Diário da Copa 17 - Rota de Colisão.
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Diário da Copa 17 - Rota de Colisão.

Finalmente chegamos à última rodada da Copa do Mundo. Com apenas duas seleções eliminadas (Catar no grupo A e Canadá no grupo F) e 3 seleções já classificadas para a segunda fase (França no grupo D, Brasil no grupo G e Portugal no grupo H), s...

Enrich Vasconcelos
10 min
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Finalmente chegamos à última rodada da Copa do Mundo. Com apenas duas seleções eliminadas (Catar no grupo A e Canadá no grupo F) e 3 seleções já classificadas para a segunda fase (França no grupo D, Brasil no grupo G e Portugal no grupo H), sobravam 27 seleções brigando por apenas 13 vagas, uma nota de corte de mais da metade ainda.

Para o grupo A, vemos a Holanda precisando apenas vencer o já eliminado Catar para assegurar sua vaga e, provavelmente, o primeiro lugar do grupo, para fugir de uma possível Inglaterra nas oitavas. Já o outro jogo é um mata-mata antecipado, com Senegal e Equador jogando pela vaga, com a equipe sul-americana tendo a vantagem do empate.

Holanda x Catar - DeGakpendência

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Quanto ao jogo, não era nem de longe o centro das atenções, com o excelente jogo de Equador e Senegal acontecendo ao mesmo tempo e este sendo um jogo de "favas contadas", pois provavelmente a Holanda venceria sem muitos esforços e sem o Catar representar perigo.

Taticamente falando, a Holanda manteve sua formação de 3 zagueiros, mantendo Timber como titular ao lado de vin Dijk e Aké, os alas se mantiveram como Dumfries e Blind, mas o meio campista que faria companhia á de Jong no centro do campo foi de Roon, mostrando uma certa indecisão por parte de van Gaal, que escalou 3 jogadores diferentes para a função nos 3 jogos. No ataque, a posição de meia atrás dos atacantes continuou com Klaassen e Gakpo também é mantido mais a frente, desta vez fazendo dupla com Memphis Depay, principal nome dessa geração e que finalmente parece recuperado da lesão que teve pouco antes da Copa.

Pelo lado do Catar, Barsham é mantido após a lesão do goleiro titular no primeiro jogo, o quinteto titular da defesa também se mantém, com a dupla de alas pela direita de Pedro Miguel-Mohamed sendo a principal esperança de criação de jogadas. No meio, Hatem ganha a vaga de Boudiaf. 

O jogo rapidamente assume o desenho esperado, com a Holanda, que adora ter a posse de bola, dominando uma equipe que prefere se manter longe dela, mas sem grandes oportunidades criadas. Começa a perceber-se uma certa dependência criativa da Holanda na figura do Gakpo, com a mesma dificilmente conseguindo construir algo sem uma jogada individual do mesmo, semelhante ao que acontecia com Depay no começo do ciclo. 

Uma boa esperança para os holandeses começou a surgir quando os dois jogadores citados pareceram começar a se entender em campo, como na jogada em que Memphis encontra Gakpo no meio da marcação, que tabela com Klaassen, arranca se livrando da marcação e chutando longe do alcance do goleiro, abrindo 1x0. Este foi o terceiro gol de Gakpo em 3 jogos, se igualando na artilharia daquele momento com Enner Valencia e Kylliam Mbappé, porém com um jogo a mais que ambos.

O Catar, já em um clima de fim de festa, não parecia oferecer resistência á Holanda, que por sua vez não parecia disposta a atacar com tanto fervor, até para evitar um maior desgaste. O segundo gol, no início do segundo tempo, parece surgir até sem a equipe holandesa fazer muita força, em um cruzamento na área que Depay finaliza, o goleiro dá rebote e de Jong chega antes da marcação para fazer seu primeiro gol em Copas. O jogo até chegou a ter um terceiro gol, com Gakpo encontrando um passe excelente para Jansen tocar para Berghuis, mas um domínio de braço da jovem estrela anulou o gol. Este mesmo Berghuis chega a colocar uma bola no travessão antes do fim da partida, mas nada muito além disso.

O Catar se despede da Copa como o pior mandante da história das Copas, em sua primeira, e provavelmente última, Copa, eles se tornaram os únicos mandantes a serem derrotados na estréia e a não vencerem um jogo sequer, tendo pelo menos marcado um gol contra Senegal para não tornar essa passagem totalmente inútil.

Já a Holanda, passa em primeiro no grupo, mas está longe de não ter preocupações. Embora tenha parecido achar soluções para o gol com Noppert, o trio de zaga, que demorou a se firmar, parece ainda fora de sincronia com de Jong, o principal iniciador de jogadas, e, para além disso, a indecisão no parceiro de De Jong no meio também é algo digno de nota. No ataque, Gakpo tem sido uma grata surpresa, tirando coelhos da cartola constantemente, mas preocupa um pouco o nível de atuação de Memphis, que as vezes não parece acompanhar, e a falta de criatividade de outros membros do ataque. Coletivamente, a Holanda jogou pior suas duas partidas mais importantes, sendo pior que Senegal até os 70 minutos de jogo e sendo dominados pelo Equador por quase o jogo todo. Apesar de tudo isso, é presenteado com a liderança do grupo e um adversário nas oitavas não tão poderoso quanto era o esperado, com os EUA tendo problemas de diversas áreas.

Destaque da partida: Gakpo (Holanda), Berghuis (Holanda), de Jong (Holanda) e Memphis (Holanda)

Melhores jogadores da fase de grupos: Gakpo (Holanda) e Haydos (Catar)

Senegal x Equador - Os Pilares que sustentam o mundo

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Senegal sempre foi uma das melhores seleções da Africa, então não foi uma grande surpresa para ninguém quando grandes nomes começaram a surgir para essa geração, como por exemplo Mendy, Koulibaly, Idrissa Gueyé e, o maior deles, Sadio Mané. A figura central de Senegal foi protagonista de seu país durante todo o ciclo, principalmente durante a Copa Africana de Nações, quando Senegal conquista o título e uma das maiores fotos da história da fotografia esportiva é tirada, milhares, talvez até milhões, de pessoas reunidas em uma grande festa noturna na frente do Monumento da Renascença Africana, em Dakar. Foi um duro golpe para eles quando Mané foi confirmado fora da Copa e, embora possuíssem uma geração excelente, achei que isso não seria o suficiente, principalmente após a derrota para a Holanda. 

Senegal chegou para decidir a vaga contra o Equador, levando o orgulho do berço da humanidade consigo e, acima de tudo, levando a liderança de Mané consigo para aqueles que seriam um dos jogos mais importantes desta edição de Copa.

Senegal novamente se modificou para esta partida. Após perderem Kouyaté por lesão na primeira partida da Copa, eles usaram isso como oportunidade para assumirem um esquema mais ofensivo contra a fraca seleção do Catar, mas agora, no jogo decisivo, voltam para um esquema mais equilibrado, usando um 4-2-3-1. Mendy, titular absoluto e indiscutível, permanece no gol. A linha de 4 permanece a mesma que jogou contra o Catar, Diallo e Koulibaly no centro da zaga, com Jakobs e Sabaly na esquerda e na direita, respectivamente. A dupla de volantes passa a ser Ciss e Pape Gueye, dois jogadores um pouco mais físicos que Idrissa Gueyé, que passa a jogar um pouco mais a frente, armando o jogo. Nas pontas, Sarr é mantido, mas Diatta perde a vaga para Ndiaye, com Dia jogando mais a frente. 

Já o Equador volta a formação em uma linha de 4, com Galíndez no gol, Preciado e Estupiñan como laterais bem agudos e uma sólida dupla de defesa com Hincapié e Torres. Sem Méndez, o pilar deste meio campo, o Equador opta por oferecer mais opções com quem Caicedo pudesse trabalhar, colocando Franco e Gruezo incorpando essa faixa. Com Valencia, Estrada e Plata fazendo o trio de ataque.

Logo aos 3 minutos, Idrissa Gueyé tem uma chance clarissíma de gol, desperdiçada. Essa chance demonstrava como seria o jogo em si. Com a necessidade da vitória, visto que o empate classificaria o Equador, Senegal se lança para o ataque, mais focado ainda em seu jogo direto e rápido. Já o Equador parecia sentir falta de seu jogador mais experiente de meio-campo, não conseguindo trabalhar a bola adequadamente. Diá e Sarr também tiveram suas chances, mas o próprio nervosismo e urgência fincado na mente dos jogadores parecia atrapalhá-los na hora da conclusão. 

Equador parece entender o jogo rapidamente, com Senegal dominando o meio-campo, os laterais, naturalmente muito ofensivos, não conseguiam atacar satisfatoriamente, diminuindo o poder de criação do time e, com um jogo bem ruim de Enner Valencia no dia, parecia difícil para o Equador vencer o jogo, então jogou para não perder, focando mais na própria solidez defensiva, o que diminui a facilidade com que Senegal chegava. Até os 41 minutos, quando em uma jogada de velocidade, o zagueiro Hincapié, que fazia uma Copa excelente até aqui, comete o pênalti sobre Sarr. 

O próprio Sarr cobra, de maneira perfeita, e abre o placar. O jogo vai ao intervalo e, quando volta, Equador vem para se lançar a frente, com Franco e Gruezo dando lugar a Cifuentes e Sarmiento, jogadores mais ofensivos do que eles. Neste momento, mais ofensivos e chegando mais, Equador começa a perceber o tamanho da encrenca em que se meteu, com uma partida quase irretocável de Koulibaly na zaga, um dos melhores zagueiros do mundo em um bom dia não é algo que você gosta de encontrar quando precisa de um gol. O jogo volta a ficar difícil, com o Equador não conseguindo furar a poderosa defesa senegalesa.

Porém, em um lance de bola parada, Torres desvia e, no segundo poste, a estrela do jovem jogador Caicedo brilha e ele empata. Em uma noite em que os atacantes não pareciam próximos do seu melhor em momento algum e, ao meu ver, na única falha de Koulibaly durante todo o jogo, é o momento que Caicedo aparece para decidir.

Mas as pessoas se surpreenderiam com a velocidade que pode-se alternar entre os papéis de herói e vilão. Pode-se ir de herói a vilão em dias, de vilão a herói em minutos. 

Dois minutos depois uma bola é alçada para dentro da área do Equador, em um lance aparentemente vão e sem perigo. Porém Valência, artilheiro da Copa até aqui e herói dos dois primeiros jogos, rebate muito mal e a bola sobra livre para Koulibaly que, em questão de dois minutos, viu o gosto do heroísmo em seus lábios ao fazer o 2x1.

Koulibaly tem, no momento deste texto, 67 jogos pela seleção de Senegal e, em sua carreira, tem 20 gols. Este foi o primeiro deles pela seleção senegalesa. E provavelmente será o mais importante de todos. Um gol de classificação em um momento dramático de uma Copa do Mundo. Um gol que, ao ser feito, parece abalar metade do mundo, pois o choque e a desesperança foram do Qatar ao Equador em segundos. 

O apito final é um sinal de alívio e desespero. É o revitalizador de sonhos e o destruidor deles, tudo ao mesmo tempo.

Equador cai, tendo feito uma das Copas mais dignas de uma seleção eliminada até aqui, lamentando os erros de arbitragem cometidos contra eles no jogo da Holanda, onde poderiam ter vencido para já estarem classificados antes do jogo contra Senegal. Mas o destino não sorri para todos. Equador foi uma grata surpresa, fazendo uma campanha estelar nas classificatórias e tendo um desempenho tão bom quanto nos 3 jogos da Copa. Sai vencido, mas com fortes intuitos de voltar e fazer ainda melhor em 2026.

Já Senegal se classifica em segundo neste grupo, mas com o melhor futebol apresentado do grupo, sendo, na minha opinião, o segundo melhor segundo lugar desta Copa e prepara-se para enfrentar uma instável Inglaterra, pronta para, uma vez mais, sacudir todos os pilares do mundo, pois eles não virão para perder.

Destaques do jogo: Koulibaly (Camarões), Idrissa Gueyé (Camarões), Sarmiento (Equador) e Sarr (Senegal)

Destaque da Fase de Grupos: Idrissa Gueyé (Senegal), Enner Valência (Equador)

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