Implementação BIM
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Implementação BIM

A implementação da metodologia Building Information Modeling (BIM).

Juliana Mizumoto
9 min
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Autora: Juliana Mizumoto

Introdução

A implementação da metodologia Building Information Modeling (BIM) tem sido assunto nas redes, temas de diversos cursos e motivo de novos produtos no mercado das consultorias especializadas do setor, vem de uma demanda crescente da necessidade de as empresas de engenharia adaptarem-se à transformação digital da Indústria da Construção.

A demanda por adaptação e pela utilização do BIM ocorre em uma escala mundial e tem sido monitorada há pelo menos uma década, por exemplo, no Reino Unido (UK) que é considerado uma potência no assunto BIM.

 Um estudo publicado pela NBS- National BIM Report 2019 (NBS, 2019) aborda a adoção do BIM de maneira bastante abrangente, considerando escritórios de arquitetura e de engenharia, bem como empresas de construção, e baseando-se em diversos critérios interessantes para a interpretação dos resultados como por exemplo, a captação de opiniões contra ou a favor,  sobre atitudes de adoção do BIM na empresa, ou os resultados de como o BIM afeta e beneficia as práticas de trabalho.  Tanto a escolha dos critérios de avaliação, quanto os resultados nos fazem perceber que há uma preocupação no monitoramento da evolução da adoção do BIM, da implementação nas empresas de diferentes escalas e da valorização da adoção estruturada no país, que tem uma política de utilização do BIM em escala federal.

Fonte: NBS2019
Fonte: NBS2019
Fonte: National BIM report 2019
Fonte: National BIM report 2019

UK é sempre uma referência quando se trata do assunto, os seus dados servem para ilustrar o BIM de diferentes maneiras e o que pretende-se aqui enquadrar é a comum dificuldade da implementação da metodologia em qualquer escala da Indústria da Construção e em qualquer lugar do mundo (Ocidental, ao menos).

Compreendendo esta dificuldade como um lugar de oportunidade desenvolveu-se o estudo abaixo sobre implementação BIM para empresas de engenharia. As informações aqui expostas são colocações simplificadas sobre resultados obtidos de trabalhos práticos e de teoria especializada na área de gestão de projetos e de BIM.

Barreiras

O BIM representa hoje além de uma metodologia de trabalho, um novo modo de pensamento que altera as relações no setor da Construção, que passa a usar o modelo como base da gestão da informação em todo o ciclo de vida do projeto. Essa gestão permite uma transparência maior na troca de dados, o que torna possível a coordenação digital dos resultados entre diversos stakeholders do projeto. Há diversos benefícios associados ao uso do BIM, mas aqui prestaremos atenção em alguns dos obstáculos encontrados para a sua implementação que nos ajudam a argumentar a favor de uma estratégia de ação que englobe todos esses fatores.

Um dos obstáculos é a fragmentação da Indústria da Construção, desnivelando o investimento da implementação em todas as fases de um projeto e fazendo com que, por exemplo, o BIM seja mais facilmente usado na fase de projeto, em detrimento das fases de operação e de manutenção.

Ilustração: Fragmentação da Indústria da Construção. Fonte: a autora
Ilustração: Fragmentação da Indústria da Construção. Fonte: a autora

Sendo o BIM uma metodologia que afeta todos os processos de uma empresa, a dificuldade de implementação também atinge áreas como a de tecnologia, a organizacional e a ambiental de uma empresa, sendo necessário, portanto, abranger áreas de políticas legais (contratos, suprimentos, planejamento), além de áreas técnicas (segurança, práticas de projeto, qualidade).  Ao abranger todas as áreas, os processos de trabalho como um todo serão modificados, inicia-se então um trabalho colaborativo para um objetivo comum, o que por sua vez, depende do desenvolvimento de novas habilidades para as equipes.

Outro problema é a falta de padronização ou standards da Indústria da Construção para a utilização do BIM. Esses standards são produzidos pela Academia, pelas empresas de softwares ou empresas de projetos, as quais divulgam seus guias de melhores práticas. Há ainda, a participação do grande catalisador da expansão do BIM, que é a participação governamental na definição e exigência de determinados standards.

Organização de um Plano de Implementação

Primeiramente vamos entender que das dificuldades se organizam os recursos para as soluções. Assim sendo, o foco para a implementação é encontrar/ produzir/ organizar as fontes de informação para trabalhar a produção de standards que possam ser usados pelas empresas para a implementação.

O esforço de se organizar uma estrutura de conhecimento do BIM é conhecida e a discussão ganha intensidade conforme mais empresas privadas e nacionais reconhecem seu potencial e valor agregado, há, portanto que se abrir caminhos que facilitem o entendimento das empresas sobre a metodologia. Nesse sentido, os guidelines são um importante direcionamento para a estruturação de um projeto.

De maneiras diferentes, mas não ausentes, os guias abordam a metodologia de forma a criar uma sinergia para as áreas, traduzidas por Succar (Succar, 2009) como “fields”( políticas, processos e tecnologia), ou áreas de atuação BIM. De maneira similar, apresenta se como níveis de performance (política, processos, tecnologia, pessoas e habilidades) em documentos da indústria (EUBIM Task Group, 2016), ou como elementos de planejamento BIM (processos, informação, estratégia, infraestrutura, usos, pessoas) (The Pennsylvania State University, 2013).

Dessa maneira, entende-se que há mais de uma teoria sobre áreas de atuação do BIM em uma empresa e que, uma implementação precisa garantir que todas as selecionadas sejam atingidas.

 Consideradas as áreas de atuação BIM, faz parte do processo de implementação o desenho de um plano de Implementação, que contém metas níveis de maturidade BIM como objetivos. São inúmeras as possibilidades de intervenções, mas as prioridades são singulares a cada projeto e ao contexto aplicado.

É sabido que duas organizações serão sempre diferentes, mesmo que estejam no mesmo contexto, já que a sua diferenciação se faz pelo tipo de organização, dimensão, cultura interna, portanto, o plano deverá ser desenhado para atividades específicas, de um determinado ambiente, com participantes singulares, para um projeto de características particulares.

Assim sendo, o contexto do projeto é o que dita o que será implementado, devendo, por consequência, ser definida a escala organizacional a ser trabalhada.

Modelo para Plano de Implementação.

O modelo aqui apresentado faz parte de um Projeto de implementação já publicado pela autora (Mizumoto & Oliveira, 2020) (https://www.dpublication.com/wp-content/uploads/2020/07/30014.pdf), onde foi desenvolvido um estudo de caso em empresa de engenharia. A estrutura pretende unir gestão de projetos com a metodologia BIM, de maneira a abranger todas as áreas da empresa, e vem sendo adaptada e melhorada.  O que aqui se expõe são alguns pontos estratégicos do plano. É uma recomendação de visita ao artigo sobre a experiência de criação da estrutura para se perceber os detalhes da dinâmica do projeto.

Aproveitamento do “KnowHow” da empresa

Ilustração adaptada de: Mizumoto, J. A., & Oliveira, F. (2020)
Ilustração adaptada de: Mizumoto, J. A., & Oliveira, F. (2020)

Um ponto estratégico da implementação referencia-se ao trabalho do “know-how” da equipe participante, da difusão da informação aplicada e traduzida em conhecimento. Baseado na teoria de difusão da inovação (Rogers, 2003), é uma boa prática a valorização da comunicação e da colaboração durante o projeto para que se tenha um aproveitamento do conhecimento tácito de cada participante, isto é, o conhecimento adquirido através da prática, experiência, erros e sucessos, e para que sejam transformados em conhecimento explícito, o qual a organização e as pessoas são capazes de documentar.

Seguindo essa estratégia, o projeto pode ser dividido em 3 tempos de atuação: Planejamento do Projeto, Desenho do Modelo e Modelo colaborativo. A fase de planejamento do projeto consiste no planejamento geral de abordagem do projeto e as fases seguintes, na participação da equipe na organização da modelagem.

A divisão temporal foi personalizada, isto é, as fases do projeto objeto de estudo alteram-se nessa proposta de estrutura dependendo dos requisitos da organização. O ambiente estático é a divisão das fases em grupos de gestão do modelo, e, para cada grupo foram identificadas atividades BIM necessárias para entrega do produto final.

Organização do modelo

O PIBIM inicia na dimensão estratégica da organização e na dimensão da implementação, ele está dividido em 3 fases de atuação. Para cada uma das fases há atividades que se subdivide em 10 grupos de trabalho: (1) Diagnóstico; (2) Formação; (3) Integração de sistemas; (4) PEB; (5) Contratação; (6) Processos; (7) Cronograma; (8) Modelação e coordenação BIM; (9) Gestão Documental; (10) Reuniões.

O modelo estruturado de apresentação das atividades opera com a inclusão de maneira clara e organizada para que a equipa perceba e avalie quais as melhores ferramentas para executá-las, além de iniciar a estrutura do processo de trabalho, raciocínio intrínseco à metodologia BIM e que força os participantes a trabalhar de forma mais próxima e integrada.

 As atividades executadas durante o projeto devem ser selecionadas de acordo com os requisitos da organização e traduzidas tecnicamente para requisitos BIM, isto é, interpretadas como atividades necessárias para se executar o modelo e entregar o produto. Portanto, este PIBIM é uma estrutura que pode ser reproduzida e representa um molde personalizado para uma organização.

Ilustração adaptada de: Mizumoto, J. A., & Oliveira, F. (2020)
Ilustração adaptada de: Mizumoto, J. A., & Oliveira, F. (2020)

Notas de conclusão

Esta publicação faz parte de um conjunto de pesquisas da autora na área da Gestão de Projetos BIM.

Referências

EUBIM Task Group. (2016). Handbook for the introduction of Building Information Modelling by the European Public Sector. In EUBIM Task Group.

Mizumoto, J. A., & Oliveira, F. (2020). BIM strategy: using the project’s interdisciplinarity to implement the methodology. STECONF- 6th International Conference on Modern Approaches in Science, Technology &Engineering. https://www.dpublication.com/wp-content/uploads/2020/07/30014.pdf

NBS. (2019). National BIM Report 2019. In National BIM Report 2019 The definitive industry update. https://doi.org/10.1017/CBO9781107415324.004

Rogers, E. M. (2003). Diffusion of Innovations, Fifth Edition. In Social Networks.

Succar, B. (2009). Building information modelling framework: A research and delivery foundation for industry stakeholders. Automation in Construction. https://doi.org/10.1016/j.autcon.2008.10.003

The Pennsylvania State University. (2013). BIM Planning Guide for Facility Owners. http://bim.psu.edu

Link da publicação principal

https://www.dpublication.com/wp-content/uploads/2020/07/30014.pd

A autora 

Juliana Allonso Mizumoto
Juliana Allonso Mizumoto
  • Doutora Arquiteta e Urbanista, especializada em Gestão e Tecnologia da Construção com foco em Gestão BIM. 
  • Atualmente colabora como BIM Manager e é pesquisadora volunária do European Council on Computing in Construction EC3. 

Conteúdo e edição

Rodrigo Lauria
Rodrigo Lauria
  • Mestre Arquiteto e Urbanista, especialista em Desenvolvimento Ambiental e Urbano pela Universidade Federal do Pará.
  • Lecionou na UNAMA e na FEAPA, nos cursos de arquitetura e urbanismo, engenharia civil, design de interiores e design gráfico, além de mais de 14 anos de experiência no mercado de arquitetura e urbanismo.