Uma dura notícia
Uma dura notícia | ||
E assim camos nós dois: eu esperando ele dormir e ele adormecendo lentamente, naquele momento único, onde sua testa e a minha se encontram, onde sua respiração bate no meu nariz e esse cheiro de bebê enche o meu coração... Naquele momento, que é apenas nosso, em que o menor movimento roubaria o seu sono, respiro fundo e penso: “O que seria da minha vida sem você?”. | ||
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Em outubro de 2014, depois de ter sido alerta- da mil vezes pela minha ginecologista para fazer alguns exames, com certa relutância e sem muito incentivo fui a um laboratório para fazer um ultrassom. Com raiva do meu marido por causa de uma discussão gerada em um momento de profundo estresse no trabalho, cheguei, entrei na sala e deitei na maca. É claro que minha cabeça estava em mil lu- gares, menos ali. Eu estava fazendo o exame apenas porque minha ginecologista me havia dito que eu não poderia voltar ao seu consultório sem o resulta- do de um ultrassom. | ||
O exame começou. Uma médica muito gentil ex- plicou os procedimentos que executaria em mim e concordei sem prestar muita atenção, pois pensava no final de semana e nas várias respostas que eu po- deria dar ao meu marido. Eu queria chegar em mi- nha casa o mais rápido possível, mas antes eu preci- sava ir ao supermercado fazer algumas compras para uma viagem e parar em uma papelaria para imprimir alguns arquivos. À medida que o exame progredia, eu ouvia: “ovários com presença de endometriose, útero com presença de endometriose, ligamento uterosacro com presença de endometriose”. Repetidas vezes a palavra endometriose era pronunciada. Naquele momento eu não me preocupava muito porque eu já conhecia pessoas que tinham endometriose e, na minha ca- beça, era algo completamente tranquilo de superar, combinado com a falta de informação que eu tinha até então. | ||
Ela prosseguiu: | ||
— Você está com endometriose profunda, mas não se assuste. | ||
Essa frase “não se assuste”, assusta. | ||
— Recomendo que você vá o mais rápido pos- sível conversar com o seu médico para ver quais as medidas a serem tomadas. | ||
Saí do laboratório, peguei o telefone e imediata- mente marquei uma consulta com a ginecologista. Eu a veria em três dias. Sentei-me no carro e, como “boa paciente” pesquisei no Google sobre endome- triose profunda. No resultado da pesquisa surgiu repetidamente a palavra infertilidade. Fiquei sentada no meu carro tentando digerir esses resultados sem qualquer maturidade. A discussão com meu marido desapareceu e eu me tornei um mar de lágrimas. | ||
Três dias depois fui à ginecologista, obviamente com esperança de que o Google tivesse exagerado, como quase sempre, e que meu problema pudesse ser tratado com algum medicamento. | ||
Mostrei a ela os meus exames. Ela lia o relatório médico, movia a cabeça, respirava fundo e continua- va lendo. Eu a observava com os olhos arregalados, esperando sua resposta. Por fim, terminou a leitura, pegou caneta e papel e me explicou, da forma mais simples do mundo, o que é a endometriose. Logo, assegurou que suspeitava ser esse o meu diagnóstico, pois eu já estava há um ano sem fazer uso de an- ticonceptivos e não havia engravidado. Então, sem nenhuma empatia, sem o cuidado de mãe ou pelo menos o companheirismo de mulher, com uma voz seca e parecendo não compreender o peso que pode- ria ter sua afirmação, disse: | ||
— Você não tem nenhuma possibilidade de ter filhos. É completamente infértil! O tipo de endometriose que tem nunca te permitirá ser mãe. Eu não consigo tratar essa enfermidade e te recomendo a blábláblábláblá... | ||
Sua voz foi ficando distante e uma neblina se pôs sobre a minha cabeça. Milhares de pensamen- tos começaram a saltar um sobre o outro. Eu olhava firmemente para a médica, mas sem escutar muito bem as suas palavras. Ela me deu uns papéis com alguns contatos que dobrei e guardei na minha bol- sa enquanto separava a chave do carro. Comecei a me levantar para sair, pois a consulta havia chegado ao final. | ||
Com um nó no estômago, questionei: | ||
— Não há nenhuma possibilidade? | ||
— Não, nenhuma! — Foi o que ela respondeu. | ||
Abri a porta do consultório e a secretária me perguntou: | ||
— Está tudo bem? | ||
— Não sei! — Respondi. | ||
Capítulo primeiro do livro "Por este menino eu orava" de minha propia autoria. Nele eu relato o milagre que Deus fez na minha vida, me curando da endometriose e me dando dois lindos filhos. | ||
Se você quiser ler o livro completo, basta você ingressar no link: "Por este menino eu orava" |