Diário da Copa 14 - Experiência, Ingenuidade e Decadência.
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Diário da Copa 14 - Experiência, Ingenuidade e Decadência.

Após a primeira rodada, o grupo F se encontrava em uma situação que era até esperada, mas não da maneira que todos achavam. Bélgica liderando após vencer o Canadá, mas sofrendo bastante defensivamente e com suas principais peças ofensivas jog...

Enrich Vasconcelos
8 min
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Após a primeira rodada, o grupo F se encontrava em uma situação que era até esperada, mas não da maneira que todos achavam. Bélgica liderando após vencer o Canadá, mas sofrendo bastante defensivamente e com suas principais peças ofensivas jogando bem abaixo do que é esperado delas. Já a Croácia até realizou um jogo um pouco melhor do que Marrocos, mas muito mais pela genialidade de Módric do que propriamente por um desempenho coletivo superior.

Para essa segunda rodada havia alguma expectativa nos jogos a se seguir, mas o que mais gerou o que falar foram as coletivas dadas pela principal estrela belga:

Belgica x Marrocos - Velhos demais para isto

                                                              Marrocos abre o placar contra a Bélgica
                                                              Marrocos abre o placar contra a Bélgica

As polêmicas ao redor desse jogo se concentraram em apenas um lado: o da Bélgica. Kevin de Bruyne, em uma entrevista coletiva, foi questionado se a Bélgica teria chances de ganhar a Copa do Mundo. O primeiro fator a ser levado em consideração aqui é que até mesmo os jogadores do Qatar vêm para uma Copa do Mundo com a crença e a vontade de ganhar, não pode ser de outra forma. Por mais que você saiba das dificuldades, deve-se sempre dizer que sim, tem chances, sem dar desculpas para não. Mas De Bruyne respondeu que eles não possuíam chance alguma, que os principais jogadores estão muito velhos para isso e que os jovens que surgiram não são tão bons assim. Isso aliado aos problemas já existentes entre jogadores, como é o caso de De Bruyne e Courtois, tornou a seleção um barril de pólvora prestes a explodir.

Por outro lado, Marrocos vinha relativamente mais leve, tendo conseguido arrancar um ponto importante contra a Croácia, vinham pra enfrentar um adversário forte, mas que, em tese, tinha um encaixe bem melhor para as forças marroquinas. Falando em conflitos internos, vale lembrar que Marrocos teve vários durante seu ciclo para a Copa, chegando a ter seus dois principais jogadores (Ziyech e Hakimi) foram das convocações por desavenças com o técnico que, ao garantir a vaga na Copa, foi demitido por algum que, talvez fosse mais capaz de levar a seleção adiante trazendo os nomes já citados consigo.

As mudanças começam pelo esquema tático da Bélgica, com a mudança de um esquema de 3 zagueiros para uma tradicional linha de 4, mantendo Courtois no gol e a dupla de zaga Vertonghen-Alderweireld. Castagne se mantém na esquerda, não mais como ala, e sim como zagueiro,  e pela direita Meunier ganha a vaga de Dendocker. Witsel é mantido no meio campo e, ao invés de Tielemans, é Onana quem faz dupla, tentando deixar a faixa central com mais capacidade de combate. Á frente, Hazard e De Bruyne são mantidos e Thorgan Hazard começa pela outra ponta (a esquerda no caso), com Batshuayi na frente. Abrindo mão dos alas, o técnico da Bélgica tentou ganhar mais solidez defensiva, mudando as características dos jogadores em campo, ao mesmo tempo, buscou novas alternativas no setor ofensivo, trazendo Thorgan e até o proprio Meunier, que tem uma chegada forte ao ataque.

Pelo lado de Marrocos, a única mudança ficou por parte do goleiro Bono que, escalado e tendo cantado o hino nacional junto de seus companheiros, pareceu sentir e foi substituído antes do jogo começar por Mohamedi.

A Bélgica até começou melhor, com as alterações aparentando fazer sentido. Thorgan mais fixo pela esquerda explorando a fraqueza defensiva de Hakimi por aquele lado encontrou um belo lançamento para Batshuayi, que não rematou como gostaria. Marrocos, com o tempo, foi conseguindo algumas chances também, como por exemplo a batida de fora da área de Ziyech, que começava a castigar a marcação de Castagne-Witsel por aquele lado. Hakimi também foi bem agudo por aquele lado, sobrecarregando ainda mais um lado defensivo já vulnerável. A essa altura, em torno dos 40 minutos do primeiro tempo, já se notava a chegada do padrão belga, com um elenco mais envelhecido, perde-se a intensidade com o decorrer do tempo, então Marrocos já passava a ter mais posse e, enquanto isso, a Bélgica só conseguia chegar através de bolas paradas.

Mas é Marrocos quem abre o placar. Ou quase. Em uma batida de falta lateral, Ziyech resolveu surpreender e mandar direto pro gol. Courtois aceitou, mas o juiz interpretou que o goleiro foi atrapalhado pela presença de um jogador impedido de Marrocos próximo a ele. Mas a Bélgica foi para o intervalo com um frio na espinha. Na volta do segundo tempo, Ziyech novamente tenta o chute de fora da área, trazendo mais perigo do que da última vez. A Bélgica até continuou tendo algumas escapadas em contra-ataque, mas era Marrocos quem levava mais perigo até que, em um lance muitíssimo parecido com o do gol anulado, cobra-se uma falta para dentro da área e Courtois novamente falha no lance, mas desta vez sem possibilidade de anulamento. A Bélgica até tenta reagir, mas não consegue construir nada além de jogadas de bola parada e tentativas individuais de longa distância, como a de Mertens. Já nos acréscimos, Ziyech recebe a bola próximo da entrada da grande área belga, humiha a marcação de Castagne, que deve estar procurando ele até agora, e cruza dentro da área para Aboukhlal fechar o jogo, 2x0.

Após a partida, Vertonghen, provavelmente incomodado pelos comentários de De Bruyne, disse em entrevista que não conseguiram marcar gols porque estavam velhos demais para isso no ataque, alfinetando o companheiro de equipe, que fez mais uma partida apagada. Os boatos que surgiram após isso são os de uma briga física entre alguns jogadores e, após alguns dias, mais uma alfinetada no elenco, desta vez vinda de Courtois.

Com isso, a seleção belga parece a beira de uma implosão, tudo isso apenas alguns dias antes do jogo decisivo do grupo contra a Croácia onde precisam pelo menos pontuar para continuar sonhando e onde dependem somente da vitória para dependerem apenas de si mesmos.

Já Marrocos agradece por ter tomado a escolha certa na troca de treinadores, pois Ziyech fez a diferença na partida, desequilibrando em todos os momentos do jogo. Marrocos chega em 2 lugar no início da próxima rodada, enfrentando o já eliminado Canadá, precisando apenas de um empate para passar de fase, embora a possibilidade de liderar o grupo não seja nula.

Destaques: Ziyech (Marrocos), Amrabat (Marrocos), Saiss (Marrocos), Thorgan Hazard (Bélgica)

Croácia x Canadá - Dura lição

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A segunda partida de cada time vinha com obrigações diferentes para cada um. Enquanto Canadá fez uma partida muito boa contra a Bélgica, precisava rapidamente se recuperar mentalmente de uma derrota dura e ser tanto mais assertivo nas finalizações quanto mais sólido na defesa. Já a Croácia vem de um jogo em que até foi melhor que Marrocos, mas jogou muito abaixo do padrão que é esperado de uma seleção que tem a qualidade que a Croácia possui.

O time croata veio com apenas uma mudança, com Livaja assumindo o lugar de Vlasić no ataque. Já Canadá fez mudanças táticas e abriu mão de Larin, jogador mais próximo de um atacante, para colocar Hoilett, encorpando o meio campo e tendo mais gente com quem trabalhar neste setor.

O jogo começou animado, com Canadá criando bastante e conseguindo gol com apenas um minuto, em uma cabeçada de Alphoso Davies após uma infiltração, o primeiro dele e de Canadá em Copas. Mas então a Croácia começou a mostrar sua superioridade, controlando o meio campo, sem deixar espaço para os Canadenses que, sem a bola e sendo bombardeados, deveriam começar a mostrar brechas em sua defesa logo, logo. Kramaric até abriu o placar, em um gol impedido, mas isso era apenas um sinal do que estava por vir.

4x1, sem chances de reação. 

Há um longo caminho a se percorrer antes de estar pronto para uma Copa do Mundo, e o Canadá iniciou esse caminho muito bem, com uma geração promissora e talentosa, mas precisam de experiência antes de serem um concorrente, como aconteceu com a própria Croácia quando a atual geração surgiu lá atrás em 2006. Dessa forma a próxima edição, em casa, tende a ser outro ponto de evolução para os canadenses, que após desse jogo são oficialmente o 2° time eliminado da Copa do Mundo. Já a Croácia precisa de mais jogos como o de ontem, onde seu talento e experiência são corretamente usados para garantir o resultado, com a vantagem do empate, enfrenta a Bélgica na decisão das vagas na última rodada.

Destaques: Kramaric (Croácia), Brozovic (Croácia), Modric (Croácia)

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