Há exatos 20 anos, Pokémon Red e Pokémon Green chegavam às prateleiras do Japão e mudariam para sempre a indústria dos games (e minha vida…
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Em 27 de Fevereiro de 1996, há exatos 20 anos, começou o burburinho. Pokémon Red e Pokémon Green, para o Game Boy, o console portátil da Nintendo, chegavam às prateleiras das lojas do Japão e mudariam para sempre a indústria dos games (e minha vida, de certo modo). | ||
Quem viveu a infância nos anos 90 (assim como este cabra que vos escreve) sabe como a Pokémania foi avassaladora. No fim da década o Brasil já estava dominado: a animação exibida na TV era uma febre, o primeiro longa-metragem batera recordes de bilheteria e o álbum de figurinhas da franquia era item obrigatório para qualquer criança que prezasse por respeito no recreio. | ||
Eu era mais um fanático como tantos da minha idade, do alto de meus 9 ou 10 anos. Comprava os quadrinhos com “As Aventuras Elétricas do Pikachu” e colecionava a revista mensal Pokémon Club. Uma propaganda de contracapa de uma edição anunciava que os games dos monstros de bolso já estavam à venda no Brasil. Os que questionam os excessos da propaganda destinada ao público infantil estavam certos em problematizar os efeitos na psiquê dos pequenos: eu havia descoberto o que era desejar algo de forma obcecada. | ||
Os games que originaram todo esse alvoroço, entretanto, ainda eram para poucas crianças tupiniquins. Em meados de 1999, um bundle contendo um Game Boy Color e um cartucho do jogo era encontrado por “módicos” 400 reais nas lojas brasileiras. Para fins de comparação, o salário mínimo do ano era 136 reais. Não seria muito fácil virar um treinador por estas bandas, para meu desespero infantil. | ||
Após uma ousada operação financeira (respaldada por um parcelamento de incontáveis prestações), minha família conseguiu me agraciar com o presente dos sonhos: um Game Boy Color acompanhado de Pokémon Yellow (a versão especial com o Pikachu). A lembrança de chegar em casa após o colégio, abrir a porta e encontrar a embalagem me aguardando na sala de estar continua me arrepiando. | ||
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A pequena telinha que reproduzia no máximo 56 cores não era das mais atraentes e os sprites estáticos das criaturas nem de longe lembravam as empolgantes batalhas do anime, mas a emoção de viver como um treinador estava lá, perfeitamente representada. Diferente das versões Red e Blue (Green nunca chegou a ser lançado no ocidente), o jogador não escolhia entre um Bulbasaur, Charmander ou Squirtle como o Pokémon inicial em Yellow: o Pikachu seria o primeiro companheiro, tal qual no desenho. | ||
Conforme cresci, o mundo do entretenimento se abriu para mim, seja em livros, discos e até mesmo em outros jogos. Só que o fulgor causado pelo ritual de encaixar a pequena fita amarela no portátil, acomodar a bunda no sofá e passar o resto da tarde pós-escola preso ao mundinho fascinante em 8 bits de Kanto ainda não foi superado por experiência alguma. Talvez os tempos de infância, onde éramos facilmente deslumbrados, ajudaram na mítica daquele jogo. Ao pedir licença ao continuum espaço-tempo para revisitar o Julio do passado, eu percebo que o “lance” vai um pouco além da conclusão mais lógica. O juízo empoeirado dos tais “óculos de nostalgia” pode estar me ludibriando, mas me parece que naquela época, de sonhos sinceros e mais simples, o ideal de ser um Mestre Pokémon ainda era verdadeiro e instigante, tal qual o desafio de crescer e não desistir de grandes aventuras. A telinha de 8 bits me apresentaria a primeira de muitas jornadas. | ||
By Julio Salles on February 27, 2016. |