UM ERRO QUE SALVA VIDAS - O QUE VOCÊ NÃO FAZ TAMBÉM PODE MATAR.
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UM ERRO QUE SALVA VIDAS - O QUE VOCÊ NÃO FAZ TAMBÉM PODE MATAR.

No dia 05 de Novembro de 2015 recebemos uma ligação da central dos Bombeiros que informava que uma barragem em Mariana havia se rompido e uma escola com mais de 300 crianças tinha sido totalmente soterrada.

LÉO FARAH
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No dia 05 de Novembro de 2015 recebemos uma ligação da central dos Bombeiros que informava que uma barragem em Mariana havia se rompido e uma escola com mais de 300 crianças tinha sido totalmente soterrada.

Primeira decisão - fomos de helicóptero e não de viatura, já passava de 15 horas e provavelmente não conseguiríamos chegar lá a tempo por via terrestre.

Segunda decisão - Assim que sobrevoamos Bento Rodrigues, várias pessoas acenavam e pediam por socorro, decidimos não pousar lá e seguimos o fluxo do rejeito.

Avançamos no mesmo caminho do rejeito e vimos "A ONDA" derrubando eucaliptos, arrastando casas. A força era descomunal.

Terceira decisão - Avistamos a cidade de Paracatú de Baixo, as pessoas também acenavam E SORRIAM não sabiam o que estava acontecendo e decidimos, mesmo com risco enorme de sermos engolidos pela ONDA, pousar ali e retirar o maior numero de pessoas possível.

Após fazer o que foi possível para retirar o maior número de pessoas de Paracatu de Baixo, mesmo com alerta de risco iminente de rompimento da outra barragem Germano, decidimos retornar ate Bento Rodrigues.

Quarta decisão - Mesmo com risco iminente de ruptura de Germano, decidimos ficar em Bento Rodrigues e tentar retirar mais de 500 pessoas que estavam lá.

Existem vários fatores que talvez vocês não saibam nessa historia relacionados a cada uma das decisões. Será que ao decidir seguir o fluxo do rejeito na Decisão 2 alguém se feriu ou foi arrastado? Será que ao decidir pousar em Paracatu de Baixo na Decisão 3 eu não estaria quebrando a regra básica de risco x beneficio e exposto o único recurso de salvamento disponível? Será que todas as pessoas de Paracatu tinham sido salvas depois de decidimos voltar? Será que ao decidir pousar em Bento Rodrigues Decisão 4 com uma barragem em risco iminente eu não estaria novamente quebrando regras básicas de salvamento arriscando o meu único recurso?

O fato principal é, hoje eu consigo responder todas estas questões porque não morremos nessa operação. Eu consigo responder todas estas questões porque decidir não ir de carro na Decisão 1. Mas o mais importante, eu consigo dizer tudo isso hoje nas apresentações que fazemos pois nós fizemos um estudo de caso, para detalhar cada uma dessas ações, e procurar falhas, não para apontar dedos, ou para achar culpados, mas para que CASO OUTRA BARRAGEM rompesse nós pudéssemos salvar mais vidas.

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TODO erro custa vidas nos bombeiros?

Depende, pousar em uma cidade com uma barragem com risco iminente de romper era um erro conceitual e de procedimento, mas não foi um erro MORAL. Deixar de atuar com vidas com risco iminente ao ver pessoas pedindo por socorro era um erro técnico e de procedimento, mas salvou vidas em Paracatu. Erros são conceitos predefinidos diante de procedimentos ordinários. A partir do momento que você tem situações extraordinárias seu erros (no conceito) podem salvar vidas.

Qual é o problema? A OMISSÃO. Saber que algo está errado e deliberadamente, não agir. Se eu sei que uma residência está em risco , que há um perigo, e as pessoas ali estão vulneráveis, eu tenho os recursos necessário para essa situação, eu devo agir. O fator que muda tudo são  os recursos, se eles são escassos  e há  objetivos que são prioritários a serem cumpridos, você deve optar pelo menor dano colateral. Mas veja, você não está sendo omisso, você conhece os fatores e tomou uma decisão, é diferente de:

Eu sei que a casa tem risco, sei que as pessoas estão vulneráveis, existe um perigo (mesmo que mínimo), tenho os recurso, mas não farei NADA. Pode ser que nada aconteça, mas se um dia acontecer, teremos responsabilidade SIM pela decisão tomada.

O mais importante nessa história que aprendi foi. FAÇA UM ESTUDO DE CASO procure entender tudo que deu certo (porquê?) tudo que deu errado (porquê), sem querer achar culpados, mas exatamente por entender que OUTRA BARRAGEM pode romper e caso aconteça, você estará preparado para pousar ou não na próxima cidade.

  • LEONARD DE CASTRO FARAH - CAPITÃO DOS BOMBEIROS. 
  • BACHAREL EM CIÊNCIAS MILITARES.
  • MESTRE EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA DE DESASTRES - UFOP.
  • MESTRE EM ENGENHARIA DE DESASTRES - UNIVERSIDADE DO CHILE
  • PÓS GRADUADO EM GESTÃO DE EMERGÊNCIAS E DESASTRES.
  • DISASTER MANAGEMENT SPECIALIST - JICA TOKYO JP.
  • LEADERSHIP AND HIGH PERFORMANCE TEAM SPECIALIST -HARVARD BUSINESS SCHOOL.
  • ESPECIALISTA EM REDUÇÃO DO RISCO DE DESASTRE - ONU OCHA.
  • ESPECIALISTA EM GESTÃO DE DESASTRES - UNESCO.
  • CONSULTOR EM GEOTECNIA, EMERGÊNCIAS E DESASTRES;
  • CO-FUNDADOR DA HUMUS;