A MINERAÇÃO NÃO MATA, MAS SERÁ QUE ELA SALVA?
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A MINERAÇÃO NÃO MATA, MAS SERÁ QUE ELA SALVA?

Bom, para muitos esse artigo pode ferir o ego, mas convido você a sair um pouco da bolha da mineração e ler com outros olhos.

LÉO FARAH
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Bom, para muitos esse artigo pode ferir o ego, mas convido você a sair um pouco da bolha da mineração e ler com outros olhos.

Como muitos sabem sou capitão do corpo de bombeiros, uma instituição que tem 96% de aprovação da população. E atualmente, como estou de licença temporária prestando consultoria para esta área e outras que tratam de riscos e emergências, algumas pessoas que me conhecem não me veem com os mesmos olhos que viam no bombeiro.

Eu costumo dizer que um bom comandante deve enxergar a missão com os olhos dos seus soldados, ou seja, ele deve saber o que se passa na ponta da linha para tomar decisões, deve saber o que a vítima sente e através dessa dor achar soluções.

Para que isso fosse possível, agora no meu universo de consultoria, eu resolvi fazer uma enquete em outra rede social, e o resultado foi assustador a ponto de que uma pesquisa com mais de 6 mil respostas, 87% das pessoas dizerem que um diretor de alto cargo na mineração pensa mais no lucro que nas vidas, e essa mesma porcentagem não moraria próximo de uma área de mineração.

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Mais assustador ainda é que mais de 95% das pessoas pensam que as mineradoras não falam abertamente sobre os riscos (sim teve engenheiros e profissionais da área que concordaram com isso), e que tem foco nos lucros, não mas pessoas.

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Sim, esses dados são difíceis de digerir principalmente se você como indivíduo não pensa dessa maneira. Mas aqui cabe a minha análise, como bombeiro, como especialista em gestão de riscos e desastres e como geotécnico.

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Para tanto preciso de contar sobre o paradoxo da segurança. Em 1984, a marinha americana estava estudando porque alguns líderes performavam melhor que outros em diversas missões e porque alguns times tinham mais segurança que outros ao serem enviados para missões que nunca tinham enfrentado antes.

Eles descobriram que os times que tinham lideranças mais humildes e que diziam precisar da ajuda de cada indivíduo para achar uma solução, pois nunca haviam enfrentado aquele problema, tinham resultado melhor do que os times com líderes extremamente confiantes que fingiam saber como enfrentar a situação. 

Vários entrevistados  disseram entre outras palavras que  era claro quando uma liderança mentia, quando ela estava mais focada em se beneficiar e não beneficiar o time. Que por mais que o discurso fosse o coletivo as ações, e atitudes mostravam claramente a intenção de se beneficiar, e não em beneficiar o grupo.

Durante minha carreira como bombeiro eu sempre estive com as vítimas nos piores momentos das vidas delas, e nesse momento eu sempre me preocupava e pensava “sempre haverá algo que eu possa fazer a mais para que ela tenha uma boa imagem da corporação.” Mas como fazer isso por exemplo para um parente de uma pessoa que morreu?

Bom, a resposta mais óbvia, é: Perguntando!

-"Tem algo que eu poderia fazer agora?"

"-Você poderia estar do meu lado ao dar a noticia para minha esposa que meu filho morreu?" - me disse um pai uma vez. Veja bem, não é trazer o filho de volta, não são quantias infinitas de dinheiro, é presença.

Em incêndios onde tudo estava praticamente perdido, me preocupava em não inundar o local com água para preservar alguns bens, resgatar álbuns de fotografia e quadros de valor sentimental. Em Brumadinho por exemplo entramos em casa com estruturas totalmente abaladas, onde havia um risco enorme para nós, para resgatar uma imagem de uma Santa, brinquedos de infância e tantos outros objetos e memórias soterrados pelo rejeito.

Infelizmente eu nunca pude devolver a vida, mas pude dar esperanças, eu tenho certeza que todas as pessoas que olham a farda laranja, independe de ser o capitão Farah, olham com esperança e com a ideia de que “aquele ser humano, aquele BOMBEIRO fará de tudo para ajudar a sociedade, mesmo se precisar arriscar sua vida.”

Bom, e na mineração? Será que as pessoas olham para você pensando, eles trabalham duro, estudam bastante, fazem o possível para realizar uma mineração segura, sustentável, com foco nas pessoas e na comunidade. Ou eles pensam, essa empresa paga altos salários para seus funcionários destruírem tudo por onde passam, inclusive a vida das pessoas.

Quando decidi abrir uma consultoria eu o fiz porque realmente acredito a maioria das pessoas na mineração querem transformar vidas, passar a imagem de segurança e fazer com que a população em geral não tenha receio de estar perto de um empreendimento. 

Mas como mudamos isso ?

Primeiro, se desvista da camisa da companhia e vista a camisa dos impactados. 

Seja claro e transparente quanto aos impactos que irão causar, minimizar a dor e sonho dos outros é a maior besteira que você pode fazer.

Pergunte às pessoas o que é o melhor para ela, pare com a ideia idiota de querer achar que se conquista o individual com o coletivo, faça o contrário.

Atualmente com empresas de capital aberto é muito fácil para um cidadão comum saber quanto um diretor de alto escalão recebe de salário ou participação de lucros.  Se você tratar as pessoas como números elas irão procurar os seus números para saber o que valem.

Os serem humanos tem compaixão por pessoas que admitem erros, que se expõem quanto aos seus problemas. Quer construir confiança, pare de oferecer ajuda, peça ajuda. Sim, peça ajuda, se coloque na sua real posição, de que não sabe o que será melhor, e peça para que as pessoas te ajudem a achar solução, isso é o BÁSICO  da negociação.

E por ultimo, eu poderia escrever um livro sobre isso, mas tenha em mente que você  dever ter humildade para ouvir e jamais duvide da capacidade de alguém que vê seus princípios e família ameaçadora por aquele que demonstra não ter princípios.

  • LEONARD DE CASTRO FARAH - CAPITÃO DOS BOMBEIROS. 
  • BACHAREL EM CIÊNCIAS MILITARES.
  • MESTRE EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA DE DESASTRES - UFOP.
  • MESTRE EM ENGENHARIA DE DESASTRES - UNIVERSIDADE DO CHILE
  • PÓS GRADUADO EM GESTÃO DE EMERGÊNCIAS E DESASTRES.
  • DISASTER MANAGEMENT SPECIALIST - JICA TOKYO JP.
  • LEADERSHIP AND HIGH PERFORMANCE TEAM SPECIALIST -HARVARD BUSINESS SCHOOL.
  • ESPECIALISTA EM REDUÇÃO DO RISCO DE DESASTRE - ONU OCHA.
  • ESPECIALISTA EM GESTÃO DE DESASTRES - UNESCO.
  • CONSULTOR EM GEOTECNIA, EMERGÊNCIAS E DESASTRES;
  • CO-FUNDADOR DA HUMUS;