Análise do filme: O Estranho sem nome
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Análise do filme: O Estranho sem nome

Nessa análise, de um não especialista, mas de um grande amante do cinema, do filme O Estranho sem nome, expõe os símbolos e mensagens captadas desse filme.

João Pedro Nachbar
5 min
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O Estranho sem nome<br>
O Estranho sem nome

Introdução:

O Estranho sem Nome, filme de 1973, com duração de 105 min, é o segundo longa-metragem dirigido por Clint Eastwood. Apesar de novato, Eastwood consegue fazer algo além do “arroz e feijão”, com um tempero da influência de seu antigo diretor da famosa Trilogia dos Dólares, Sergio Leone. As semelhanças entre os diretores em algumas tomadas e planos do filme são inegáveis, assim como o personagem principal, estrelado também por Clint, é basicamente o mesmo. 

Análise:

O filme começa com uma fotografia clássica do gênero western, o cowboy solitário cavalgando no calor arrebatador do deserto americano. O personagem em questão é o protagonista da história. O Estranho, jeito que é denominado pelo restante dos personagens pelo fato de não saberem sua real identidade, está indo rumo a vila de Lago com o intuito de, até então, apenas fazer a barba e tomar um banho quente. 

Ao adentrar a vila, os olhares desconfiados e intrigantes dirigidos ao forasteiro entregam que algo de misterioso há na cidade, algo que vai além do estranhamento de um desconhecido adentrando um território novo. Dentro do bar, três pistoleiros contratados pela população local para acabar com a vida de criminosos que foram soltos e juraram vingança contra todos que residem em Lago, sem nenhum motivo aparente até então, – e que cada vez mais estavam tomando conta da cidade – mexeram com Estranho a ponto de fazer com que ele matasse-os. Entrando em desespero, a população se reúne e oferece qualquer coisa ao cowboy para que ele fique e ajude a matar os bandidos que estão retornando para a sua vingança. Ele aceita e começa a fazer os preparos. 

Nesse meio tempo, aos poucos, nós espectadores, vamos descobrindo por meio de sonhos do protagonista e flashbacks de personagens o real mistério do local. Com cenas e uma trilha sonora que chegam a passar um medo maior do que os filmes de terror atuais, o longa chega a flertar com o obscuro, o sobrenatural. Não obstante, com o decorrer do filme esse quebra-cabeça é solucionado. O ex-xerife de Lago, o jovem Duncan, descobriu que a mina que dava lucros à cidade era na verdade do Estado. Por este motivo, por medo da vila falir e nunca mais existir, a população, tirando dois personagens, o anão e a mulher do dono do hotel – personagens estes que, inclusive, parecem ser os mais elevados moralmente –, encomenda a morte do xerife à chicotadas pelos mesmos ladrões que foram presos (por essa mesma população) e agora estavam soltos e juravam vingança.

O Estranho, sabendo da proximidade cada vez maior dos delinquentes, prepara voluntários para atirar e pinta a cidade inteira de vermelho.

Com a chegada  dos três ex-prisioneiros na vila, eles rapidamente causam o terror com a população até a chegada do anti herói. O forasteiro sem nome começa a matar um por um, de forma sorrateira e rápida, quase como uma entidade das sombras. Tudo isso ambientado no cenário de uma vila pintada toda em vermelho, quebrada, com sangue de feridos e um incêndio – um cenário totalmente caótico, como o inferno provavelmente deve ser. No final do filme, com a partida do Estranho vemos uma pergunta do anão que nos dá uma pista de qual seria a identidade do protagonista. Ele basicamente pergunta ao cowboy qual seria o seu nome, o forasteiro retruca: “Desde o começo você sabe quem eu sou", a câmera foca na lápide do xerife Duncan, que agora estava identificada, e mostra o Estranho partindo no horizonte escaldante do deserto.

No fim das contas, o filme realmente tem algo de sobrenatural, e não é exatamente no caso do homicídio do xerife, mas sim na identidade do protagonista. Podemos perceber isso pelo fato de a última frase de Duncan ter sido um tipo de maldição voltada a gangue criminosa e a população local: “Espero que todos vocês queimem no inferno” e também o simbolismo do seu corpo não ter sido identificado até o final do filme. Segundo certos mitos populares, o espírito da pessoa não consegue descansar até que ela tenha alguma identificação em sua morte. 

No final do filme, a lápide do ex-xerife finalmente é preenchida, simbolizando o descanso de sua alma pelo fato de a vingança finalmente ter sido realizada. Com a fala no final, o zoom na lápide, a partida do forasteiro e outros indícios na trama, conclui-se que o personagem principal era o próprio espírito vingativo encarnado. Isso se mostra mais coerente ainda quando notamos sua moralidade ambígua. Façamos a pergunta: Se a vingança fosse encarnada em alguém, ela teria apenas atitudes boas? Apenas atitudes más? É óbvio que não. A vingança não é lá uma atitude nobre, mas também não possui uma essência propriamente má; ela envolve um senso de justiça distorcida e vemos claramente esses detalhes na personalidade do Estranho sem nome.

Conclusões Finais:

Com uma direção sólida de um diretor que estava apenas em seu segundo filme, boas atuações, piadas no momento certo e uma história que, apesar de girar em torno de um tema genérico como a vingança, é genuinamente interessante e envolvente, o longa mostra o porquê até hoje é considerado um clássico, tendo altas avaliações tanto pela crítica quanto pelo público.

Nota Final:8,5