QUANTO VALE UMA VIDA NA MINERAÇÃO?
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QUANTO VALE UMA VIDA NA MINERAÇÃO?

A resposta na ponta da língua é: NÃO TEM PREÇO.

LÉO FARAH
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A resposta na ponta da língua é: NÃO TEM PREÇO.

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Mas em se tratando de questões técnicas e cientificas, tem preço sim. Em 2017 apresentei minha dissertação de mestrado contabilizando o custo da operação da Barragem de Mariana por parte do CORPO DE BOMBEIROS x Número de vitimas. Para quem não está familiarizado, com a operação, na primeira hora resgatamos mais de 270 pessoas em Paracatú de Baixo antes que o rejeito atingisse a cidade que não havia sido alertada e, contrariando ordens, recomendações e a lógica retiramos mais de 500 pessoas de Bento Rodrigues antes que a outra barragem rompesse (recebemos um alerta da chefia da geotecnia que o risco era iminente de ruptura de Germano). Enfim, evitamos que, no mínimo, mais de 250 pessoas morressem antes do rejeito chegar em Paracatu.

Vários fatores contribuíram para isso. O sol não havia se posto, tínhamos 2 aeronaves disponíveis, eu conhecia o processo de lavra e rejeito e construção das barragens (estava fazendo mestrado em geotecnia à época na UFOP), o piloto da aeronave ignorou as ordens de retornar e se arriscou em pousar para tirar as pessoas, são tantos fatores que fizeram a diferença que JAMAIS poderão ser levados em conta para uma nova operação. Tanto que em Brumadinho tentamos fazer o mesmo mas não foi possível. Por não ter sido possível a conta não fechava, pois não haviam sobreviventes. Meu cálculo para o evento de Mariana então baseou-se no custo de 2 meses de operação e o número de vítima encontrada 18 das 19 (conto detalhes no livro Além da Lama).

7.241.619,98  esse foi o valor total da operação. Isso daria cerca de 400 mil reais para encontrar cada vitima, que infelizmente ja estava sem vida. Esse custo foi só do CBMMG, a estimativa é de que o valor total da operação, dos gastos de todos os órgão e empresa chegue a 20 vezes este valor.

Um estudo feito recentemente dos custos das operações internacionais de resgate de terremotos de 2010 a 2015 em que os EUA enviaram grupos de resgate, mostra que cada vida salva custou U$936.686 aos cofres americanos. Aqui já tratamos daqueles que saíram com vida, sem contar os custos de pós resgate.

Ou seja, a vida tem o custo.

A análise de risco mundialmente é feita como R=PxVxE Risco é igual ao Perigo x Vulnerabilidade X Exposição. Dificilmente na mineração teremos risco 0. Temos que tentar atuar para minimizar os perigos, diminuir Vulnerabilidade e em se tratando de população ZERAR exposição. Atualmente é INADIMISSÍVEL aceitar qualquer risco se você tem a opção de zerar exposição, por menor que o perigo seja.

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O que os números nunca irão quantificar são sonhos desfeitos, a dor da lagrima de uma mãe, ou a perda de um álbum de casamento, (sim eu me arrisquei no rejeito para encontrar fotos para uma família que perdeu tudo inclusive vidas em Brumadinho).

Enquanto vidas puderem ser trocadas por números, as contas nunca irão fechar, e os gestores de risco estarão fadados ao fracasso na sua missão.

  • LEONARD DE CASTRO FARAH - CAPITÃO DOS BOMBEIROS. 
  • BACHAREL EM CIÊNCIAS MILITARES.
  • MESTRE EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA DE DESASTRES - UFOP.
  • MESTRE EM ENGENHARIA DE DESASTRES - UNIVERSIDADE DO CHILE
  • PÓS GRADUADO EM GESTÃO DE EMERGÊNCIAS E DESASTRES.
  • DISASTER MANAGEMENT SPECIALIST - JICA TOKYO JP.
  • LEADERSHIP AND HIGH PERFORMANCE TEAM SPECIALIST -HARVARD BUSINESS SCHOOL.
  • ESPECIALISTA EM REDUÇÃO DO RISCO DE DESASTRE - ONU OCHA.
  • ESPECIALISTA EM GESTÃO DE DESASTRES - UNESCO.
  • CONSULTOR EM GEOTECNIA, EMERGÊNCIAS E DESASTRES;
  • CO-FUNDADOR DA HUMUS;