Por que a gasolina é tão cara no Brasil?
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Por que a gasolina é tão cara no Brasil?

Por que os combustíveis como gasolina e diesel são tão caros no Brasil? Somente os impostos não explicam os preços. Clique e entenda.

Leonardo Novaes
5 min
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É tudo culpa dos impostos?

Muito se fala sobre o impacto dos altos impostos praticados no setor petrolífero Brasileiro, o que justificaria o motivo de a gasolina ser tão cara no Brasil. Mas esse fator por si só não é capaz de explicar os altos preços do combustível que chegam ao consumidor final. Claro, o imposto pesa, e muito. Afinal, quase 50% do preço da gasolina é composto pelos impostos federais (15,5%), estaduais (28,3%) e municipais, que variam para cada município. Mas isso provavelmente você já sabe.

O que você provavelmente não sabe, é que a tão falada autossuficiência do Brasil em petróleo serve apenas quando falamos em quantidade de extração de barris. O país produz mais barris de petróleo do que consome, isso é verdade. Mas infelizmente, somos incapazes de processar toda essa quantidade de petróleo, já que as refinarias Brasileiras não estão preparadas para o tipo de petróleo extraído aqui. Com isso, o petróleo é enviado para fora, em sua maioria para a China, e o Brasil importa petróleo principalmente do Oriente Médio.

Infelizmente quando as refinarias Brasileiras foram construídas, a sua maioria antes de 1980, o país ainda extraía uma quantidade irrelevante de petróleo. Logo, essas refinarias foram construídas focadas em refinar este petróleo que era importado. Além do petróleo do oriente médio, o Brasil também importa produto final, como a gasolina e o diesel.

Para contornar essa situação, atrair concorrência de diversas empresas junto ao investimento em tecnologia na área do refino é fundamental. No entanto, cabe lembrar que a última vez em que o governo Brasileiro tentou comprar uma refinaria capaz de processar o petróleo extraído aqui, as coisas não saíram muito bem, que é o caso da refinaria de Pasadena, envolvida no escândalo do Petrolão.

Capacidade de refino e concorrência no setor, quanto é destinado à produção de gasolina?

O refino é a área da indústria que transforma o petróleo no produto final, inclusive nos combustíveis gasolina e diesel. O petróleo também está presente em muitos produtos que você usa no dia a dia, como plásticos, tecidos, tintas, entre outros.

Enquanto esse artigo é escrito em janeiro de 2022, o país possui 18 refinarias, sendo 13 da Petrobrás. As 13 estatais representam 98,2% da produção nacional de combustível. Apesar das tentativas do governo de vender algumas dessas refinarias à iniciativa privada, o fato de a Petrobrás possuir o monopólio dos preços por possuir quase toda a infraestrutura estabelecida, acaba afastando o interesse das empresas de entrar nesse mercado.

Esse monopólio também ajuda a manter os preços elevados, já que a presença de mercado da Petrobrás é enorme. De todos os derivados de petróleo consumidos no Brasil, 80% vem dessa produção interna (dos quais a estatal produz 98%), e 20% são importados.

Em resumo, por mais que a concorrência seja permitida, as barreiras de entrada acabam dificultando o investimento externo. Com a estatal controlando os preços e possuindo subsídios do governo federal, e a insegurança jurídica que já estamos acostumados, fica difícil imaginar uma mudança neste cenário.

Evolução do preço médio da gasolina no Brasil
Evolução do preço médio da gasolina no Brasil

Mudanças recentes tentam resolver o problema

Em diversos momentos de sua história, era comum a empresa vender combustíveis abaixo do preço de mercado, ou mesmo o governo congelar os preços, o que constantemente afastava investidores e concorrentes externo, uma vez que jamais poderiam competir com estes preços.

A partir do governo Michel Temer, as políticas de preços da Petrobrás sofreram alterações. Se antes ela controlava os preços dos combustíveis arbitrariamente, após 2016, esse controle passou para a flutuação. Isso significa que, os preços dos combustíveis produzidos em suas refinarias oscilam de acordo com o preço dos barris de petróleo no mercado internacional, e também com a variação cambial em relação ao dólar.

Essas políticas de preços continuaram no governo Bolsonaro, e posteriormente foram lançados programas para venda de refinarias da empresa. A ideia é vender 8 das 13 refinarias da estatal. Tais medidas foram adotadas com a pretensão esperando uma entrada de agentes externos, que irão implementar uma competição no mercado. Com mais empresas investindo em infraestrutura e P&D, o governo espera melhorar os produtos/serviços.

Conclusão

Considerando o histórico do país de manter muitas estatais, bem como uma certa resistência cultural quando se fala em privatização da Petrobrás, já é um grande avanço a estatal se desfazer de alguns ativos. Campanhas como “o pré-sal é nosso” acabam desviando o foco dos números, e criando um ambiente mais passional, muito mais pautado em sentimentalismo.

No entanto, a realidade cobra seu preço. As constantes altas no preço dos combustíveis mostram que o que foi feito até hoje não se converte em bons resultados práticos. Quem sabe com a concorrência surgindo no mercado de refino e melhorando os produtos/serviços que chegam ao consumidor final, isso acabe resultando em uma mudança de pensamento, e a privatização receba uma boa dose de apoio popular.

Fora isso, a Petrobrás é a maior empresa do país em receita, e a segunda maior em valor de mercado, perdendo apenas para a Vale. Ainda há muito a ser feito, mas parece que a empresa finalmente encontrou um caminho.

E você, tem Petrobrás na sua carteira?

Artigo escrito para o Maria vai com a Bolsa.