Como um passarinho no pôr do sol do inteiror
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Como um passarinho no pôr do sol do inteiror

Amanda Zeni Beinotti
4 min
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Acho que a primeira vez que senti o peso das mudanças foi em 2010 quando nos mudamos de Araras a Marília. Fomos visitar as escolas alguns meses antes para decidir onde eu estudaria nos anos seguintes. Visitamos algumas e chegamos a uma com lousa digital. Vocês têm noção do que era uma lousa digital naquela época (ok, aqui me senti uma tia avó falando)?

Eu desde pequena gosto de tecnologia, tive vários blogs em momentos que ninguém sabia o que era ou se interessava e me achava uma designer e editora de vídeo. Sempre ligada à criatividade.

Por isso escolhemos essa escola. Encantada com o inovador, fui levada pela correnteza da ignorância infantil. Essa que não entende o perigo e não calcula riscos. Mal sabia que aí passaria por algumas coisas que me fariam trocar de escola nos meses iniciais - e outras que me fariam voltar alguns anos depois.

Essa tal ignorância infantil é o que eu acho que faz o nosso olho brilhar e nosso sangue ferver. Planejar é importante, já chegamos a um momento que pular na piscina sem nem olhar a altura não é o mais prudente. Mas, planejar não é tudo. Não sabemos muito bem o que vai ter depois da decisão tomada. Quando se abrem as cortinas para começar a peça, não podemos planejar e garantir a reação de cada um da plateia. Podemos planejar e dar o nosso melhor.

Depois da decisão de se aventurar em outros rios, é preciso estar pronto para receber e enfrentar qualquer correnteza. Você sabe que viram correntezas, mas não sabe se fortes, ou fracas, se pela direita ou pela esquerda. Aqui está o pulo do gato. Saber que você terá momentos que não está preparado, que não tem o conhecimento ou a coragem necessária, que não viu se aproximar. E saber que precisa enfrentar o que for. Apenas e tão somente porque essa é a vida.

Isso faz parte de qualquer mudança. De cidade, país, carreira, relacionamento… É muito mais fácil e tranquilo fazer o que sempre fez, ir pelos mesmos caminhos a vida inteira e seguir o script definido. Ouvi o Luciano Huck, paulistano, dizendo no Podpah que na sua cidade natal é muito fácil se descuidar e estar a vida inteira com o mesmo círculo de amigos, passando pelas mesmas ruas e vivendo as mesmas coisas a vida toda, mas que a TV o salvou de ser essa pessoa fechada e avessa ao novo.

A TV ensinou a ele o que a vida também vem me ensinando. Agora que penso, enquanto escrevo esse texto, mudanças não faltaram na minha vida e parece que passo por elas como um passarinho voando no pôr do sol de uma cidade do interior. Às vezes sozinha, às vezes acompanhada. Impressiona àqueles que têm uma visão mais detalhista e apaixonada da vida. Normalizada por aqueles que voam. Essencial e insubstituível para mim. Já imaginou um passarinho sem voar? Acho que a mudança virou um combustível na minha vida.

Já falei e repito. Não é uma mudança desenfreada, sem razoabilidade. Hoje entendo que só tenho essa vida e vou construindo o caminho caminhando. Preciso direcionar os meus passos pelas paisagens que gostaria de ver até esse trajeto acabar.

Assim, não tenha medo de mudar. Saiba que vai enfrentar desafios. Não sei dizer quais. Às vezes dói, às vezes se enfrentam com uma alegria incalculável. Mas que o sabor de enfrentar cada um deles com apoio ou sem é melhor que chocolate. Se soubéssemos cada uma das pedras que entraram no caminho ou árvores que temos que pular, não teria muita graça né?

Espero que tenham gostado dessa edição.

Com carinho,

Amanda Zeni.