A arte de se comparar e não comemorar
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A arte de se comparar e não comemorar

Amanda Zeni Beinotti
6 min
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Há alguns dias, ouvi um podcast no qual a host falava que aquilo que é desejado já é seu, se entrou nos nossos pensamentos é uma possibilidade real, ainda que distante. Eu concordo, mas tenho uma grande dificuldade de falar sobre essas coisas e explico o motivo.

Sempre sempre sempre comemoro as minhas conquistas. Mas, em todas as vezes tem uma pulga atrás da orelha dizendo “Amanda, você tem muitos privilégios, você teve oportunidades, nem foi tão difícil assim, abaixa essa bola”. Por isso, repetidamente, eu preciso me perguntar: posso ter mil oportunidades, mas se eu não aproveitar cada uma delas, de que vai adiantar?

Existem muitas pessoas, principalmente no Brasil, com exageradamente menos oportunidades que eu. Por outra parte, existe uma enorme parcela de pessoas no mundo inteiro com exagerada e descaradamente infinitas oportunidades a mais que eu, certo?

Pois é, óbvio que certo.

Por que, ainda assim, é tão difícil me orgulhar do que venho fazendo? Por que, ainda assim, é complicado ver valor no que eu faço? Por que, ainda assim, não passa de um “não fez mais que a sua obrigação” para mim? Por que, ainda assim, desdenho do que conquisto?

Tenho alguns palpites e quero que você siga comigo se concordar e sentir o mesmo. Falarei sobre um deles: a comparação.

A comparação. Ahhh, a comparação. Fale o que falar, atire a primeira pedra aquele que nunca se comparou na vida. Comparar-se com aqueles que não tem oportunidades me faz compadecer e ser consciente dos privilégios que tenho. Não é comparar-me com uma pessoa específica, querendo ser outra pessoa ou ter outra vida. É uma comparação mais macro, mais ampla, inconsciente as vezes.

Ao escrever “compadecer”, fui buscar o significado literal da palavra e, segundo o nosso fiel Google, é “sentimento piedoso de simpatia para com a tragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de minorá-la; participação espiritual na infelicidade alheia que suscita um impulso altruísta de ternura para com o sofredor.”

Quem sou eu para dizer que a vida de cada um é uma tragédia? Sinceramente, quem sou eu para comparar a minha vida e dizer que ela é melhor ou pior? Tem pessoas que odiariam estar onde eu estou. O que eu faço falando compadecer, nada mais é do que impor o que eu tenho como verdade e objetivo na minha vida para outra pessoa. Até de escrever essas palavras eu não tinha pensado nesse viés da comparação, mas que cabe bem nesse raciocínio.

Voltamos ao tema. Hoje também vejo que ao invés de pensar que não posso comemorar, por que não comemoro e começo a pensar maneiras de trazer mais oportunidades para aqueles que não tem, mas querem mudar de vida?

Para alguns leva mais tempo, para outros menos. Para uns é preciso só uma ligação, para outros 10 anos. Para alguns é preciso acordar às 5h, para outros às 9h. Para alguns o preço do voo não importa, para outros o da comida é o mais importante. Cada um tem o seu caminho, mas se tem uma coisa que eu não duvido é o poder da lei da atração. No final explico como vejo essa lei.

Por ter privilégios penso que minhas conquistas não valem.

Nesse momento levo a luz da comparação ao outro lado, àqueles que têm os mesmos ou muitos mais privilégios que eu. Ouvi o Tallis Gomes falando algo que me fez começar a mudar a forma que eu via minhas conquistas. Era como que achava lindas as histórias de pessoas que não tinham nada e construíram um império, mas que também dava muito valor àquelas que tinham muito e conquistaram mais ainda - aqui não é só de dinheiro.

Comparando-me com o perfil que acabo de mencionar, vejo que estou no caminho certo. Quando eu falo certo, explico. Não existe aquele certo e irretocável. Mas, sabe quando você percebe que está aproveitando todas as oportunidades que aparecem na sua frente, trabalha com vontade de melhorar a carreira todos os dias e tem cara de pau para ir atrás do que você quer independente do que acontecer, em vez de reclamar do que a vida te apresenta? Sabe quando você sente que tem fome de vida?

Por 8 anos eu quis voltar a morar na Espanha. Oito. Quando me perguntavam qual era o meu sonho, nunca respondi diferente disso. A partir da graduação, comecei a planejar e transformar o sonho em objetivo, meta.

Partindo do meu privilégio, vim. Continuei trabalhando para o escritório do Brasil, com horários confusos, sempre disponível independentemente do horário ou do lugar. Conectei com pessoas que eu nunca tinha visto na vida no Linkedin para visitar as áreas de transformação digital de escritórios. Foram mais de 30 pessoas, 2 me responderam. Fui conhecer um dos melhores escritórios da Espanha. Fui conhecer 3 faculdades para fazer pós, achei a perfeita, fiz todo o processo do visto sozinha, cheguei, fiz amizades e encontrei uma oportunidade para trabalhar com inovação, por alguns momentos tive jornada dupla em dois trabalhos diferentes e temas, horários, idiomas e responsabilidades diferentes.

Eu acredito que a lei da atração existe, sempre e quando a ação vem junto.

Não adianta pensar. A força do pensamento só está movendo carrinhos por enquanto. É preciso fazer. Eu poderia ter vindo, viajado a Europa, do alto do meu privilégio - de novo - e não ter feito nada além de beber e comer boa comida, duas coisas que nunca faltam aqui, mas não foi o que aconteceu.

Eu falo tudo isso e conto a minha história, apenas como um exemplo - e porque é a que eu conheco melhor rs. Poderia ser a sua que levanta às 5 da manhã para ir à academia, faz suas comidas, tem responsabilidades, trabalha o dia todo e ainda precisa estudar. Poderia ser a sua que está cuidando de um familiar e trabalhando ao mesmo tempo. Poderia ser a sua que está na faculdade, fazendo estágio, tendo que ajudar nas contas de casa… Poderia ser a sua.

Falo a você que às vezes invalida suas conquistas. Tem muita gente do alto do seu privilégio que não fez metade do que você fez e só sabe reclamar da comida, do trabalho, da vida, da academia… De que adianta?

Cada um tem a sua vida, seu caminho e seus objetivos. Ninguém é melhor ou está em cima de ninguém. É a vida acontecendo. O importante é seguir caminhando, testando, aproveitando e criando oportunidades e exprimindo o máximo de cada uma delas.

Com carinho, Amanda.

Muito obrigada por ler até aqui. Cada linha superada é importante :)

Nesse momento estou sem Instagram - preciso dizer que vivo bem melhor sem, mas tema para outra -, mas se quiser me contar o que achou, pode comentar ou me mandar um e-mail mandazenibe@outlook.com. Principalmente o que achou desse novo formato, apenas um tema e um texto, sem "setores" separados nem fotos. Obrigada!