havia, caso a possibilidade deste falhar, de ter que fazer o de sangue de qualquer jeito, em resposta a isso, ele diz-

- Não deveria é ter feito nenhum.

Se o seu caso for como o de José, que é avesso aos dois tipos de exame, saiba que tem um terceiro exame ficando mais popular a cada ano, conhecido como...

Exame Tríplice de Próstata.

Disponibilizado no Brasil em novembro de 2017, o Prostate Health Index (PHI) test, veio como uma terceira opção para analisar possíveis casos de câncer de próstata. O teste se especifica em flagrar tumores através de ultrassonografias e outros dois métodos, para evitar biópsias e testes desnecessários. O exame, assim como o de sangue, é mais provável em detectar o câncer na sua fase inicial, logo, é importante ficar atento a quaisquer sintomas, como dificuldade para urinar, ou mais facilidade e necessidade de ir ao banheiro do que o normal, e sempre consultar o seu médico, pois, apesar de seguro e bem eficaz, ainda é um método recente, mas felizmente, mais barato que o exame de sangue.

Um exame sanguíneo de PSA, hoje, custa em torno de R$750,00, enquanto o PHI Test está em média de R$ 100.

O teste funciona em três etapas:

1 - Ultrassonografia de alta resolução, para rastreamento de áreas de alteração textural anômalas suspeitas de neoplasias;

2 - Estudo com Power Doppler para rastreamento de vascularização anômala prostática;

 3 -Elastografia para rastreamento de áreas de consistência aumentada.

No entanto, é necessário entender que cada caso é um caso, nem sempre um método pode ser substituído pelo outro. O PHI Test veio ao Brasil com a intenção de somar nos procedimentos já existentes na saúde pública brasileira.

“Nenhum método é 100% eficaz, nada no mundo é 100% eficaz, todo mundo que trabalha em qualquer área da saúde sabe que, quanto mais procedimentos, maior as chances de cura e prevenção (...) Sempre que é usado mais de um método de diagnóstico, maiores as chances da falha de um ser detectada por outro” - Conclui Camila.

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