A história desse grupo começou bem antes da copa, tanto pela existência de todos os problemas sociopolíticos entre os países envolvidos, quanto a incrível história do País de Gales, que abordarei um pouco mais a frente, mas o que me chamou a ...
A história desse grupo começou bem antes da copa, tanto pela existência de todos os problemas sociopolíticos entre os países envolvidos, quanto a incrível história do País de Gales, que abordarei um pouco mais a frente, mas o que me chamou a atenção nesse grupo, pelo menos nessa primeira rodada, são os momentos de redenção e êxtase que o futebol proporciona para todos aqueles que o amam. | ||
Inglaterra x Irã - Sempre há algo a se olhar. | ||
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Historicamente em copas do mundo, a definição de alguns grupos é decidida no sorteio, com times candidatos a títulos pegando times que estariam virtualmente eliminados em qualquer cenário. O grupo B tem um pouco disso. Não que eu veja a Inglaterra como uma candidata ao título, não vejo, mas é, de fato, uma seleção forte com uma geração promissora, contra o Irã, que embora tenha conseguido consecutivas classificações para a Copa, não é exatamente uma potência futebolística. | ||
A Inglaterra chega para essa copa bastante pressionada, a seleção comandada por Southgate, embora tenha literalmente inventado o esporte, sofre com consecutivos fracassos em competições internacionais, conquistando uma copa em toda sua história e nunca tendo vencido uma Eurocopa, embora seja sempre pintada como favorito. Mas a Inglaterra de Southgate, desde que ele assumiu, não vem decepcionando tanto assim, entregando resultados satisfatórios mesmo com pobre desempenho, chega a uma semifinal de Copa do Mundo e a final da Eurocopa. Porém, após a derrota para a Itália ano passado, o desempenho continuou fraco e os resultados pararam de aparecer, isso aliado à escolhas questionáveis de convocação (Maguire ao invés de Tomori, por exemplo) e diversos problemas de lesão fizeram a panela de pressão inglesa chegar próxima do limite ao Qatar. | ||
Já o Irã não é uma seleção tão tradicional assim, mas, no comando do técnico Carlos Queiroz, classificou-se para ambas as copas de 2014 e 2018, caracterizando-se por uma defesa extremamente sólida, que fez até grandes seleções como Portugal e Espanha terem dificuldade em vazá-los em edições anteriores. Queiroz não comandou a seleção durante todo o ciclo de copa, porém foi chamado para reassumir a mesma em Setembro (sim, 2 meses atrás), pois o antigo técnico havia perdido a confiança de torcida e elenco. Com isso, era natural que a confiança da equipe não estivesse alta, e seriam as zebras do grupo mesmo se a confiança fosse total. | ||
O jogo começou como esperado, Inglaterra girava a bola, com uma posse improdutiva, enquanto o Irã se fechava com suas linhas bem compactadas, esperando uma chance para contra-atacar com Taremi, seu melhor jogador. Com o Irã abrindo mão da posse, os meio campistas da Inglaterra passaram a dominar o jogo, com Rice e Bellingham controlando a faixa central e Mason Mount conduzindo o ataque mais a frente. Sem espaço para arrancadas ou tempo para domínios, Sterling e Kane ficaram um pouco apagados nesse começo de jogo e Saka, pela direita, não conseguiu furar as linhas de forma satisfatória. Esse tipo de jogo é decidido por quem fizesse o gol primeiro, mas a Inglaterra parecia incapaz de fazê-lo. Até termos uma paralização de 15 minutos, com o goleiro do Irã tendo sofrido uma forte pancada, necessitou de atendimento e, posteriormente, de uma substituição. | ||
Após isso, a Inglaterra parece ter voltado com uma marcha a mais engatada, enquanto o Irã pareceu desligar do jogo. 10 minutos após, estava 3-0, com gols de Bellingham, Saka e Sterling. No segundo tempo tivemos Saka fazendo mais um com uma belíssima jogada, Taremi até conseguiu descontar, mas todos sabiam que o jogo estava decidido. | ||
O desfecho não surpreendeu ninguém, mas o que me chamou atenção foram as consequências do 5 e 6 gol ingleses. O 5° gol veio por meio de Rashford, o mesmo Rashford que, na disputa de pênaltis que definiu a Eurocopa do ano passado, desperdiçou sua cobrança. Saka também perdeu sua chance naquele dia. Ambos foram vítimas das mais dolorosas discriminações racistas após isso. E nesse dia, diante do mundo inteiro, se redimiram, com Saka tendo elogios inteiros sendo feitos a ele em tablóides ingleses e Rashford fazendo o gol mais bonito da goleada. O 6° gol veio por Grealish, estrela do City, que comemorou de forma bem especial, homenageando um jovem torcedor que tem no atacante inglês seu maior ídolo. | ||
Um jogo relativamente sem expectativas e com um desfecho previsível, de fato, mas sempre existe alguma história bonita sendo contada, contanto que saiba olhar para o lugar certo, seja um garoto recebendo homenagem de um ídolo, uma redenção ou até mesmo a estréia de um jovem jogador que, em seu primeiro jogo de copa, faz o primeiro gol com a camisa de sua seleção, sendo o único a jogar longe do seu país, retribuindo ao carinho da torcida que praticamente forçou o técnico a chamá-lo. | ||
Destaques: Bellingham (Inglaterra), Saka (Inglaterra), Declan Rice (Inglaterra). | ||
EUA x Gales - Herança e Memória | ||
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Com o jogo da Inglaterra definido e os destinos do resto do grupo selado, a atenção voltou-se para o jogo entre os dois times que disputarão a última vaga do grupo. EUA e Gales tem histórias bem diferentes em seus países e seleções. Enquanto a geração estadunidense tem constantes chances em suas competições internacionais e certa frequência em Copas do Mundo, Gales tem vivido um momento extremamente luxuoso em sua história, com uma geração capaz de levá-los adiante na Eurocopa E para a Copa do Mundo. | ||
Nas últimas edições do torneio, os EUA estiveram quase sempre presentes, mostrando sua força diante da CONCACAF, mas a seleção que chega para essa edição não é a mesma que demonstrou tamanha dominância anteriormente. Com falhas de renovação em diversas funções do elenco e uma dependência criativa de sua maior estrela, Pulisic, os EUA chegam a copa apenas como terceira força da América do Norte, decepcionando seus torcedores que, ao verem o decair da antiga geração, esperavam uma mais forte se erguendo, o que parece não acontecer. | ||
Já Gales não tem decepções para lidar. Tendo, possivelmente, a melhor geração de sua história, e uma grande estrela em Gareth Bale, que embora não seja mais tão bem visto mundialmente, sempre terá um grande status. Além disso, Gales está em sua primeira copa em 64 anos, sendo sua segunda ao total. Esse jogo, particularmente falando, é marcado por herança e memória. | ||
A herança vem por parte de Weah. Atacante estadunidense que teve em seu pai, um dos maiores atacantes da história de Nairóbi e também do mundo, sua grande inspiração, vendo suas histórias incríveis e seu título de, um dia, ter sido o melhor jogador do mundo. Mas o pai de Weah nunca teve a chance de jogar uma Copa do Mundo, o sonho de todos os jogadores nunca foi realizado por ele. Mas seu filho herdou o sonho e o levou a diante. | ||
Com um primeiro tempo dominado pelos EUA, mas sem grandes chnces de marcar, Weah se viu dentro do sonho de seu pai, e do seu próprio. E em uma jogada genial de Pulisic, esse mesmo Weah se viu sozinho diante do goleiro, e todo a sua herança, tudo aquilo que pegou de seu pai e levou a diante, se concentrou na ponta de sua chuteira para abrir o placar e criar uma nova Memória. | ||
Já a Memória estava com todo o País de Gales, vivendo um momento que apenas seus avós tinham se gabado de ter tido, viram novamente seu país e seleção representados na maior competição do mundo. Para se ter uma noção, da última vez que Gales esteve em uma copa, o Brasil tinha apenas um título e Pelé tinha 21 anos. O segundo tempo do jogo foi mais equilibrado, com Gales chegando a ser melhor em determinados momentos, e foi então que, já nos acréscimos, Gareth Bale sofre o pênalti em um lance bem perigoso. O peso do país sobre seus pés. Mas ele está acostumado com esse peso e empatou o jogo de maneira memorável. Na hora do gol, a câmera focando em uma pequena criança na arquibancada, uma daqueles que, eventualmente, transformará Memória em Herança. | ||
Destaques: Pulisic (EUA), McKennie (EUA) |