Oi! Esses dias eu tava matando tempo no Reels e eu encontrei um Edit que de algum jeito mexeu comigo (gameplay do insult Simulator)
Oi! Esses dias eu tava matando tempo no Reels e eu encontrei um Edit que de algum jeito mexeu comigo (gameplay do insult Simulator) |
- Trecho do 16 e 700. |
Alguma coisa naquela música me chamou a atenção, e sabe quando você tem aquele comichão intuitivo em que você sente que se deparou com uma coisa interessante, cheia de interesse, camadas e implorando pra ser desvendado? |
Foi assim com 16 e 700. Tá, talvez eu só tenha achado a música gostosinha por causa da pegada de anos 40 que eu amo, que aliás é bem característica nela. |
Vendo a música me deparei que ela era de Luis Gonzaga, e eu lembrava desse nome de algum lugar. Provavelmente, e eu digo provavelmente pq não quero colocar nada na boca de ninguém eu vi algum vídeo do Regis Tadeu ou do Vinheteiro falando tipo “Funk é fezes! Bom mesmo é Luiz Gonzaga” (incluir vinheteiro e marrom discutindo no 2x) |
Mas aí fica a pergunta: Porque funk é um lixo e música de época é maravilhosa, decadência cultural? Não. Não é essa a questão. A questão é significado de letra. (vagalume) |
Muita gente, principalmente esses Rock WIns dizem que a música moderna é pobre melodicamente, mas a verdade é que eles tão mentindo pra si mesmos. Ninguém liga pra complexidade melódica de algo. No fim do dia, todo mundo só quer ouvir uma música gostosinha, e os mais puristas querem LETRAS COMPLEEXAS! (fora da hause) |
E numa vontade quase irracional de refutar esses caras eu pensei. Tá, funk fala sobre putaria, sertanejo sobre traição, mas essa música antiga... fala sobre... errar matemática? Grande bosta! É uma letra boba também. |
Mas não. Dezesseis e setecentos é mais profundo do que você imagina. |
Primeiro de tudo, esse vídeo não é sobre debater a qualidade ou a falta dela sobre a música entre os anos, esse vídeo é pra falar exclusivamente dessa música. |
Mas antes de qualquer coisa eu queria perguntar. Todas as músicas devem ser complexas, metafóricas e interpretáveis? Não. Nem toda letra de música precisa ser um filme da A24, ou falar sobre suicídio (colocar vídeo mudo do legião urbana) ou masturbação feminina (Pitty) ou sei lá. Algumas músicas podem ser só sobre não se preocupar e estar feliz, (colocar instrumental de dont worry be happy) sobre bolar um baseado (colocar trecho de bola um baseado) ou só sobre ter uma camiseta confortável (colocar trecho de camiseta confortável ) (em seguida colocar print das 3 imagens printadas do spotify) |
Assim sobre como dezesseis e setecentos pode ser sobre errar a matemática e tá tudo bem? É sobre isso o vídeo? Sobre ter letras simples e estar tudo bem? |
Não. Dezesseis e setecentos é uma música bem complexa sobre um assunto bem complexo. Ignorância. |
A ignorância parte de duas bengalas de raciocínio muito traiçoeiras: Viés de confirmação & Argumento de autoridade. |
VINHETA: Argumento de autoridade |
Bom, vamos começar pelo argumento de autoridade. |
Também conhecido como carteirada ou cientificamente como Argumentum ad verecundiam (e a gente sabe que quando o argumentum tem AD no nome é sempre porque é desonesto, tanto que o termo mais adequado é apelo à autoridade ou argumento de autoridade. |
Vou deixar o Wikipédia falar por mim: (efeito de eco) O argumentum ad verecundiam ou argumentum magister dixit é uma expressão em latim que significa apelo à autoridade ou argumento de autoridade. É uma falácia informal que apela para a palavra ou reputação de alguma autoridade a fim de validar o argumento. |
Não ficou claro? Vamos colocar num exemplo: Imagina que você tá debatendo com alguém sobre matemática. O debate é: você diz que dois mais dois é quatro, e a pessoa insiste que 2+2=5. Só que tem um porém, você é um aluno da quinta série, e a outra pessoa é uma professora de matemática com bacharelado e os kacete. Por quê caralhos uma pessoa com bacharel em matemática vai insistir em algo tão ridículo eu não faço ideia, mas é só pra facilitar o exemplo. Ela joga na sua cara “EU SOU BACHAREL EM MATEMÁTICA, E VOCÊ É SO UM CATARRENTINHO!” Ela tá certa, ta? Muda o fato de que 2+2=4 e não 5. Não. |
Mas isso, óbvio, é muito fantasioso... só que não é tão incomum assim quando a gente vê por exemplo políticos negros falando sobre racismo reverso (foto do Holiday) ou pessoas dizendo que a Anitta pode dar aula em faculdades de marketing sendo que ela se formou em ADM. |
Nem sempre quem é formado, ou quem tá no lugar de fala está certo. |
(colocar foto disso) |
E onde entra isso no dezesseis e setecentos? |
A história da música é um seguinte: Um cara entra num bar (sei lá se é um bar) e quer pagar uma conta de 3 300 com 20 mil réis. O troco é de dezesseis e setecentos, mas ele insiste que é dezessete e setecentos. Em um momento, quando o eu lírico quer mostrar que tem razão, a música segue esse trecho. |
Sou diplomataFrequentei academiaConheço geografiaSei até multiplicarDei vinte mangoPra pagar três e trezentosDezessete e setecentosVocê tem que me voltar |
Entenderam onde tá a pegadinha? Primeiro, ele joga na cara que é diplomata e que conhece geografia, mas foda-se se ele conhece geografia! Geografia lida com... geografia, não com números. (na vdd lida sim , na cartografia. Mas ainda não é com subtração muito medivisão) |
Outra pegadinha tá no “sei até multiplicar” Ok, você pode saber multiplicar, mas não sabe que a conta que no caso que você tem que fazer é de subtração. Assim, é lógico que se alguém sabe multiplicar consequentemente ela aprendeu antes subtração. Mas isso não tira o fato de que subtração é uma coisa e multiplicação é outra, e nem o fato de que ele TÁ ERRADO! |
E outra, ainda sobre o escalonamento de “primeiro aprender subtração, depois multiplicação” Quantos casos vocês já viram de professores de matemática na faculdade ensinando MDC pros alunos pq eles não aprenderam na escola? Quantas e quantas vezes vocês já não viram especialistas falhando? Só porque eles são especialistas significa que não devem ser questionados? (disclaimer sobre ciência) |
E essa música e esse teor de apelo a autoridade fica mais pesado ainda quando a gente considerar que a música é da década de quarenta. Década em que metade da população não sabia ler e escrever, posterior a década em que as rádios foram inventadas pra quem não conseguia ler os jornais, e mais ainda, década em que ter ensino médio e ainda ser diplomata era raro. O que de novo, não muda que o troco é 16,700. |
Segundo o órgão de alfabetização, fonte na descrição: Até 1940, o critério para saber se as pessoas sabiam ler e escrever o próprio nome tinha por base a declaração do próprio sujeito. A partir de 1950, a definição de alfabetização ampliou-se para saber ler e escrever um bilhete simples. No censo de 2000, alfabetizado era aquele que sabia ler e escrever um bilhete simples, já aquele que sabia ler e escrever, mas esqueceu e aquele que apenas sabia assinar o seu nome, foram considerados analfabetos. |
VINHETA: Viés de confirmação. |
O segundo ponto genialmente abordado nessa música é o viés de confirmação, e caso vcs queiram ver um vídeo que eu considero perfeito sobre o assunto, ele vai tar no icard aqui. |
Explicando de uma maneira bem simples o que é o viés de confirmação: É aquele tipo de comportamento em que você evita ideias conflitantes e busca argumentos que só fortaleçam o seu ponto previamente estabelecido a fim de torná-lo mais forte. Assim te levando a fechar a sua mente, à ignorância, a não respeitar as opiniões alheias, e consequentemente a elas não respeitarem a sua. |
Imagina o seguinte exemplo: Você é ancap, porque previamente decidiu que devia ser de direita mas ao mesmo tempo não consegue ignorar os problemas que a esquerda aponta. Aliás, fato divertido sobre as suas opiniões, ela estão bem mais relacionadas com a sua vivência, as suas influências na infância e adolescência e a sua vida pessoal, do que com o seu raciocínio super crítico. Mas voltando ao exemplo: |
Você é Ancap, e não quer lidar com ideias conflitantes: Então tudo que você lê sobre política é Rothbard, Hoppe, Mises, Stephan Kinsell, Menger e mais Rothbard. Você nunca lê Marx, Ou Keynes, ou Locke, ou Sitrner, ou Proudhon ou a puta que o paralho. E se lê, já lê com o escudo ativado, pronto pra discordar de qualquer vírgula, (o que não necessariamente é ruim, ler as coisas com um olhar crítico, mas o problema é que você só faz isso com as ideias conflitantes, enquanto com as que previamente vc concorda você nada na leitura de braços abertos) |
Outro exemplo: Você é comunista, comunista raiz, estilo PCO. Então você só lê Marx, Engels, e de veeez em quando um Bakunin, mas ignora todos os pensadores de todos os outros aspectos, pq vc tá mais preocupado em fortalecer os argumentos da sua opinião previamente mantida do que em chegar na verdade, e talvez, ter que mudar de ideia. |
Ou outro exemplo: Você lê essas porras todas: De Marx a Mises, De Proudhon a os livros do neto do Che Guevara, de Mutualismo à Positivismo. Tudo isso pra sentir que você é imparcial e supostamente livre do viés de confirmação. Mas você não se aprofunda em nenhuma, e por conta disso, constantemente se abstém desses debates. (É o meu caso por exemplo) ( e eu não estou livre de viés de confirmação, nenhum de nós estamos. |
Entende? Viés de confirmação é um mecanismo de defesa que te impede de evoluir, e dezesseis e setecentos também fala disso. |
(nota da edição: eu citei exemplos de posicionamentos políticos pro viés de confirmação, mas eles valem pra qualquer outro assunto) (bjs e abraços :)) |
Eu acho bomVocê tirar os nove foraEvitar que eu vá emboraE deixe a conta sem pagarEu já lhe disseQue essa droga está erradaVou buscar a tabuadaE volto aqui pra lhe provar |
Você tem que me voltarDezesseis e setecentos!É dezessete e setecentos! |
“Eu vou buscar a tabuada e volto aqui pra lhe provar” Sinceramente, se isso não é um viés de confirmação, eu não sei o que é. Fora que... tabuada é multiplicação, cacete!! De novo ele confunde subtração com multiplicação. |
Mas esse erro não é acidental. O plot twist da música é que ele não é formado em porra nenhuma, provavelmente sabe que está errado, mas se nega a admitir (por que não quer pagar) e a tabuada é um blefe, é a última carta do baralho de argumentos de espantalhos dele, e só não é um tiro no escuro, porque não tem como a tabuada mostrar que ele tá errado, e nem que ele tá certo |
E sobre esse assunto de que “algo não mostre que ele tá errado e nem que ele tá certo” é MAIS UMA falácia, sim, essa música tem 3 falácias. “Argumentum ad ignorantiam” É como dizer: cisne negros existem! ão tem como você provar que eles não existem, logo, eu tô certo! E rapara como isso é tentador, você pode ter um milhão de cisnes brancos, e não dá pra provar que os negros não existem, mas basta UM Cisne negro, e você prova que ele existe. |
Só que quem tem que provar, é quem tá afirmando! E essa resposta, é o método científico. Mas isso é assunto para outro dia. |
Acho que isso é o melhor exemplo de blefe que vocês já viram. (rindo) E só pra terminar, eu queria encerrar com uma frase: |
Às vezes você está discutindo com um imbecil… e ele também. |
Colocar foto do mano que falou isso. |
Colocar esse trecho da música. |
Então deixaÉ por isso que não gostoDe discutir com gente ignorantePor isso é que o BrasilNão "progrede" nisso... |
E sabe qual é a moral da história? É que no fim... |
É, é tudo puta, é tudo puta, é tudo puta, é tudo putaÉ tudo puta, é tudo puta, é tudo puta, é tudo putaÉ tudo puta, é tudo puta, é tudo puta, é tudo putaÉ tudo puta, é tudo puta, é tudo puta, é tudo puta |
Aê, aê, eu não quero saberEu não quero saber de porra nenhuma! |
Fontes: |
https://alb.org.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais15/alfabetica/PelandreNilceaLemos.htm |
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vi%C3%A9s_de_confirma%C3%A7%C3%A3o |
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Descrição: |
Título: DEZESSETE E SETECENTOS: Como Luiz Gonzaga explica a ignorância |
Primeiro de tudo, eu queria dizer, tanto pra quem tá chegando agora no canal, quanto pra quem jáme conhece, é que esse tipo de vídeo não é o usual daqui, geralmente eu escrevo ou narro contos de terror e/ou creepypasta, (as vezes drama, histórias num geral) mas, eu vi que nessa música tem uma história sendo contada, que não tá exatamente bem óbvia, então através de exemplos e um roteiro simples eu resolvi formar esse artigo pra vcs. |
DESDE Já peço perdão pela minha voz e dicção horríveis, eu estava bem gripado e doente quando gravei, mas deu pro gasto, espero. |
Foram mais de 2000 palavras, quase 1000 imagens, e somando roteiro+gravação+, esse vídeo de 15 minutos levou um mês |
Caso gostou dos meus textos, acompanhe: |
HISTÓRIAS: https://www.wattpad.com/user/aajrmed2 |
ARTIGOS : https://pingback.com/jornalismo-e-terror-escrituras |
Fontes complementares sobre o assunto: |
https://alb.org.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais15/alfabetica/PelandreNilceaLemos.htm |
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vi%C3%A9s_de_confirma%C3%A7%C3%A3o |
https://escribo.com/2019/04/05/alfabetizacao-e-letramento-no-brasil-evolucao-historica/ |
https://fadepe.org.br/2021/06/16/metodo-cientifico-definicoes-aplicacoes-principais-tipos-e-etapas/ |
https://www.youtube.com/watch?v=cYueIZMpOWs&ab_channel=Dossi%C3%AAdoFelipe |
https://www.youtube.com/watch?v=CJSFGZSx4Gc&t=1s&ab_channel=Dossi%C3%AAdoFelipe |
Músicas citadas no vídeo |
Dezessete e setecentos - Luíz Gonzaga |
Pais e filhos -Legião urbana |
Equalize - Pitty |
Bola o baseado - TAVN |
Don't Worry Be Happy - Bobby McFerrin |
Camiseta confortável - MC Igu |
É tudo puta - MC Maneirinho |
JOGO DO COMEÇO DO VÍDEO: |
Oh...sir! The Hollywood Roast. |
Roteiro - A.J Medeiros |
Vozes - A.J Medeiros |
Edição - A.J Medeiros |
Participação especial - EU LÁRICO. |