Descritivo em excesso, Duna aposta em estrelas e grandiosidade para contar parte de sua história.
0
0

Descritivo em excesso, Duna aposta em estrelas e grandiosidade para contar parte de sua história.

Ao assistir Duna, a primeira imagem que se vê na tela, e isso vale a pena ser dito como o único spoiler do filme, o espectador lê algo que não estava sendo amplamente divulgado a respeito do longa. Os escritos são: “Duna: Parte 1”. Portanto, ...

João Pedro Teixeira Barthem
4 min
0
0

Ao assistir Duna, a primeira imagem que se vê na tela, e isso vale a pena ser dito como o único spoiler do filme, o espectador lê algo que não estava sendo amplamente divulgado a respeito do longa. Os escritos são: “Duna: Parte 1”. Portanto, para aqueles que forem assistir ao filme, deve ser feito um pequeno aviso: o filme que você irá assistir não, propriamente, contará uma história com começo, meio e fim, mas o introduzirá  por grande parte do longa, em seu fictício mundo, visando maior ambientação do público. Tendo isso em mente, há algumas reflexões a serem feitas.

Em primeiro lugar, há de se bater palmas para a estética futurista do filme que, mesmo se passando em uma realidade inventada, com milênios de diferença para onde a humanidade está agora, é capaz de fazer uma excelente conexão entre os povos apresentados e o ser humano atual. Claramente há uma semelhança com o petróleo na chamada “especiaria” , elemento tão querido e necessário para os personagens do filme. Dessa forma, o público facilmente entende o que está em jogo ali.

Além disso, os mundos são lindos e extremamente convincentes. Sem falhas e excelentemente apresentados, mesmo que em demasia.

Agora, como em toda adaptação de uma obra literária para o cinema, aquele que leu o livro antes de assistir ao filme terá maiores bases para argumentar. No entanto, um dos problemas do longa é que o leitor de Duna não terá apenas mais argumentos. Muito provavelmente só ele será capaz de apreciar as questões narrativas do filme. Isso porque Duna é um filme que faz escolhas consideradas difíceis. De modo a navegar por um universo fictício e intergaláctico, é de bom tom que sejam explicadas as regras sociais e de mundo do ambiente apresentado. No entanto, por ser uma obra desconhecida do grande público, o diretor e corroterista Dennis Villeneuve opta por dar prioridade a tal representação, em uma das obras mais grandiosas visualmente dos últimos anos. Tudo em Duna é gigantesco, sejam as naves, os palácios, ou o infinito deserto do planeta Arrakis. Os problemas, porém, começam quando os arredores do protagonista , Paul (Timothée Chalamet), passam a ter maior destaque e “tempo de tela” do que ele mesmo. Claro que ele aparece durante todo o filme. Entretanto, parece que o mundo apresentado é maior do que seu protagonista, o que gera uma irreversível simplicidade no desenvolvimento do personagem durante a história. E, todos sabem, para que se tenha uma boa história ficcional, ou ao menos uma história imersiva, há de se ter um protagonista bem desenvolvido.

Se o personagem do astro do longa tem problemas, é claro que com o estreladíssimo( e caro!) elenco de Duna não foi diferente. Grandes nomes das telonas como Oscar Isaac, Josh Brolin e Jason Momoa chegam a ter um desenvolvimento tão raso, raso inclusive para a importância de tais figuras para o cinema atual, que não há tempo e disposição do espectador de desenvolver relações com os personagens. Não há tempo o suficiente, muito menos ações, para falar da participação da nova queridinha de Hollywood, Zendaya, no longa. No entanto, é entendível que ela tenha uma participação pequena, já que a intenção é de que Duna se torne uma franquia. O único empecilho para que isso aconteça seria um fracasso de bilheteria, algo que os estúdios Warner não toleram, haja visto a reformulação do universo da DC comics no cinema, pós a perda de “Batman V Superman”, para o terceiro filme da trilogia do Capitão América.

Desse modo, fica o questionamento se o plano para a obra literária será concluído. Será que o filme com orçamento tão homérico quanto a beleza e pluralidade dos mundos inventados, vai ser capaz de atrair o grande público para as salas, que provavelmente não conhece a fundo a obra, de maneira a retornar ao cinema em massa,  depois de dois anos esticado em seu confortável sofá? Só o tempo dirá.

As únicas certezas que existem em Duna são a sua fiel adaptação ao livro, a interessantíssima participação de Rebecca Ferguson, que está ao lado do protagonista em vários momentos do filme, de maneira a se diferenciar de outras histórias, já que nesta o protagonista tem sua mãe como braço direito, algo infelizmente, ainda pouco usual e que, para ser melhor aproveitado, o longa precisaria de algumas horas a mais.

abs,

João Pedro Barthem