MORTE MORTE MORTE é um filme divertido (e sádico) porém depende.
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MORTE MORTE MORTE é um filme divertido (e sádico) porém depende.

Junior Medeiros
5 min
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BODIES BODIES BODIES
BODIES BODIES BODIES


A crítica social foda que o filme propõe é tão rasa quanto os personagens que ela tenta estereotipar e quanto as críticas deles.

O vício dopaminérgico do celular e o narcisismo da virtuosidade das redes sociais, que são alvos desse filme parecem não se entrelaçar direito com os acontecimentos da trama; a perda de sinal não é um fator determinante pro que acontece, é só um pretexto pra começar. E eu diria que essa pode ser uma hiperinterpretação rasa se não fosse o esforço das cenas óbvias em jogar essa crítica no meio do filme do nada, mas tãão do nada que parece ter sido tirado de contexto.
Só que ela tem um miolo muito bom, e se desperdiça nele: É o tanto que essas pessoas se odeiam e fingem que não, o tanto de mentira em cima de mentira, o desconforto da gente de ser colocado lá no meio e saber que tem uns rolês acontecendo que existiram antes de nós; a construção feita nos detalhes de que tem algo escondido que a gente não sabe e a torta de climão que nos é servida o tempo todo, torta essa, representada e percebida pela Bee.

Bee é a menina pobre e tímida que tem cara de doida; ela não pertence àquele mundo, sobretudo a sua classe social, mas de alguma forma ela dá um jeito de se meter lá no meio, ou é posta lá.
Bee é a personagem feita de identificação pro telespectador, mas diferentemente da gente, ela exerce uma influência na obra, diferente da gente, ela ainda é um personagem desse filme, de alguma forma ela não escapa desse cenário todo, né? Ela é um pouco tosquinha também, diferente da gente que é só um mero telespectador, né?

...né?

O fato de você colocar um personagem de identificação alheio àquela escrotidão (ou loucura) e depois mostrar que ele também faz parte dela não é algo novo, mas é esperto.

Colocar personalidade em um espectador passivo e tirar dele esse ar de distância é uma ótima quebra de expectativa, só que mais que isso, deveria fazer a gente lembrar que nós, expectadores, também somos parte ativa do filme, assim como o diretor/a, escritor e roteiristas.
Existe um paralelo claro entre a loirinha, a gente e a diretora do longa (Halina Reijn)
Não é atoa que a gente vê um filme com o título "Morte Morte Morte" e uns adolescentes na capa que querermos vê-los sendo punidos e não é à toa que é a menina tímida (supostamente de fora disso) é a que mais mata pessoas ali dentro, com passiva-agressividade, fazendo do ataque a melhor defesa.

O ponto é: Bee não é uma personagem de identificação pro telespectador, e sim sua própria personificação.
Não sei se isso foi de sem querer, se ela tá ali só pra saciar nossa vontade de matar adolescente insuportável mesmo ou se foi de propósito pra mostrar que a gente que tá assistindo... bem, não é tão diferente deles assim.
Mas algo ainda me leva à crer que esse paralelo foi acidental, a cena da traição e o celular por exemplo se desliga dessa possível interpretação.
O que não tira a poética profética disso.

Funny Games (2007) também faz essa ponte entre os personagens ficcionais e o espectador, de um jeito bem mais óbvio, polido e melhor claro, e mesmo ele (que é um dos melhores filmes de todos os tempos) da certa personalidade pros garotos que deixa essa cordão umbilical com força de um fio de nylon.


SENSAÇÕES

Certas horas o filme me deixou agoniando de raiva, mas eu não sabia se a raiva era desses personagens tãão chatos ou do roteiro que subestima nossa inteligência.
Nada me leva à crer que adolescentes tão mimados e distantes da morte real não entrariam em frenesi quando a vissem na sua frente, e não com indiferença.
É legal dizer que eles são mimados e tal, mas é justamente por serem assim que eles não teriam agido com tamanha naturalidade quando vissem um corpo suplicando por ajuda. É tosquissimo ver que em uma CENA DE CRIME o que mais desestabiliza uma das garotas é a revelação de que seu podcast é ruim.
Mas ainda vejo essa insanidade exagerada e satírica com um pouco de bons olhos.
É um filme... com visão e liberdade criativa. Essa é sua percepção. Seria chato demais da minha parte cobrar imparcialidade comportamental num filme de comédia; ainda que essa percepção tenha sido colocada de maneira meio preguiçosa.


FINAL

Vou evitar spoilers, porquê ele realmente me pegou de surpresa e é seu ponto mais alto. Sinceramente eu duvidei que o filme entregaria uma resposta coerente pro primeiro assassinato, ou que sequer entregaria uma resposta. Não seria a primeira vez que vejo algo parecido. E além de entregar um final, ele é uma das cenas do filme que mais se mantém coerente com a sua mensagem

Mas adiantando, é um final muito, mas muito ridículo.

PORÉM, eu tendo achado o filme ridículo OU os personagens dele ridículos, não muda que dei risada da mesma forma, e que o final é HILÁRIO. Essa é a palavra, "hilário"
Não sei se porque ele é pretensioso ao extremo ou se porquê ele é engraçado mesmo, mas é de cascar a bicolas.


Resumo: 6,5/10.
BODIES BODIES BODIES é um filme que muitos vão amar e muitos vão odiar, poucos vão vê-lo como uma tentativa válida, repleta de erros e de acertos, mas ninguém vai passar por ele sem sentir nada.

Seja ele um filme muito bom, muito ruim, ou só um filme que deixa a peteca cair, vale muito a pena o exercício em assistir.

Ele é curtinho e não vai te deixar entediado em casa