O PARADOXO DO SUCESSO PARA LIDAR COM EMERGÊNCIAS.
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O PARADOXO DO SUCESSO PARA LIDAR COM EMERGÊNCIAS.

O sucesso em situações de emergência é construído em cima de erros e falhas e talvez até de mortes.

LÉO FARAH
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Não é segredo pra ninguém, seja qual for a sua área de trabalho, que o que você busca é ter sucesso. Seja lá o que for sucesso pra você. As vezes é ser o mais reconhecido, estar entre o TOP 10 de alguma lista qualquer, ter a melhor avaliação dos clientes em determinado seguimento por mais uma outra lista que alguém criou, enfim, para que você entenda o paradoxo do sucesso é primordial que você pegue o papel e caneta e escreva e defina o que seria ter sucesso pra você.

Mas aqui quero tratar de profissionais que lidam diariamente com emergências e situações críticas , onde um erro pode custar vidas.

Dito isso, cabe analisar uma das instituições mais antigas do mundo, as militares. Queira você ou não, as instituições militares, seja exército, marinha, ou até aeronáutica que são mais recentes, duram até hoje por um motivo bem peculiar, elas entendem o paradoxo do sucesso. Não podemos negar que é uma estrutura, para muitos,  extremamente rígida, mas que reconhece essa rigidez e por isso desenvolveu o modelo de operações especiais afim de dar maior flexibilidade a este modelo, e aqui vale dizer que uma startup se assemelha muito aos modelos de grupos de operações especializados (mas não é a intenção deste artigo discorrer sobre isso).

Os modelos militares cumprem seus objetivos, se assim não fossem, não perpetuariam por tanto tempo. Mas basicamente duram pelo fato de que não focam no que dá certo. Focam no erro. Para os que tiveram a paciência de chegar até aqui, pode parecer um tanto quanto controverso, mas é preciso entender que o que “mata” sua instituição, organização, empresa, ou mesmo você é aquilo que você desconhece ou aquilo que já “matou” outros do mesmo seguimento, os erros.  Compreender os erros, as falhas, e fracassos são fundamentais para o sucesso.

Separo ainda a falha do fracasso pois entendo que todo mundo está susceptível à falhas, mas o fracasso é o ponto de depressão onde você, sua empresa ou seu negócio não conseguem mais lidar com a dor e acabam desistindo.

Dentro do corpo de bombeiros, que no Brasil é uma instituição militar, o que fazemos é constantemente treinar com tudo o que deu errado. Os treinamentos são basicamente baseados em operações de insucesso, que vitimaram pessoas ou que foram em uma análise cuidadosa, tidas como insatisfatória. Não entendam que é um culto ao erro, mas sim a intenção de entender o que levou à falha.

Uma operação que dá errada, não dá errada por um simples erro, existe uma serie de fatores que culminam no insucesso de uma missão. Entender isso faz com que fiquemos atento a estes fatores.

A operação de Brumadinho, por exemplo, que já dura a mais de 3 anos, está sem nenhum registro se quer de acidentes com bombeiros. Mas ela não teve acidentes baseados na vontade máxima em acertar, ela não teve acidentes pelo fato de termos aprendido com os erros de outras operações de rompimento de barragem, Mariana, Rio Verde, Itabirito, todas elas tiveram aprendizados importantíssimos com os erros e por consequente estudos de casos.

O seu crescimento ou de uma instituição começa primeiramente sabendo onde quer chegar, quais são os objetivos concretos da sua operação e estar preparado para isso e aqui vale enaltecer o serviço do bombeiro pois,  ele nunca sabe qual a operação  irá encontrar, pode ser um incêndio, um acidente com veiculo, um suicida, mas o fato é que nenhuma ocorrência é igual a outra, pelo fato de que as incertezas variam à medida que se muda inclusive as vitimas, cada uma tem um comportamento diante do caos, portanto a variável “pessoas envolvidas” é de uma incerteza gigantesca, o que faz com que treinemos sob as circunstancias que estão sob nosso controle, onde passaremos a dar um atendimento único para aquele caso. E o que está sob nosso controle? Equipe, equipamento e treinamento.

O objetivo então é fazer com que esta equipe e equipamentos estejam preparados para as mais diversas variáveis, para isso focamos no erro.

O Paradoxo do sucesso é admitir que os acertos da sua instituição foram construídos sob erros e até sob a vida de outras pessoas, que morreram em busca dos mesmos objetivos.

Quantos aviões e prédios não caíram para que aviões e edifícios mais seguros fossem construídos? Quantos pacientes não foram salvos por médicos às custas de outros que morreram. E aqui vale uma análise mais profunda. Os profissionais que não acompanham e não procuram saber a evolução do seu atendimento e do seu trabalho, jamais conseguirão aprender com erros. Imagine um diagnostico de um paciente sendo feito de maneira errada por um médico que não consegue ver a possibilidade da existência de um câncer e que anos depois, esse paciente, ao fazer uma consulta com outro medico, verifica que seu quadro se trata de um câncer, que antes não foi verificado. Nem médico nem paciente saberiam do erro, isso pelo fato de que alguns erros só podem ser verificados por uma mesma pessoa, em um mesmo caso e acompanhado por determinado tempo.

Por isso a importância de se produzir memorias e disseminar o conhecimento em áreas que podem de alguma maneira produzir, acidentes, vitimas ou emergências, mesmo que ambientais.

Diante desse contexto podemos ainda verificar que estagiários erram mais do eu profissionais, não pelo erro em si, mas pelo fato de que como são iniciantes tem a licença para errar e corrigir seus erros, alguns fatores óbvios saltam aos olhos dos menos experientes mais que se quer são cogitado por alguém sênior. E como corrigimos isso? Basta olhar para a instituição mais antiga do mundo.

Durante uma operação militar aprendemos que ao fazer o briefing da missão o chefe (mais antigo) dá a palavra ao seu time para que eles façam observações a cerca do que irão cumprir. A palavra é dada ao mais moderno (mais novo, menos graduado, o estagiário) para que ele fale e possa, sem ser influenciado pelos mais antigos, verificar o que pode dar de errado.  Assim o mais antigo é o último a falar.

O paradoxo do sucesso compreende, portanto, analisar erros, não os escondendo, mas sim explicitando os cenários que levaram à falha, e não focar no que deu certo. A análise minuciosa nos leva a perceber que nem sempre o que dá certo em uma instituição, dará certo na outra, porém, o que leva uma ao colapso é um fator que provavelmente irá fazer outras sucumbirem. Por isso quando se contrata uma consultoria um dos fatores mais importantes de se observar é: “quantos erros você conseguiu corrigir, ou em quantos caos você esteve presente?”.

Isso porque trabalhar em um processo que tudo deu certo é sim relevante, mas saber como lidar com erros, falhas é muito mais importante. Entenda que um profissional sênior de emergência é valorizado pelo acumulo de experiencias e correções que fez ao longo de sua carreira diante de situações criticas que enfrentou e por isso pode ser que algumas não tenham tido a melhor solução, mas ele esteve presente no processo e sabe os erros que não devem ser repetidos.

Estimular o estudo dos erros, e aprender com falhas é o fator que mais pode fazer com que uma empresa  que trabalha com cenários críticos tenha sucesso.

  • LEONARD DE CASTRO FARAH - CAPITÃO DOS BOMBEIROS. 
  • BACHAREL EM CIÊNCIAS MILITARES.
  • MESTRE EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA DE DESASTRES - UFOP.
  • MESTRE EM ENGENHARIA DE DESASTRES - UNIVERSIDADE DO CHILE
  • PÓS GRADUADO EM GESTÃO DE EMERGÊNCIAS E DESASTRES.
  • DISASTER MANAGEMENT SPECIALIST - JICA TOKYO JP.
  • LEADERSHIP AND HIGH PERFORMANCE TEAM SPECIALIST -HARVARD BUSINESS SCHOOL.
  • ESPECIALISTA EM REDUÇÃO DO RISCO DE DESASTRE - ONU OCHA.
  • ESPECIALISTA EM GESTÃO DE DESASTRES - UNESCO.
  • CONSULTOR EM GEOTECNIA, EMERGÊNCIAS E DESASTRES;
  • CO-FUNDADOR DA HUMUS;